Antigo ciclista dinamarquês considera que as etapas de terra batida "não fazem sentido" nas grandes voltas: "Sei que é divertido, mas mostra uma falta de respeito pelas equipas"
A inclusão de etapas em gravilha nas Grandes Voltas, como a recente "mini Strade Bianche" na 9.ª etapa da Volta a Itália 2025, continua a dividir o pelotão internacional. Ciclistas, adeptos e dirigentes têm opiniões polarizadas, mas para Brian Holm, uma das vozes mais respeitadas do ciclismo dinamarquês, estas inserções representam um desrespeito pelas equipas e pelos seus investimentos.
A etapa em questão, disputada nas estradas brancas da Toscânia, voltou a trazer à tona os riscos associados ao uso de gravilha em provas por etapas. Nomes sonantes como Primoz Roglic e Tom Pidcock perderam tempo significativo, vítimas de quedas ou problemas mecânicos em setores onde o controlo está longe de ser absoluto. Para Holm, este é o cerne da questão.
“Para um patrocinador que investe milhões, não devia ser decidido por um acidente ou um furo naquelas malditas estradas brancas”, desabafou Holm no mais recente episódio do podcast Café Eddy. "Acho que não faz sentido. Sei que é divertido, mas mostra uma falta de respeito pelas equipas e pelo investimento colossal que fazem no ciclismo".
A posição de Holm não é isolada. Johan Bruyneel, antigo diretor desportivo e analista habitual, reforçou a crítica com uma perspetiva mais técnica e estrutural.
“Está a acrescentar fatores incontroláveis”, afirmou após a conclusão da 9.ª etapa. "Apesar de saber que, quando corria bem, até podia ser bom para nós, nunca fui fã. Nunca se sabe o que vai acontecer".
Bruyneel propõe inclusivamente auscultar o pelotão de forma direta: "Vamos fazer uma sondagem entre os ciclistas profissionais. Posso dizer com confiança que 75% seriam contra".
A questão central não é apenas estética ou desportiva, mas também filosófica. As Grandes Voltas são competições de resistência, estratégia e constância - onde idealmente o mais forte, mais inteligente e mais bem preparado vence ao fim de três semanas. Mas quando um pneu furado ou uma rampa de gravilha comprometem dias ou mesmo meses de preparação, levanta-se a questão da legitimidade da decisão organizativa.
Roglic, por exemplo, que luta por um novo pódio na Corsa Rosa, viu-se penalizado por um incidente sem culpa direta, algo que levanta dúvidas sobre a justiça competitiva.
Pidcock, um dos maiores especialistas em superfícies mistas e ciclocrosse, também não escapou incólume, o que reforça o argumento de que a gravilha pode ser implacável, mesmo para quem está à vontade nesse tipo de terreno.
Por outro lado, há quem veja nestas etapas um refrescar do formato tradicional. Os defensores argumentam que os setores de gravilha acrescentam variedade, espetáculo televisivo e imprevisibilidade - ingredientes que, dizem, tornam o ciclismo mais emocionante e atrativo para um público mais vasto.