O regresso da
Volta a França a Paris, depois da pausa forçada por Nice em 2024 devido aos Jogos Olímpicos, assinala uma mudança de paradigma: pela primeira vez desde 1975, a chegada não acontecerá nos Campos Elísios. Em vez do tradicional desfile seguido de sprint, a edição de 2025 encerra com uma passagem explosiva na íngreme colina de Montmartre.
Para
Christian Prudhomme, diretor da Volta há já 18 anos, trata-se de uma escolha que traduz a renovação constante da corrida. Em entrevista ao
Cyclism’Actu, Prudhomme fez um balanço emocionado desta edição marcada, nas suas palavras, por “fervor, paixão e muita gente”. “Todos os anos nos esquecemos de quão presente está o público. Desde o arranque na Normandia até à Bretanha, foi impressionante. Muitos jovens, muita gente nas estradas, e audiências televisivas que refletem esse entusiasmo popular”, afirmou.
No plano desportivo, Prudhomme destacou o domínio avassalador de Tadej Pogacar, que conquistou o seu quarto título, e a persistência de Jonas Vingegaard, o único a conseguir manter-se por perto. Apesar de a luta pela geral ter tido um rumo previsível, o francês vê com agrado o desempenho dos ciclistas da casa, destacando a vitória de Valentin Paret-Peintre no Mont Ventoux. “Tínhamos receio de não vencer nenhuma etapa, e essa vitória foi quase no melhor momento possível”, confessou.
A transição geracional no ciclismo francês foi outro dos temas abordados. Com as despedidas recentes de Thibaut Pinot e Romain Bardet, e Julian Alaphilippe a perder protagonismo, Prudhomme acredita que uma nova vaga está a despontar. “Há muitos ciclistas jovens que já nos trazem satisfação e que, amanhã, podem brilhar ainda mais.”
Um dos nomes mais promissores é o de Paul Seixas, estrela emergente do pelotão nacional, embora Prudhomme se mostre prudente: “É uma joia, mas temos de ter cuidado. Se não estiver no início do Tour de 2026, não há problema. Temos de o deixar crescer”.
Com olhos postos no futuro, Prudhomme sublinhou um dado revelador: “Nunca houve tantos jovens a ver o Tour como este ano, desde que fazemos este tipo de estudos, ou seja, desde 2006. Isso sente-se na estrada, nos pedidos que recebo. Antes pediam-me coisas pelo avô ou avó, agora pedem-me eles próprios”.
Sobre a escolha inédita de Montmartre para a última etapa, Prudhomme foi claro: “Os Campos Elísios são magníficos e vamos celebrar os 50 anos da sua primeira chegada, mas ali não se vêem multidões. Estão sob as árvores. Em Montmartre, esperamos uma verdadeira enchente”.
A entrevista não esqueceu o crescimento da Volta a França Feminina, que este ano se estende por mais dois dias e atravessa regiões como a Bretanha e a Alta Saboia. “É uma prova mais seletiva, que faz crescer o ciclismo feminino e, por tabela, também o Tour. É o mesmo público, o mesmo ambiente familiar, os mesmos sorrisos. Isso agrada-me desde a primeira edição.”
Quanto à possibilidade de uma ciclista francesa vencer a prova feminina, Prudhomme mostra-se confiante. “Seria extraordinário. A Pauline Ferrand-Prévot tem tudo para o conseguir. Já nos surpreendeu no Paris-Roubaix. O seu objetivo é a Volta a França, mas temos outras ciclistas fortes, como Evita Muzic e Juliette Labous. E enquanto esperamos, surgem novas jovens.”
Com uma chegada inédita, a promessa de futuras estrelas e um público rejuvenescido, a Volta a França 2025 passa em Montmartre com um sinal claro de renovação. O espírito permanece, mas o Tour continua a reinventar-se.