Aqueles que receavam que a
Volta a Espanha 2025 fosse uma demonstração monótona de domínio de
Jonas Vingegaard nas montanhas têm encontrado um cenário bem mais imprevisível. Nas duas primeiras semanas, o dinamarquês mostrou-se incapaz de distanciar os rivais em várias ocasiões e, por vezes, até pareceu em dificuldades, ainda que nunca tenha sido verdadeiramente posto em causa. A derrota frente a
João Almeida no Alto de l’Angliru, porém, foi um golpe duro para a sua confiança.
"A situação da classificação geral no segundo dia de descanso parece interessante, porque nada está decidido para a vitória e se aceitarmos que Vingegaard e Almeida são os dois mais fortes e lutam pela vitória, então a luta pelo último lugar no pódio é igualmente renhida", analisou Philippa York no seu blogue no Cyclingnews, sublinhando a incerteza que marca a corrida até agora.
Pidcock surpreende no pódio provisório
Se as duas primeiras posições correspondem ao que se esperava, o terceiro lugar de Tom Pidcock é, sem dúvida, a maior surpresa. O britânico da Q36.5 Pro Cycling Team esteve perto de vencer a etapa montanhosa em Bilbao, não fossem os protestos que neutralizaram a chegada. Mas foi sobretudo nas subidas mais longas, onde se previa que perdesse largos minutos, que impressionou ao limitar diferenças para apenas alguns segundos.
"Pensava que o Angliru ia ser uma subida demasiado longa para o Pidcock, e demasiado íngreme, mas ele portou-se muito bem", admitiu York, reconhecendo o mérito do britânico. "Provavelmente melhor do que o seu adversário mais próximo,
Jai Hindley, esperava".
Ainda assim, York lembra que a Red Bull - BORA - Hansgrohe testou Pidcock no dia seguinte, na dura ascensão a Lagos de Somiedo. Com Giulio Pellizzari a ser sacrificado em prol de Hindley, o britânico poderá ter dificuldades acrescidas na última semana devido à falta de apoio sólido em alta montanha. "Até agora, está a jogar entre os candidatos ao pódio e a ser reconhecido como parte desse grupo", sublinha.
Jovens a brilhar no top-10
O top-10 reserva mais surpresas para além de Pidcock. Torstein Traeen (Bahrain Victorious) e Junior Lecerf (Soudal - Quick-Step) estão entre os dez primeiros, apesar de não serem inicialmente apontados como líderes das respetivas equipas. Logo acima deles, em 7º lugar, surge Matthew Riccitello (Israel - Premier Tech), de apenas 23 anos, outro nome inesperado na luta pela geral.
"Riccitello e Lecerf estão no top-10, com o primeiro a parecer ser o mais consistente dos dois", destacou York, elogiando a nova geração que tem dado nas vistas nesta Volta a Espanha. Pellizzari, apesar de ainda em boa forma, poderá ser obrigado a abdicar da luta pela camisola branca caso tenha de se comprometer demasiado cedo em apoio a Hindley.
No 5º posto, Felix Gall (Decathlon AG2R La Mondiale Team) mantém-se sólido, com desempenhos irregulares mas promissores. O austríaco, que já brilhou na Volta a França deste verão, mostra-se capaz de lutar por repetir o resultado ou até subir ao pódio se jogar bem as suas cartas. "Gall teve alguns momentos em que se expôs, estranhamente sentindo-se melhor nas rampas mais íngremes do que nas longas subidas. Vai alternar entre bons e maus momentos nas últimas seis etapas", avaliou, acrescentando que o contrarrelógio de Valladolid será provavelmente um ponto fraco para o austríaco.
Contrarrelógio poderá redefinir a corrida
O contrarrelógio de 27 quilómetros em Valladolid, na quinta-feira, promete ser um momento decisivo antes da etapa rainha na Bola del Mundo, dois dias depois. "Vingegaard vai ganhar tempo a Almeida", prevê York. "No entanto, o esforço poderá ter consequências nos dias seguintes, que incluem várias subidas longas, terreno ideal para Almeida".
A conclusão que extrai é que, após duas semanas intensas, a Volta a Espanha continua em aberto. "Longe de ser uma certeza para Vingegaard, como muitos previam no início em Turim, esta Vuelta ainda não acabou. Almeida tem argumentos para desafiar o dinamarquês até Madrid".