Durante a década de 2010, as grandes voltas foram amplamente dominadas pela Team Sky, com
Chris Froome a liderar uma era de supremacia. O britânico venceu quatro edições da
Volta a França, duas da
Volta a Espanha e uma da
Volta a Itália, mas a equipa foi frequentemente recebida com desconfiança e hostilidade por parte de uma franja dos adeptos, que não se inibiram de manifestar o seu cepticismo.
Entre os que acompanharam de perto essa era dourada esteve
Luke Rowe, o capitão de estrada fiel de Froome na Team Sky, que mais tarde continuou na estrutura da
INEOS Grenadiers.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o galês recordou os tempos difíceis que viveu, marcados por sucessos desportivos e também por episódios menos agradáveis fora da estrada. “Os êxitos de Froomey surgiram no contexto de um desporto muito suspeito, logo depois do caso
Lance Armstrong, e todo o desporto entrou em colapso durante algum tempo", recorda. "Pouco tempo depois, Froomey era o rei do desporto. Quem quer que fosse o rei depois de Lance Armstrong ia ser destruído".
Luke Rowe esteve durante 13 temporadas na Team Sky/INEOS. Atualmente, é diretor desportivo da Decathlon
Rowe não esconde que o sucesso da formação britânica gerou desconfiança. “Tivemos algum ódio de certas pessoas durante o nosso tempo na Sky porque éramos os melhores”, afirma. "Agora, a INEOS não é a melhor, acho que ninguém suspeita de nada".
O galês acredita que a estrela dominante da era seguinte, Tadej Pogacar, não enfrentou a mesma hostilidade. “Porque é que Tadej Pogacar não tem tanto ódio?” questiona. "Penso que é porque o desporto está no melhor estado de sempre. E penso que isso se deve em grande parte à inclusão do passaporte biológico. Isso limpou realmente o desporto. Penso que é um sistema muito difícil de enganar ou mentir quando se tem todos os resultados continuamente representados num gráfico e se pode testar positivo apenas por uma anomalia".
Apesar da evolução dos sistemas de controlo, o passado ainda está bem presente. “Quem foi o último ciclista a ser apanhado ou a dar positivo no ciclismo? Não me consigo lembrar de nenhum nos últimos anos. Quando comecei a minha carreira, todos os meses havia alguém", aponta Rowe. "O desporto está num bom momento. Os ciclistas e as equipas podem dizê-lo".
Durante os anos de liderança da Sky, as críticas estenderam-se também ao estilo de corrida da equipa. “É uma crítica muito dura porque o que fizemos foi algo de novo. Nenhuma equipa, nem antes nem depois, conseguiu ditar uma corrida como nós fizemos”, defende. "Penso que ter essa força em profundidade, essa organização, essa confiança nos colegas de equipa, essa química na equipa foi muito especial e único. Penso que houve alguma beleza no que fizemos".
No entanto, reconhece que a abordagem não era necessariamente apelativa. "Foi particularmente emocionante de ver? Não. Se colocou um estrangulamento na corrida e impediu um certo nível de extravagância e de brio? Sim. Os rivais tinham medo de atacar", confessa. "Tínhamos o líder mais forte, a equipa mais forte e éramos os mais organizados. Éramos difíceis de bater".
Sobre Lance Armstrong, Rowe prefere uma abordagem equilibrada. "Ele arruinou o desporto, fez batota, partiu o coração das pessoas. Fiquei destroçado quando vi a notícia: era fã do Jan Ullrich, mas continuava a adorar o Lance, e o que ele fez foi imperdoável", comenta. "Ao mesmo tempo, e talvez eu esteja a ser um pouco brando, ele doou centenas de milhões para a caridade. Passou por um cancro e ainda assim alcançou a grandeza, apesar de tomar drogas [PEDs]. Todas as pessoas no mundo foram afetadas pelo cancro em algum momento, e ele fez muito bem por isso, por isso há dois lados da questão".