"Algo que muito poucos conseguem hoje, com Jonas e Tadej a dominarem" Ben O'Connor recorda as 2 semanas de liderança em 2024 e as ambições para a Volta a Espanha 2025

Ser um ciclista de classificação geral no ciclismo moderno tornou-se uma missão quase impossível para muitos corredores. A exigência física é cada vez maior e, acima de tudo, a presença de figuras dominantes como Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard reduz drasticamente as hipóteses de outros aspirantes. Nesse contexto, alguns, como Ben O’Connor, têm procurado o sucesso através de fugas inteligentes e da versatilidade em Grandes Voltas.

O australiano da Team Jayco AlUla viveu em 2024 um dos pontos mais altos da sua carreira, quando vestiu durante duas semanas a camisola vermelha da Volta a Espanha, após vencer em Yunquera. "Já tinha ganho etapas em Grandes Voltas, mas Yunquera foi especial. Vestir a camisola vermelha, tão emblemática, durante duas semanas é algo que muito poucos conseguem hoje em dia, com o Jonas e o Tadej a dominarem", recordou em entrevista à Marca. "Manter a liderança durante tanto tempo foi, como eles disseram, uma mudança de vida. Não sei se alguma vez voltarei a vestir a camisola de líder durante duas semanas seguidas, mas é uma experiência que levarei comigo para o resto da minha carreira".

Além desse feito, O’Connor foi segundo classificado na Vuelta e repetiu a posição no Campeonato do Mundo de Zurique, apenas atrás de Pogacar, reforçando a sua consistência no topo.

Apesar de reconhecer a superioridade de Pogacar e Vingegaard, O’Connor acredita que o inesperado continua a fazer parte do ciclismo: "Nunca se sabe. Somos todos humanos, ninguém é perfeito, mesmo que alguns cheguem perto. No ciclismo, há muitas variações. No ano passado, parecia que o Roglic tinha a corrida sob controlo e, de repente, alguém como eu acabou com menos cinco minutos na classificação geral. Com uma leitura mais inteligente, poderia ter estado ainda mais perto de a ganhar. Tudo pode acontecer. Se queremos ganhar a classificação geral, temos de fazer um bom trabalho todos os dias, às vezes sentimo-nos melhor, outras vezes pior, mas não podemos escolher apenas duas etapas".

Depois de ter conseguido um 11º lugar na Volta a França, com direito a vitória de etapa, o australiano olha para a presente edição da Vuelta com objetivos claros: lutar pelo pódio e, se possível, repetir vitórias. "O Chris Harper e o Eddie Dunbar são uma grande ajuda nas montanhas, o Eddie ganhou o ano passado em Picón Blanco, e à volta deles temos muitos colegas de equipa bem colocados para controlar as coisas. É um grupo divertido, depois de cada etapa, à mesa, podemos falar durante horas. Esta atmosfera cria espírito de equipa e resultados".

O líder da Jayco sublinhou que ser candidato à geral não significa abdicar da agressividade: "Ir para a classificação geral não significa deixar de atacar, significa escolher riscos calculados", explicou. "No ano passado, corri um grande risco ao entrar na fuga e expor-me para ganhar a etapa e recuperar tempo depois de alguns dias maus. Resultou. No Tour de 2021 fiz algo semelhante nas montanhas, ganhei a etapa, recuperei todo o tempo possível e terminei em quarto lugar. Ser agressivo deu-me os meus melhores resultados... mas sempre com a cabeça fria".

Aos 29 anos, O’Connor sente-se na fase de maturidade da carreira e não esconde a ambição de continuar a subir patamares: "Ficaria feliz se pudesse continuar a atuar como no ano passado. Quero continuar a ganhar, e a ganhar em grande. A experiência do pódio na La Vuelta foi a prova de que um grupo pode definir um objetivo e alcançá-lo", disse.

"Depois do quinto lugar no Giro, sabia que tinha deixado escapar uma hipótese de pódio. Agora trata-se de repetir os melhores resultados e, por vezes, melhorá-los: voltar ao Tour para mais uma vitória e voltar ao pódio em Madrid".