Mathieu van der Poel vai adiar o muito aguardado regresso ao BTT por uma semana, optando por falhar a prova Bike the Rock, em Heubach (Alemanha), prevista para 18 de maio, e escolhendo como palco de regresso a etapa da Taça do Mundo de XCO em Nové Město, na República Checa.
Apesar do ligeiro adiamento, o plano mantém-se intacto: conquistar um título mundial numa quarta disciplina. Van der Poel já soma sete camisolas arco íris em ciclocrosse, uma em estrada e uma em gravel. O objetivo final da temporada será o Campeonato do Mundo de BTT, a realizar-se depois da Volta a França, que faz parte do seu calendário.
Numa análise publicada pela Bici.PRO, o medalhado olímpico e antigo campeão do mundo de XCO Marco Aurelio Fontana avaliou o regresso do holandês ao BTT, destacando as exigências específicas de uma disciplina que evoluiu de forma significativa nos últimos anos.
“Ele vai encontrar uma corrida muito mais técnica, mais tática e com dinâmicas de grupo que se aproximam do que se vê no ciclocrosse ou na estrada”, explicou Fontana. “Há hoje uma nova forma de correr: mais refinada, com jogo de equipa, uma fluidez e elegância na pilotagem que pode surpreendê-lo.”
Van der Poel não compete em BTT desde os Mundiais de Glasgow, onde sofreu uma queda prematura. Fontana sublinha que apesar dele ter um motor tremendo, a maior incógnita reside na sua forma de conduzir a bicicleta.
“Ele tem a vantagem do motor tremendo que traz da estrada e do ciclocrosse. A desvantagem é a falta de horas que ele passa com a bicicleta de montanha. Ele não é particularmente flexível na condução e já mostrou algumas incertezas técnicas. É aí que precisa de trabalhar.”
Fontana recorda as quedas em Tóquio 2021 e Glasgow 2023 como exemplos de como a sua leitura técnica do terreno pode ser um ponto frágil: “Caiu numa ponte em Tóquio que não era nada de especial. Isto demonstra que precisa de mais fluidez, e isso só se ganha com treino específico.”
Ainda assim, o antigo especialista italiano reconhece que Van der Poel traz uma densidade física e táctica que poucos no BTT conseguem igualar: “Nenhum atleta do BTT tem a quilometragem e o histórico que ele traz da estrada e do ciclocrosse. Se conseguir adaptar-se rapidamente, é um candidato natural ao pódio.”
Heubach, o local inicialmente previsto para o seu regresso, teria oferecido um cenário mais favorável, com subidas longas e menos tecnicismo nas descidas. “Era um percurso ideal para ele ganhar ritmo e sensibilidade. Mesmo molhado, não seria tecnicamente complexo. O desafio real para o Mathieu está nos percursos modernos, mais explosivos e técnicos.”
Nové Město, por outro lado, é um circuito que Van der Poel conhece bem, mas que também evoluiu: “Mesmo que se parta de trás, é possível recuperar graças às secções largas. Mas hoje, ele vai encontrar rivais mais rápidos, mais técnicos e ainda mais determinados.”
Para Fontana, o regresso de Van der Poel ao BTT é um momento de celebração para a modalidade, mas também um desafio genuíno para o ciclista holandês: “Será bom vê-lo de volta. Mas o nível subiu, e ele terá de estar preparado para ver alguns adversários a voar ao seu lado.”