"São demasiado profissionais... Há o risco de as suas carreiras serem mais curtas do que o esperado" - Bauke Mollema apela a um "passo atrás, para viver o ciclismo com mais tranquilidade"

Ciclismo
segunda-feira, 18 agosto 2025 a 12:00
Mollema
À medida que Bauke Mollema entra nos capítulos finais de uma carreira longa e respeitada, o neerlandês lança um aviso às estrelas em ascensão: não se deixem perder na obsessão pela perfeição. Durante a Volta à Polónia - onde curiosamente vestiu a primeira camisola de trepador da carreira - Mollema refletiu não só sobre a sua evolução, mas também sobre a cultura cada vez mais exigente que molda os jovens profissionais no pelotão atual.
"Há tantos jovens ciclistas talentosos por aí", disse a estrela da Lidl-Trek ao Bici.Pro. "Mas vejo que muitos deles estão demasiado concentrados em cada corrida. Querem ser sempre perfeitos e, quando as coisas não correm bem, isso torna-se um problema para eles. São muito profissionais, com treino, nutrição, tudo, mas talvez estejam demasiado concentrados nisso. Não deixam espaço para desfrutar do desporto".
Com 38 anos, prestes a completar 39 em novembro, Mollema atravessou várias fases do World Tour e assistiu à transformação trazida pelos dados, pela obsessão dos ganhos marginais e pelos percursos de desenvolvimento acelerados. E é precisamente essa pressão que, no seu entender, ameaça a longevidade: "É preciso dar um passo atrás e viver o ciclismo com mais tranquilidade", afirmou. "Há o risco de as carreiras serem mais curtas do que o esperado se não houver espaço para desfrutar da vida e do próprio desporto. Já vi ciclistas a fazerem birras ou a agirem de forma irracional devido à pressão. Fazemos um belo trabalho, mas não podemos levá-lo ao extremo".

Última volta: mais uma época, sem arrependimentos

O vínculo de Mollema com a Lidl-Trek expira em 2026, mas o ciclista já deixou clara a sua intenção: "Não é oficial, mas é muito provável que me retire no final da próxima época", disse. "Ainda gosto de correr, mas é preciso ter objectivos para continuar. Senti falta deles nos últimos dois anos. Senti falta de me esforçar nos treinos para alcançar algo. Acho que vou refletir sobre o que vem a seguir nos próximos meses. Mas uma coisa é certa: vou continuar a correr sem stress, como sempre fiz".
Esse equilíbrio pautou toda a sua carreira. Nunca foi o mais mediático do pelotão, mas conquistou respeito pela consistência, pela inteligência tática e pela capacidade de aparecer nos momentos decisivos, seja nas duas vitórias de etapa na Volta a França, no triunfo na Volta à Lombardia 2019 ou na camisola por pontos da Volta a Espanha 2011.
Questionado sobre que tipo de ciclista considera ter sido, Mollema respondeu com franqueza: "Comecei por perseguir a classificação geral nas corridas por etapas e concentrei-me nas etapas de montanha. Mas, com o passar dos anos, tornei-me mais um caçador de etapas ou de um dia. Segui o que o meu corpo me estava a dizer. Sentia que era mais forte em subidas de 10 a 15 minutos, em vez de 30 ou 40. Aprendemos a ouvir-nos a nós próprios. Quando estamos em boa forma, podemos fazer tudo, mas com o tempo tornei-me mais um ciclista de clássicas".

Depois da bicicleta? Tempo para a família

Enquanto muitos colegas encontram natural transição para funções de direção ou de comunicação social, Mollema descarta esse caminho imediato: "Não me vejo no carro da equipa como diretor desportivo - e, honestamente, também não me vejo em qualquer outra função no ciclismo", admitiu. "Quando parar, quero estar em casa com a minha família. Há anos que não consigo passar tempo suficiente com eles. Nunca digas nunca, mas estou bastante convencido disto".
A franqueza, aliada a uma visão ponderada sobre as mudanças no pelotão, espelha bem o papel de Mollema nos seus derradeiros anos como profissional. Com uma última campanha à vista, a sua voz soa com autoridade – não apenas pela experiência, mas por ter atravessado transformações profundas sem perder a identidade.
A mensagem do neerlandês para a nova geração resume-se numa ideia clara: não deixem que o profissionalismo ofusque a paixão.
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