"João Almeida não está a agir como um verdadeiro líder" - José De Cauwer afirma que os problemas da Vuelta da Emirates são mais profundos

Ciclismo
quarta-feira, 03 setembro 2025 a 9:44
Almeida
À entrada para o primeiro dia de descanso da Volta a Espanha 2025, o português João Almeida ocupa o 3º lugar da geral, mas o ambiente na UAE Team Emirates - XRG está sob forte escrutínio. A perda de 24 segundos frente a Jonas Vingegaard em Valdezcaray abriu espaço para críticas duras, sobretudo pela imagem de Almeida a lutar sozinho, sem apoio da equipa.
O comentário mais contundente veio de José De Cauwer, histórico selecionador e analista belga. “Para mim, Almeida não está a comportar-se como um verdadeiro chefe de equipa. É preciso ficar perto de Vingegaard. Se não o conseguimos seguir, tudo bem. Mas se nem sequer estás na fotografia, bem, então… és o Almeida”, atirou no Sporza.

O diagnóstico do próprio Almeida

O português não fugiu à realidade e admitiu a falta de apoio dos colegas no momento decisivo. “Hoje faltou-me um pouco de apoio da equipa. No final, não estava ninguém comigo. Estávamos mal posicionados. Eles arrancaram com uma força incrível e foi difícil reduzir a diferença logo de seguida. Senti-me bem na subida, mas o Vingegaard estava a voar”, declarou ao Eurosport.
As suas palavras ecoam a sensação de isolamento que marcou a etapa: um líder sem gregários à vista, exposto frente a uma Visma que atacou em bloco e com convicção.

Ordem contra dispersão

Para De Cauwer, a diferença não se resume a pernas, mas a cultura de equipa. “A Team Visma | Lease a Bike é claramente a força controladora desta corrida. Vingegaard é o melhor ciclista e tudo está construído em torno desse objetivo: vencer em Madrid. Eles mantêm-se juntos, trabalham juntos. Com a Emirates não é assim. Não diria que é caótico, mas quase. Um ganha uma etapa e desaparece. Outro faz o mesmo. Não se pode chamar a isso uma equipa de classificação geral.”
A crítica aponta diretamente para a multiplicidade de objetivos dentro da UAE. Juan Ayuso já venceu uma etapa, Marc Soler procura liberdade nas montanhas, Jay Vine soma protagonismo próprio. Mas ninguém parece disposto a sacrificar-se por um Almeida que, no papel, é o líder designado.

Liderança à prova

Embora o português continue no pódio provisório da geral, De Cauwer alerta para um risco maior: a falta de postura de liderança. “Se és o líder, tens de te comportar como tal. Mesmo que não sejas o mais forte, tens de estar presente nos momentos-chave: visível, pró-ativo, a comandar. Neste momento, Almeida está à deriva. E não é assim que se ganha uma Grande Volta.”
A observação vai além da tática: é sobre autoridade e presença em corrida. Almeida, reconhecido pelo seu estilo metódico e resistente, raramente é visto a impor ritmo ou a marcar território. Num cenário onde Vingegaard e até Ciccone correm de forma incisiva, a sua postura discreta começa a levantar dúvidas.

O que está em jogo

Apesar das críticas, De Cauwer não descarta Almeida. “Ele ainda pode ganhar esta Vuelta. Mas se quer estar na luta na terceira semana, algo tem de mudar. Porque se o Vingegaard já anda assim agora, o que vai acontecer quando chegarmos às montanhas mais duras?”
O português enfrenta agora um dilema: reafirmar-se como chefe de fila e exigir a dedicação da equipa, ou continuar vulnerável a cada ataque da Visma. Para já, a montanha mais alta da UAE não está no percurso da Vuelta, mas dentro da própria estrutura: transformar um conjunto de talentos dispersos numa equipa que pedala por um único objetivo.
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