O ciclismo belga perdeu uma das suas figuras mais marcantes. Walter Godefroot, vencedor de 10 etapas na
Volta a França, bicampeão da Volta à Flandres e também da
Paris-Roubaix, morreu ontem aos 82 anos. Atleta de enorme versatilidade, conseguiu deixar a sua marca numa era dominada por nomes como
Eddy Merckx e Roger De Vlaeminck, e prolongou o seu legado como diretor desportivo da histórica Team Telekom, onde viria a conquistar o Tour de 1997 com Jan Ullrich.
Rival e amigo de Merckx
Entre os muitos que prestaram homenagem está o próprio Eddy Merckx, que recordou o rival e companheiro de estrada com emoção em declarações ao Het Laatste Nieuws: “O Walter era um excelente ciclista, medalha de bronze nos
Jogos Olímpicos, mas sobretudo um adversário formidável nas Clássicas. Venceu-me na Liège-Bastogne-Liège de 1967, numa corrida sob chuva e trovoada em Rocourt. Foi mais rápido do que eu na chegada e também me bateu duas vezes no Campeonato da Bélgica.”
Merckx destacou ainda a versatilidade de Godefroot. “Era um ciclista muito completo. Não era um verdadeiro trepador, mas defendia-se bem, porque era um atleta muito forte. Um campeão, muito mais do que apenas um sprinter. O seu palmarés é magnífico. Em 1969 ganhou-me a Paris-Roubaix.”
Após pendurar a bicicleta, Godefroot dedicou-se ao comércio de bicicletas, antes de regressar ao pelotão como diretor desportivo. Na Telekom, lançou jovens talentos - entre eles
Axel Merckx, filho de Eddy, que ali se estreou como profissional - e consolidou uma das estruturas mais dominantes da década de 1990.
“Walter também foi um grande chefe de equipa, ganhou o Tour com o Ullrich. O meu filho Axel começou a carreira na sua equipa, que deu oportunidades a muitos jovens ciclistas”, recordou Merckx.
Uma despedida sentida
Merckx contou ainda que manteve contacto com Godefroot ao longo dos anos, inclusive em visitas recentes acompanhadas por Roger De Vlaeminck. “Até há pouco tempo falávamos regularmente. No ano passado e este ano visitei-o com o Roger. A última vez foi em junho. Quando telefonei recentemente, a sua mulher disse-me que não estava bem. A notícia da sua morte deixou-me profundamente comovido.”
O “Leão de Flandres”, como era conhecido, deixa uma herança de garra e inteligência táctica que marcaram gerações. Mesmo debilitado fisicamente, continuou a ser lembrado como uma figura de carácter e uma referência do ciclismo belga.