O ambiente na
Volta a Espanha 2025 está cada vez mais pesado. Os protestos contra a Israel - Premier Tech, que já tinham marcado a primeira metade da corrida, escalaram em intensidade e agressividade, transformando-se num dos maiores pontos de discussão no pelotão e fora dele. Neutralizações, linhas de meta improvisadas, árvores cortadas no percurso e até tachas espalhadas na estrada colocaram os ciclistas em perigo, deixando a sensação de que a corrida está à beira do colapso.
Jack Haig (Bahrain - Victorious) foi um dos que mais diretamente expressou esse desconforto. “Decidimos que, se houvesse um incidente, tentaríamos neutralizar a corrida e pronto, porque, no final, correr para uma linha de chegada indefinida não é realmente um desporto justo”, afirmou ao
Cyclingnews.
As suas palavras refletem o consenso que se vai formando no pelotão: sem segurança e condições claras de competição, não faz sentido prosseguir como se nada se passasse.
O efeito dominó dos protestos
Desde a neutralização em Bilbau (11ª etapa) até ao final antecipado em Castro de Herville (16ª etapa), a prova tem sido marcada por soluções improvisadas. Mas a sensação de vulnerabilidade cresce. As chegadas em alto, tradicionalmente os pontos mais espetaculares da corrida, tornaram-se também os mais difíceis de controlar devido ao grande número de adeptos que acorrem às estradas.
Daniel Friebe, da organização, admitiu que a neutralização imediata passou a ser a opção preferencial sempre que um bloqueio de estrada ou manifestação se interponha no percurso. “Não há vontade de correr em linhas de chegada improvisadas como as de ontem”, explicou, reconhecendo a falta de garantias.
Contexto geopolítico agrava clima
O ciclismo tornou-se refém de um cenário político maior. Esta terça-feira, Israel realizou um ataque aéreo em Doha, Qatar, com o objetivo de atingir um alto dirigente do Hamas. O episódio, ainda em avaliação quanto ao sucesso da operação, aumentou a indignação no Médio Oriente e deu nova força às manifestações na Europa.
Os protestos contra a Israel - Premier Tech, patrocinada por investidores privados israelitas mas alheia às decisões governamentais, intensificaram-se, explorando precisamente a característica mais única e vulnerável do ciclismo: a proximidade entre público e corredores.
Haig reconhece essa contradição: “Infelizmente, estamos a ser apanhados no meio de algo que talvez nem nos envolva realmente e, neste momento, somos apenas peões num jogo de xadrez muito grande que, infelizmente, nos está a afetar.”
Cresce o medo no pelotão
Os relatos de incidentes tornaram-se mais graves nos últimos dias:
- Árvores cortadas e deixadas na estrada,
- Pregos espalhados para furar rodas,
- Tentativas de provocar incêndios,
- Bloqueios improvisados em zonas de passagem estreita.
Para Haig, o limite começa a ser atingido: “Ontem começou a ser um pouco desconfortável, porque houve alguns atos para tentar prejudicar deliberadamente os ciclistas. Agora está a começar a ficar um pouco desconfortável.”
Até agora, o episódio mais grave diretamente contra a Israel - Premier Tech ocorreu no contrarrelógio coletivo, com um bloqueio de estrada. Mas o risco de novos incidentes paira sobre toda a corrida.
Valladolid sob ameaça
O próximo ponto crítico será o contrarrelógio individual em Valladolid, na quinta-feira. As autoridades locais já reforçaram o contingente policial, mas as dúvidas permanecem: será possível garantir que 27 quilómetros de estrada estejam livres de riscos?
Haig resume a incerteza que todos sentem: “Penso que toda a gente gostaria de chegar a Madrid, mas é preciso que seja de uma forma justa e que os ciclistas estejam em segurança.”