CONVERSAS DE CAFÉ - Volta a Espanha: As apostas para o Top 5, expectativas para os portugueses em prova, o percurso e as surpresas para a corrida

Ciclismo
sexta-feira, 16 agosto 2024 a 13:17
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Lisboa é desde ontem o palco de todas as atenções do mundo velocipédico pelos melhores motivos. Afinal de contas amanhã, sábado dia 17, a Grande Partida da Volta a Espanha de 2024 vai para a estrada e os portugueses estão entusiasmados por poderem estar perto de muitas das maiores estrelas do ciclismo mundial. Acabado o dia repleto de conferencias de imprensa e da apresentação das equipas, fomos comer qualquer coisa, porque se o dia foi longo, a noite não iria ser diferente. Para acompanhar de perto uma corrida desta dimensão é preciso delinear estratégias e dar uma ultima vista de olhos na logistica.

O Top 5

Estomago cheio, fomos tomar um café para acertar todos os detalhes, mas a conversa era transversal e demos por nós a falar da corrida. Quem achávamos que no final fará um Top 5. O Ruben Silva pensou e não demorou muito a disparar os seus candidatos "O João Almeida, Adam Yates, Primoz Roglic, Daniel Martínez e o Sepp Kuss. Uma corrida muito aberta, mais do que o Giro e o Tour, e existem vários corredores que podem entrar nesta lista assim como há também alguns que podem facilmente saír" ao que o Ivan Silva ripostou " Primoz Roglic, João Almeida / Adam Yates, Mikel Landa, Enric Mas e Mattias Skjelmose. Ficaria surpreendido se o vencedor final não fosse nenhum destes ciclistas. O ciclista esloveno é claramente um destaque face aos outros e foi a grande aposta da Red Bull - BORA para esta época depois da controversa saída da Visma e depois de um Tour (novamente) azarado procurará vir a Espanha conquistar a Camisola Vermelha pela 4ª vez na sua carreira (que seria recorde absoluto na corrida)."

O Filipe Pereira concorda com o Ivan " Primoz Roglic é claramente o favorito. Depois Adam Yates, João Almeida, Carlos Rodriguez e Enric Mas. Será interessante ver como Sepp Kuss se mostra enquanto líder, grande aposta para uma corrida de três semanas. João Almeida e Adam Yates fizeram estragos na Volta à Suíça, mas não tinham ninguém dos "big 4" pela frente. A equipa é bem capaz de ter algumas dificuldades em sacrificar Almeida ou Yates quando a hora chegar e isso pode acabar por custar a vitória final." O Carlos Silva foi ouvindo os colegas para depois dizer.

" O João Almeida vai ganhar isto. Vai uma aposta. Está forte e este será o ano dele. Depois dele qualquer um para mim serve" riu-se " Mas olhando para o perfil da corrida, para as altas temperaturas esperadas... meto as minhas fichas no Richard Carapaz, Sepp Kuss, Primoz Roglic e talvez Mikel Landa. Sempre que o Landa tem expectativas altas falha, pelo que este Top 5 é para acreditar que o trabalho que fez até aqui será recompensado"

Nelson Oliveira na apresentação da Volta a Espanha de 2024 da Movistar Team
Nelson Oliveira na apresentação da Volta a Espanha de 2024 da Movistar Team

A Revelação

As Grandes Voltas são montras para alguns ciclistas que aproveitam para mostrar ao mundo a sua qualidade e valor. É uma prova de 3 semanas, muito dura, imprevisível mas quem será a aposta? "Isaac del Toro tem tudo para ser a grande revelação da Vuelta. Já é, se calhar, a grande revelação da época e chega a Lisboa, com a hipótese de mostrar o que vale em corridas de três semanas" diz Filipe Pereira, acrescentando "Para além do mexicano, o Lennert van Eetvelt que ganhou a UAE Tour". Já o Ivan Silva disse "Acho que será uma revelação vermos um João Almeida a lutar pela vitória até ao fim, que acredito que vá acontecer se não tiver azares. Se formos para os chamados outsiders, diria que a principal revelação será o Valentin Parret-Peintre. O ciclista francês é um que me agrada particularmente ver correr e acho que fisicamente assenta perfeitamente neste perfil de corrida com muita dureza e pouco contrarrelógio - recordo que é um ciclista de 52kg".

O Ruben Silva analisou os nomes da lista de partida e deu a sua opinião "Há vários corredores que o podem fazer e a diferentes níveis. Eu aposto no Matthew Riccitello e no Lennert van Eetvelt como corredores que vão pela primeira vez lutar por um resultado na geral de uma Grande Volta e podem ambos acabar no Top 10." ao que o Carlos Silva acrescentou " Eu também meto as minhas fichas nos teus dois homens Ruben, eram os que tinha na cabeça. O Lennert van Eetvelt e o Matthew Riccitello poderão ser dois homens que se afirmarão nesta Grande Volta. Especialmente o homem da Israel- Premier Tech. Gosto dele, acho que vai dar cartas."

A dureza do percurso é brutal

E o percurso? 3 mil e tal quilometros com mais de 52 mil de desnivel positivo acumulado. Não é dura, é muito dura. Etapas planas, para puros velocistas, é coisa que não existe. Tanto que os sprinters nem pensaram duas vezes, depois de conhecido o percurso, ao riscarem a Vuelta do seu calendário " Muito duro, feito para puros trepadores. Existem quilómetros de contrarrelógio, mas esta é uma corrida para ser decidida nas montanhas. Em todas as semanas há etapas de montanha brutais. Gosto muito do percurso, obviamente pelo começo em Portugal, mas também pela inclusão do Cuitu Negru, da etapa de montanha em Granada e de 5000 metros de ascensão na última etapa de montanha." disse o Ruben Silva.

"A organização tanto faz chegadas em alto como colinas/montanhas com descidas para a meta o que é uma excelente mistura para vermos quem são os ciclistas mais completos dentro do pelotão. Depois as suas tradicionais subidas a rasar os 20% de inclinação em certos sítios também não se vêm num Tour ou num Giro o que será incrivelmente duro para os ciclistas. Mesmo as etapas teoricamente para os sprinters apresentam sempre dificuldades durante o dia. Também me agrada que este ano não haja contrarrelógio coletivo a abrir mas sim um individual, já que o contrarrelógio coletivo para mim pessoalmente é o tipo de etapa menos espetacular que há no ciclismo." argumenta Ivan Silva.

"O percurso reflete bem a identidade da Vuelta. É a grande volta dos trepadores e com quase 10 chegadas em alto, lembra muito edições míticas da década passada como 2014 e 2016. A montanha chega logo na 4ª etapa e é de louvar o contrarrelógio final a substituir a entediante etapa de consagração com chegada ao sprint. Os pontos baixos são talvez a 2ª e a 3ª etapa, uma vez que seria interessante assistir a uma definição mais clara da geral em Portugal do que aquela que o contrarrelógio vai permitir, mas é sempre bom ter uma corrida de três semanas em território nacional" refletiu Filipe Pereira.

Carlos Silva foi dando aqui e ali umas achegas na conversa, interrompendo alguns pensamentos, mas opinou " Até ao dia 7 de setembro, a faltar um dia para o final da Volta a Espanha, temos uma etapa brutal. 5000 de acumulado? E no dia seguinte temos contrarrelógio. Definir numa só palavra esta corrida é dificil. Isto está feito para puros trepadores, para homens de barba rija. Um dia mau e o adeus aos sonhos será uma realidade. Poder ver a partida de Lisboa é fantástico. A etapa que mais quero ver é a do Cuito Negru, será um absurdo e um dia fantástico de ciclismo. Se no final tudo correr bem, esta organização está de parabéns pela audácia e destreza com que delineou as etapas desta edição" concluiu.

João Almeida é um dos favoritos à vitória final em Madrid
João Almeida é um dos favoritos à vitória final em Madrid

João Almeida, Rui Costa e Nelson Oliveira

O Filipe Pereira já estava de saída, mas não foi embora sem dar a sua opinião sobre os portugueses que estarão na corrida " O João Almeida é o centro das atenções, um dos favoritos à vitória final na Vuelta, o que seria histórico para o ciclismo português. Se não ganhar, a luta pelo pódio parece ser a missão mais provável do ciclista de Caldas da Rainha. O Nelson Oliveira deverá tentar o impossível e superar Joshua Tarling no contrarrelógio de Lisboa para ganhar o primeiro contrarrelógio da carreira fora de um Campeonato Nacional e vestir a camisola vermelha. De resto, será um gregário para Enric Mas e companhia, podendo também entrar numa ou noutra fuga, seja para si próprio ou para ajudar outro ciclista a ganhar uma etapa. Rui Costa vai apoiar Richard Carapaz e é também uma boa aposta para as diversas etapas para fugas que a Vuelta apresenta."

"Tenho grandes expetativas para o João Almeida. Não é o favorito máximo mas nao fica muito atrás de um Primoz Roglic numa altura em que a idade joga a seu favor. A meu ver é menos explosivo que o esloveno e terá dificuldades se a corrida se decidir nas bonificações mas pelo que se viu no Tour o João está muito forte nas altas montanhas este ano e talvez aí consiga fazer a diferença para Roglic. Eu acredito que é possivel.Relativamente ao Rui Costa não acho que vá ter o mesmo protagonismo que teve no ano passado com uma excelente vitória de etapa mas iremos ve-lo certamente em fugas na 2ª / 3ª semana a tentar replicar o feito. O Nelson Oliveira será como habitualmente o fiel escudeiro de Enric Mas e fará o bastante necessário trabalho de proteger o seu lider nos terrenos planos mais perigosos e credito que não passe de um ciclista que vai dar o corpo ao manifesto pela sua equipa." diz Ivan Silva sobre os nossos homens na Vuelta.

A conversa vai longa, mas o Ruben Silva acrescentou "Espero muito do João Almeida, sinceramente. Para mim um candidato para a vitória e realisticamente um potencial vencedor. Na UAE vão haver muitos corredores de qualidade mas com o contrarrelógio de Lisboa ele pode logo assumir uma posição de liderança na equipa e possivelmente para para líder na etapa 4. O Nelson tem estado muito forte esta época eu acho que vamos ver muito dele mas como gregário do Enric Mas. Quanto ao Rui Costa o percurso assenta-lhe bem, ele pode muito bem ir caçar etapas e conseguir uma se encontrar a melhor forma dele."

" O Rui Costa vai sair de Lisboa a todo o gás. Acreditem ou não, ele vai querer ganhar uma etapa em Portugal. Aposto na chegada a Castelo Branco. Não sei se ele a marcou, a malta estará fresca, vai estar um calor terrivel... Mas vai por uma etapa. Depois irá dar apoio a Carapaz, que tem uma Volta desenhada para as suas medidas. O Nelson Oliveira vai participar em mais uma Grande Volta como capitão da equipa, será gregário do seu líder e deixará a pele na estrada pela equipa como é seu timbre. O João Almeida não terá a oportunidade da sua carreira, porque não precisa disso. Terá de estar concentrado, fazer o seu trabalho e com a ajuda de Adam Yates, passar a ser uma voz de comando na UAE Team Emirates. A partir do momento em que ele seja a voz de comando, será respeitado e os colegas de equipa darão tudo por ele. E o desenho do percurso desta Volta a Espanha tem a cara dele. Longa e dura."

Já tínhamos terminado o café há muito tempo, faltava pagar e ir preparar as coisas para começar a percorrer as estradas portuguesas e espanholas rumo à capital espanhola. Há muita confiança acima de tudo. Que tudo corra bem aos bravos do pelotão, para que no final possamos fazer uma bela festa. Até já Lisboa. Vemo-nos em Madrid.

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