Antigo selecionador nacional holandês fala sobre a decadência do ciclismo no seu país: "Chamam-lhes corridas de merda, mas é aí que se aprende a correr"

Ciclismo
domingo, 24 novembro 2024 a 00:20
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O ciclismo masculino holandês não está numa boa fase e apesar do enorme sucesso de Mathieu van der Poel, a situação está longe de ser a ideal, pois parece que só o homem da Alpecin é que consegue trazer vitórias a uma nação com enormes raízes velocipédicas. Entretanto olham para o lado e vêm os seus rivais belgas com Remco Evenepoel, Wout Van Aert, Jasper Philipsen, Tim Merlier... e a lista continua.

Sim, o ciclismo holandês tem o fenomenal Mathieu van der Poel, mas... onde estão todos os outros? "Há várias razões para isso", começa por dizer Egon van Kessel, antigo selecionador nacional, numa entrevista à RIDE Magazine. Ele faz uma comparação com os rivais da Bélgica que, ao contrário da Holanda, podem sempre contar com vários líderes de alto nível. "Antes de mais, tem sido assim ao longo da história. A Bélgica é um país de corridas, a Holanda é um país de ciclismo. É um mundo de diferenças. As corridas são uma cultura que nós não temos".

"Um passo muito importante neste domínio é o facto de os Países Baixos terem enveredado pela via dos dados. As grandes equipas dos Países Baixos selecionam os ciclistas com base em dados, força, potência, VO2max, não sei o quê. Os chefes das equipas que orientam estes homens, fazem planos baseados no treino... Isto fez com que nos esquecêssemos de como correr. Os holandeses só treinam... Se tiverem quarenta dias de corrida, isso é muito. Quando se é jovem é preciso aprender a correr... É preciso correr para aprender, para aprender a ganhar da próxima vez. Mas nós não aprendemos o que é isso".

"Até certo ponto, mantiveram-se parados no tempo. Segundo alguns, eu pertenço ao ciclismo antigo. Tenho muito orgulho nisso. Ganhar uma corrida continua a ser feito com as mesmas tácticas dos anos 20 e 30 do século passado. É preciso ensinar essas estratégias e as lições de corrida aos ciclistas mais jovens. Isso acontece muito pouco nos Países Baixos".

"Na Bélgica, eles correm muito mais. Em todas as corridas UCI .1, estão lá quase todos os profissionais belgas", salienta Van Kessel, que passou algum tempo em corridas ao lado da equipa holandesa conti BEAT Cycling. "Jumbo-Visma? Quase nunca estavam lá. Digo-lhe em jargão: chamam-lhes corridas de merda, com estradas estreitas e mau asfalto."

O treinador considera que esse é um ponto de vista pretensioso que prejudica o ciclismo holandês: "É aí que se aprende a correr, é aí que se aprende a conduzir uma bicicleta, que se ganha mais agilidade, que se aprende a pedalar concentrado durante cinco horas, que se aprende a cair de cara no chão, porque estas corridas são difíceis. Isso é necessário para se evoluir".

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