Em pleno Campeonato do Mundo de 2025 e após presenciar o terceiro título de Remco Evenepoel na prova de contrarrelógio, é pertinente lembrar outro grande campeão que, com seu estilo e carisma, marcou uma era no ciclismo:
Peter Sagan.
Três títulos mundiais, sete camisolas verdes na
Volta a França e vitórias em monumentos como a
Volta à Flandres e o
Paris-Roubaix, não só consolidaram o seu estatuto lendário, como também o tornaram um ícone mediático de uma dimensão que transcende o desporto.
O eslovaco Peter Sagan é conhecido não só pelas suas proezas na bicicleta, mas também pela sua capacidade de gerar manchetes fora da estrada. Numa conversa recente com o
Topcycling, compartilhou detalhes da sua vida, no pós reforma do ciclismo profissional, deixando claro que seu afastamento não é o fim da sua presença nos meios de comunicação.
"Hoje trabalho com os meus patrocinadores e participo em vários eventos, granfondos e apresentações que me mantêm próximo do ciclismo. Se for convidado para uma corrida especial, estou sempre disponível", disse Sagan, que conseguiu manter um equilíbrio entre o desporto e a vida pessoal.
Peter Sagan foi um dos melhores ciclistas de sua geração.
O impacto da fama
Embora a sua vida de reformado esteja longe de ser monótona, Peter Sagan não esconde que a parte mais difícil da sua carreira foi a fama. Num setor onde a exposição aos media é constante, o eslovaco percebeu que a estrelato tem um preço.
"A fama é difícil de lidar. Todos querem ser famosos hoje em dia, mas ser famoso nem sempre é uma vantagem. Se tivesse que escolher, preferiria ser rico e não famoso", confessa com um riso. No entanto, Sagan também reconhece que a fama lhe abriu portas e permitiu-lhe viver experiências únicas, como participar num programa de dança na televisão, o que mostra a sua flexibilidade para se adaptar a novos desafios.
Sagan, como muitos de sua geração, testemunhou a transição para o que conhecemos hoje como "ciclismo moderno". Esta era de especialização, em que o treino e a nutrição se tornaram quase ciências, não foi fácil de assimilar para um ciclista acostumado a treinar pelos seus próprios critérios.
"Em 2014, quando a UCI obrigou as equipas a terem pelo menos três técnicos, a dinâmica mudou. Disseram-me que tinha que ser um melhor trepador sem perder o meu poder nos sprints, mas não deu certo. 2014 foi a minha pior temporada", recordou.
A sua relação com os treinadores nem sempre foi fácil. A sua confrontação com Bobby Julich em 2015 foi uma das tensões mais notórias da sua carreira. "Após quatro meses na Tinkoff, numa altura em que não estava a vencer, ele disse-me que eu estava acabado. Eu respondi que iria seguir meu próprio caminho. Desde então, não quero vê-lo na minha vida", contou de maneira direta.
No entanto, a chegada do treinador Patxi Vila mudou a dinâmica. Com ele, Sagan encontrou um equilíbrio entre o plano de treinos e os seus próprios instintos, que o levaram a reconquistar a forma e a ganhar de volta os três títulos mundiais entre 2015 e 2017.
Peter Sagan também refletiu sobre as regras impostas pelo UCI, que mudaram a forma como o pelotão compete. Limitações nas posições aerodinâmicas, como a "super tuck", e regras sobre guias apertadas, são algumas das alterações que a UCI implementou nos últimos anos para proteger os ciclistas.
Peter Sagan, a lenda do ciclismo
Embora muitos no pelotão tenham questionado estas regras, Sagan compreende-as numa perspectiva mais ampla. "É como na Fórmula 1. Pode-se assistir às corridas, mas não se conduz um carro de F1 na rua. Nem todas as pessoas têm a mesma noção do que é o ciclismo profissional", afirmou.
Embora os avanços tecnológicos tenham sido uma constante na sua carreira, Sagan enfatizou que as ferramentas que mais o ajudaram foram simples, mas eficazes. "O monitor de frequência cardíaca foi fundamental quando eu era jovem. Depois, os medidores de potência e os travões de disco fizeram a diferença, mas o que realmente me permitiu atuar no meu melhor foi a confiança que eu tinha na minha bicicleta Specialized", disse. Para Sagan, um equipamento de alta qualidade sempre foi um fator diferenciador que o ajudou a manter-se no topo do ciclismo mundial por tanto tempo.