Este fim de semana,
Puck Pieterse vai alinhar em Crans-Montana, na Suíça, para defender o seu título mundial de
BTT. Com apenas 23 anos, a holandesa continua a ser um dos mais brilhantes talentos do ciclismo, embora a tentativa de manter a Camisola Arco-Íris esteja a ser parcialmente ofuscada pelo mediatismo em torno da ambição de Mathieu van der Poel em acrescentar a coroa do BTT ao seu vasto palmarés. Ainda assim, o desafio de Pieterse merece destaque, mesmo que a preparação tenha ficado aquém do ideal.
De acordo com o selecionador nacional dos Países Baixos, Gerben de Knegt, a preparação de Pieterse tem sido marcada por altos e baixos. O técnico admite que a holandesa não chega ao
campeonato do mundo na forma desejada, deixando um aviso de cautela quanto às suas hipóteses de repetir o título.
"Vamos começar pelo princípio: a Puck não está na sua melhor forma", disse ao site Wielerflits. "Ela está frustrada com isso e não é bom. É a primeira vez na sua carreira que não está na forma que gostaria de estar. No entanto, devo dizer que fez grandes progressos em comparação com a Taça do Mundo de Les Gets, há duas semanas. O resultado da Short Race da passada terça-feira foi um pouco distorcido. Tecnicamente, ela não esteve tão bem no rock garden, mas fechou sempre todos os intervalos. Teve o azar de estar logo atrás daquele acidente, porque isso arruinaria a sua corrida."
Demasiada estrada na equação?
A época de Pieterse tem sido dividida entre estrada e BTT, uma aposta ambiciosa que, segundo De Knegt, poderá estar a afetar o seu rendimento. Os seus arranques explosivos, outrora imagem de marca, poderão não surgir com a mesma força.
"Esperamos, claro, que no sábado tudo possa de repente encaixar. Penso que é possível. Isso também depende do seu estado mental. Ela tem de aceitar que não pode fazer um arranque estrondoso como faz normalmente e que é fisicamente a melhor. Terá de correr de forma mais táctico e experimentar um pouco mais a corrida", explica o selecionador.
"Mas ela não está habituada a isso e também não gosta", prossegue. "Acho que a Puck estava um pouco cansada no início da Volta a França Feminina porque provavelmente exagerou no treino para estar bem lá. Mas pode ser uma combinação de ter mordido mais do que podia mastigar, porque é isso que acontece, claro, e depois, se se ultrapassa o limite... Bem, é o que acontece."
Lições de uma época exigente
Apesar dos contratempos, De Knegt considera que Pieterse retirou ensinamentos importantes desta fase mais difícil. O treinador destaca a sua maturidade e capacidade de análise.
"A Puck é uma mulher inteligente. Ela é muito boa a identificar as suas próprias fraquezas. Acho que não se vai deixar apanhar daquela maneira outra vez. Como atleta, estamos sempre a equilibrar-nos no limite: ‘Se eu fizer ainda mais agora, será que isso me vai tornar melhor?’ Por vezes, caímos no limite, não achas? No início desta semana, ela disse-me que estava orgulhosa de si própria pelo que mostrou com a Camisola Arco-Íris e que tinha gostado. Mas ela não é a principal favorita no sábado, que isso fique claro."
Parte do realismo do técnico prende-se também com o nível da concorrência. Pieterse enfrenta adversárias de topo que parecem chegar ao pico no momento certo.
"Ela tem estado a competir a um nível muito elevado desde há semanas. Alessandra Keller fez um Campeonato do Mundo de Corrida Curta surpreendentemente bom e foi maravilhoso ver como o público da casa a apoiou. Keller está definitivamente em ascensão. Mas para mim, Rissveds é verdadeiramente a número um. Ela também foi sublime no Campeonato da Europa no mês passado e voltou a sê-lo em Les Gets."
Objetivo: desempenho digno
Para Pieterse, a meta pode não passar pela revalidação do título, mas sim por assinar uma prestação que espelhe o seu verdadeiro valor, mesmo em condições adversas.
"Se ela terminar em quinto, sexto ou sétimo lugar, simplesmente terá feito uma grande corrida", sublinha De Knegt. "Isso pode parecer cauteloso para o mundo exterior. As pessoas vão dizer isso, mas temos de ser honestos. Se ela fizer isso e for competitiva... Eu digo sempre: se podemos terminar em quinto, também podemos terminar em terceiro — dependendo da corrida. Mas, há duas semanas, em Les Gets, ela estava muito longe do vencedor em termos de tempo, embora num percurso difícil. É por isso que temos de ser realistas."
Apesar das dúvidas quanto ao seu pico de forma, Puck Pieterse chega a Crans-Montana com a determinação de honrar a Camisola Arco-Íris. Independentemente do resultado final, a experiência deste ano poderá revelar-se decisiva para o futuro de uma das mais promissoras ciclistas de BTT do mundo.