Análise: como se portou Remco Evenepoel no confronto direto com os novos colegas de equipa Roglic, Lipowitz e Hindley?

Ciclismo
quinta-feira, 07 agosto 2025 a 12:00
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A transferência de Remco Evenepoel para a Red Bull - BORA - Hansgrohe foi finalmente confirmada na passada terça-feira, encerrando um dos dossiês mais longos do ciclismo internacional. Há anos que se falava da mudança nos bastidores do pelotão, e o acordo agora oficializado coloca o belga num projeto com uma dimensão financeira superior. Apesar de ainda ter contrato com a Soudal - Quick-Step, Evenepoel muda-se para uma estrutura que entra no restrito lote das superpotências do WorldTour. Segundo várias fontes, este negócio terá sido negociado ao longo dos últimos quatro anos.
A Soudal - Quick-Step é uma equipa histórica, com um passado repleto de triunfos, mas nunca escondeu as dificuldades para ombrear com as maiores equipas quando o objetivo passa por lutar pela classificação geral. Com um orçamento estimado em 30 milhões de euros, a formação belga manteve-se relevante, mas longe da capacidade de investimento da UAE Team Emirates - XRG, que opera com mais de 50 milhões, ou da Team Visma | Lease a Bike, que ronda os 40 milhões anuais. Agora, a Red Bull - BORA - Hansgrohe entra neste grupo restrito.
A diferença de investimento não está apenas no salário de Evenepoel, que teria garantido bons rendimentos em quase qualquer equipa, mas no que a Red Bull pode oferecer à sua volta. O Tour de 2025 tornou isso evidente: Pogacar estava rodeado por João Almeida, Adam Yates, Narváez e Wellens; Vingegaard teve o apoio de Van Aert, Jorgenson, Simon Yates e Sepp Kuss. Já Evenepoel contava apenas com o apoio de Ilan Van Wilder e Valentin Paret-Peintre. A mudança para a Red Bull pode alterar esse cenário.
Ainda assim, o novo desafio traz outras complexidades. Evenepoel vai partilhar o balneário com ciclistas que já provaram ser líderes e candidatos a grandes voltas. Florian Lipowitz é um dos nomes que mais alteraram a dinâmica da equipa. Após os abandonos de Evenepoel e Almeida no último Tour, o alemão subiu o patamar, vestiu a camisola branca e terminou em terceiro na geral. Esta prestação confirmou que Evenepoel não terá o estatuto de líder absoluto.
Essa é também a leitura de Jan Bakelants, analista belga. "Em termos de calendário, este não é o melhor momento para uma mudança para a Red Bull: a descoberta de Florian Lipowitz torna tudo mais complicado", afirmou. "Há dois meses, pensávamos que Remco seria o líder absoluto, mas agora ele vai ter de afirmar a sua posição. Porque como é que se distingue entre os dois? Continuo convencido de que um Evenepoel em boa forma é melhor ciclista do que Lipowitz, mas será que toda a gente vê as coisas assim?"
Outro nome importante é Primoz Roglic. Com 35 anos, o esloveno poderá estar na fase final da carreira, mas mostrou no Tour deste ano que continua a ser competitivo, especialmente nas etapas de montanha. Com quatro Vueltas, um Giro, ouro olímpico e um segundo lugar no Tour de 2020, o seu currículo fala por si. Para o especialista Bogdan Fink, "acho que ele ainda não teve a sua última palavra, ainda está a correr e ainda não está pronto para assumir um papel de mentor".

Evenepoel vs Roglic: o belga leva vantagem por pouco

A rivalidade entre Evenepoel e Roglic tem sido marcada por um equilíbrio notável. De acordo com os dados do PCS Head-to-Head, nas etapas e classificações em que ambos alinharam, Evenepoel ficou à frente 63 vezes, contra 62 do esloveno, uma diferença mínima.
Os dois defrontaram-se por apenas 6 vezes em provas por etapas. O esloveno triunfou na Volta à Romandia (2019), Volta à Catalunha (2023) e Dauphiné (2024). Já o belga só superou Roglic na geral da Volta ao País Basco (2022) e Paris-Nice (2024).
A única vitória de Remco numa grande volta aconteceu na Volta a Espanha de 2022, precisamente quando Roglic abandonou após uma queda. Apesar disso, o belga seguia na frente da geral nesse momento, mostrando que também pode impor-se em cenários competitivos.
A forma como Evenepoel e Roglic irão coexistir é uma das chaves do novo projeto. Roglic tem uma personalidade forjada por derrotas dolorosas e sabe como gerir pressão. Evenepoel evoluiu bastante nas últimas épocas, mas mantém traços de impulsividade que, por vezes, se refletem em declarações menos medidas. Caso consigam entender-se, o belga terá muito a aprender com o veterano esloveno, caso este tenha a humildade necessária para o ensinar.

Evenepoel vs Lipowitz: um domínio arrasador

Florian Lipowitz é onze anos mais novo do que Roglic e um mais novo que Evenepoel. Os dois últimos vencedores da camisola branca do Tour e com pódios conquistados, estão destinados a confrontos frequentes nos próximos anos. O palmarés favorece claramente o belga (64 vitórias contra 3), mas Lipowitz impressionou em 2025 pela regularidade.
Nos confrontos diretos em etapas e classificações, Evenepoel lidera por 23-12. Contudo, nas únicas duas provas por etapas que ambos terminaram, o equilíbrio é total: Lipowitz superou o belga no Dauphiné (3º vs 4º), enquanto Remco foi superior na Vuelta a San Juan (6º vs 57º).
A rápida afirmação do alemão poderá ser o maior desafio para Evenepoel nos primeiros tempos na nova estrutura. Apesar de a maioria dos analistas apontar o belga como mais talentoso, Lipowitz exibiu um nível de consistência em 2025 que Evenepoel raramente conseguiu replicar. Esta será, sem dúvida, uma das histórias a acompanhar em 2026.

Evenepoel vs Hindley: vantagem clara

Jai Hindley, vencedor do Giro 2022 e de uma etapa do Tour 2023, é outro nome relevante no plantel. Apesar de ter perdido protagonismo, continua a ser um corredor sólido. Frente a frente, Evenepoel leva clara vantagem: 74 vezes à frente, contra 33 de Hindley. Em sete corridas por etapas que ambos completaram, o belga venceu cinco duelos.
Mais recentemente, na Volta à Lombardia 2024, Remco foi segundo e Hindley 24.º. Mesmo que o australiano não seja um nome de cartaz neste momento, é mais uma variável num plantel carregado de ambição.

Um quarteto para gerir

Atualmente em quinto lugar no ranking UCI com 9985,5 pontos, a Red Bull - BORA - Hansgrohe está ligeiramente à frente da Soudal - Quick-Step (9386,2 pontos), mas longe da UAE Team Emirates - XRG, que lidera destacada com 26200,8 pontos. A entrada de Evenepoel poderá ser o impulso necessário para subir posições, mas o sucesso vai depender de como a equipa vai gerir quatro líderes com objetivos semelhantes.
"O diretor desportivo, Sven Vanthourenhout, terá muito trabalho a fazer para os colocar todos em sintonia", alertou Bakelants.
O que é certo é que a Red Bull apostou tudo. A contratação de Evenepoel não é apenas mais um reforço, é a entrada definitiva na corrida pela vitória nas grandes voltas.
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