Caleb Ewan encerra uma carreira marcada por glórias e turbulência!

Ciclismo
quarta-feira, 07 maio 2025 a 13:47
ewan
Caleb Ewan anunciou esta terça-feira o fim da sua carreira como ciclista profissional, com efeitos imediatos. O sprinter australiano, conhecido como Pocket Rocket, decidiu colocar um ponto final num percurso recheado de vitórias mas também marcado por fases difíceis, depois de um breve regresso à ribalta com a INEOS Grenadiers.
A decisão apanhou muitos de surpresa, sobretudo após Ewan ter vencido etapas recentemente na Settimana Internazionale Coppi e Bartali e na Volta ao País Basco, sinais de um possível renascimento competitivo. No entanto, para Ewan, a vontade de continuar já não era suficiente para suportar as exigências do ciclismo profissional. “Se ele tivesse tomado esta decisão há quatro meses, não teria sido uma surpresa para mim,” comentou Jasper De Buyst, ex-colega de equipa na Lotto, ao Het Nieuwsblad. “Mas agora que mostrou novamente o que é capaz de fazer, a sua decisão foi inesperada.”
De Buyst acompanhou Ewan entre 2019 e 2023, anos que coincidiram com o auge e o declínio gradual da sua passagem pela Lotto. A saída conturbada da equipa belga e a posterior mudança para a Jayco AlUla não correram como o australiano esperava. “Na Jayco encontrou Dylan Groenewegen, e o Caleb queria ser o primeiro sprinter da equipa. Ele vivia exclusivamente para as grandes vitórias — etapas no Tour e no Giro. Quando percebeu que isso não iria acontecer ali, tudo começou a correr mal. A equipa acabou por rescindir o contrato.”
Sem equipa no início de 2025, Ewan foi contratado pela INEOS Grenadiers, numa manobra surpreendente. Apesar de ter regressado às vitórias, os dois anos anteriores deixaram marcas profundas. A carga emocional e o desgaste físico foram decisivos. “A pressão, os sacrifícios e a exigência constante tornaram-se demasiado grandes,” referiu De Buyst. “Ele pensou em retirar-se no final de 2024, e já tinha passado períodos praticamente sem treinar.”
Marc Sergeant, antigo diretor desportivo da Lotto, descreveu um lado mais humano e vulnerável do australiano: “Dava ao mundo a imagem de que nada o afectava, mas quando estávamos sozinhos com ele, percebíamos que também era apenas um ser humano, com os seus medos e frustrações.”
Sergeant recorda um episódio marcante no Giro de 2021, onde Ewan, desmotivado com os colegas, se isolou ao jantar. Depois de uma conversa franca, pediu desculpas à equipa e, nos dois dias seguintes, venceu duas etapas consecutivas. “Não foi a única vez em que tivemos de o ajudar a reencontrar-se. Os colegas já sabiam quando isso acontecia e vinham ter comigo: ‘Conseguimos pô-lo de volta?’”
Apesar do talento inegável, a personalidade de Ewan nem sempre foi fácil de gerir, sobretudo em contextos de alta pressão como as Grandes Voltas. “Tinha um ar de autoconfiança e até de arrogância, mas na realidade era muito emocional e dedicado à família. Isso levava a mal-entendidos e por vezes a conflitos,” recorda De Buyst.
Na Volta a França de 2023, Ewan voltou a abandonar a corrida no meio de tensões internas. A pressão auto-imposta e o peso das expectativas da equipa acabaram por desgastá-lo. “Colocava a fasquia muito alta para si próprio e, quando algo falhava, reagia de forma explosiva. Não por ser uma má pessoa, mas por sentir tudo intensamente,” concluiu De Buyst. “Mesmo com as discussões, gostei de trabalhar com ele. Os últimos meses na equipa foram difíceis, mas continuamos amigos.”
Aos 31 anos, Caleb Ewan despede-se do ciclismo com um legado feito de vitórias nos sprints mais prestigiosos do mundo, mas também com a marca de um percurso emocionalmente exigente. Um talento brilhante, incompreendido por vezes, mas que deixa a sua marca definitiva no pelotão internacional.
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