A penúltima etapa da
Volta a França 2025 gerou reações intensas no painel do The Move, com
Lance Armstrong à cabeça, após um momento insólito e perigoso que quase levou Tadej Pogacar ao chão. Dois ciclistas da Astana, em pleno sprint pelo 13º e 14º lugar, lançaram-se de forma agressiva na última curva da etapa 20, quase provocando uma queda com o camisola amarela. "Por vezes, o ciclismo não faz sentido", desabafou Armstrong. "Por que raio estamos a fazer um sprint pelo 20º lugar? E há uma queda. Pogacar evita-a por pouco. Quem se importa com o 20º lugar?"
A indignação de Armstrong não vinha do nada. O ex-campeão admitiu não compreender o sistema das pontuações da UCI, pedindo ao analista Spencer Martin que explicasse o que motivava tamanha urgência. A resposta: pontos UCI. Muitos pontos. Para a Astana, que luta contra a despromoção no final do ciclo trienal de qualificação para o WorldTour, cada posição vale. Martin revelou que a equipa, no início da época, chegou a contratar um matemático para calcular cenários de manutenção, algo que deixou Armstrong meio chocado, meio sarcástico. “A equipa Borat contratou matemáticos? Claramente não foi má ideia. Temos de lhes dar mérito.”
Lance Armstrong correu com as cores da Astana antes de se retirar do ciclismo
Michael Woods, que também abordou o tema num artigo recente, defende que este tipo de situações resulta de um sistema disfuncional. Sprints por posições irrelevantes em finais escorregadios e técnicos colocam todos em risco e, segundo o canadiano, é tempo de repensar o modelo. Armstrong não discordou: "Não faz sentido correr para o oitavo lugar. Estamos a pôr ciclistas em perigo por pontos que mal interessam ao espectador."
Enquanto as críticas à segurança aumentavam houve também espaço para aplausos, em particular para Kaden Groves. O sprinter australiano venceu de forma invulgar, escapando sozinho a partir da fuga final para selar uma vitória de classe. “O mais épico possível”, afirmou
George Hincapie. “O Groves é o mais rápido, mas não tinha ninguém a trabalhar para ele. Mesmo assim, conseguiu inverter a situação.”
Com esta vitória, Groves junta triunfos nas três Grandes Voltas, entrando num restrito clube de sprinters versáteis. “Hall of Fame australiano, sem dúvida”, comentou Armstrong. “É um ciclista inacreditável.”
Bradley Wiggins acrescentou um elemento histórico à conversa: “A última vez que um sprinter venceu sozinho no Tour foi em 1996, com Abdujaparov. Não é algo que se vê todos os dias.”
O episódio não deixou de sublinhar as condições traiçoeiras da etapa, com quedas sucessivas em estradas molhadas. Ivan Romeo, um dos favoritos à vitória, caiu com violência. “O vosso rapaz Romeo caiu feio. E estamos a falar da penúltima etapa. Não se quer chegar a Paris assim”, lamentou Hincapie.
Mas Paris, desta vez, não será Paris como a conhecemos. O circuito final foi deslocado para Montmartre, num percurso curto mas técnico e sinuoso, e não no tradicional circuito dos Campos Elísios, apesar da meta ser lá na mesma. Com 14 equipas ainda sem vitórias, o cenário está montado para um final imprevisível. “Se chover como hoje, vai parecer patinagem artística”, alertou Armstrong. “Normalmente é dia de abraços e fotos com a família. Amanhã (hoje), vai ser diferente.”
Por fim, o painel celebrou o desempenho da Alpecin-Deceuninck, que sai do Tour com três vitórias de etapa, apesar dos abandonos precoces de Jasper Philipsen e Mathieu van der Poel. “Cinco estrelas”, resumiu Armstrong. “Estão a criar uma escola. As outras equipas deviam tomar notas.”
A Volta a França 2025 fecha hoje com uma chegada ao topo de Montmartre, um final inédito e potencialmente caótico para uma edição já marcada por tensão, emoção e imprevisibilidade. Com Pogacar no primeiro lugar e o pelotão exausto, resta saber quem ainda terá força para brilhar no último esforço.