Debate sobre o CRI Masculino do Campeonato do Mundo 2025: Tadej Pogacar foi humilhado hoje?

Após o primeiro tempo intermédio, o fenómeno já batia o candidato Tadej Pogačar por 44 segundos. Num troço plano como uma mesa de bilhar - como é que isso foi possível? A partir daí, era uma questão de tempo até que o belga conseguisse apanhar o comboio de Pogačar - o que aconteceu. Nos paralelos, ele passou pelo esloveno e nunca mais olhou para trás.

Pogačar não tinha pernas hoje. O bronze continuava a ser possível se ele conseguisse fazer sombra a Evenepoel, mas não foi suficiente. Ilan Van Wilder ficou um segundo à frente - ele que é colega de equipa de Evenepoel. E Jay Vine? Na parte final do contrarrelógio, ele meteu um minuto em Van Wilder.

Três ciclistas muito felizes subiram ao pódio. A conclusão: ninguém faz um contrarrelógio mais rápido do que Remco Evenepoel. Ele infligiu a maior derrota da carreira a Pogačar. E esse resultado terá consequências para a corrida de estrada da próxima semana.

Primeiro a luta entre dois ciclistas que correm em equipas portuguesas e que alimentaram uma ou outra aposta para sabermos quem levaria a melhor. Artem Nych ou Byron Munton. O Sul Africano da Feirense levou a melhor sobre o Russo da Anicolor por uma margem considerável e arrumou com a questão. Munton tem tudo para poder discutir uma Volta a Portugal. Amanhã o café está pago.

Entre os muitos presentes em Kigali tinha alguma curiosidade no comportamento do francês Bruno Armirail e do norueguês Andreas Leknessund. Não esperava que ganhassem ou esperaria que pudessem sonhar com uma medalha. Ambos terminaram no Top-10, o norueguês ficou em 6º a 21 segundos do pódio, pelo que vou esperar pelos europeus para ver o que são capazes de fazer.

Depois tínhamos os dois nomes mais falados e um outsider que sem incidentes faria pódio. Todos pensávamos, eu inclusive, que Remco e Pogacar lutariam pela vitória e Vine fecharia o pódio. Teriamos dois Emirates e um Soudal a abrir o champanhe. Mas assistimos a uma hecatombe. Foram dois Soudal e um Emirates. E o homem da Emirates foi Jay Vine. Com ou sem justificação, Tadej Pogacar esteve a milhas daquilo que é capaz de fazer. Teve um dia mau, acontece. Mas tentar bater Remco Evenepoel num contrarrelógio é o mesmo que tentar bater Tadej Pogacar numa Grande Volta. Não é impossível, mas é difícil.

Foi penoso ver Pogacar arrastar-se ao longo do percurso, quilometro após quilometro. A imagem do dia, que irá ficar na memória de muitos, será a da ultrapassagem de Remco a Pogui. Não era a fotografia de aniversário que o esloveno desejaria. Ficar a um segundo da medalha de bronze, vale o que vale. Ilan van Wilder fez pela vida e fez por merecer. Chapêu aos belgas. 

Hoje foi um dia histórico para o ciclismo e penso que podemos dizer que foi humilhante para Tadej. Não só pelo facto de ter perdido para Remco Evenepoel, obviamente. Afinal de contas, o belga tem provado consistentemente ao longo dos últimos anos que é o melhor nos contrarrelógios. Mas este ano foi diferente, porque o percurso parecia mais adequado às caraterísticas de Pogacar.

Tinha quatro subidas e muitos metros de ganho de elevação - muito mais do que o habitual. Assim, no papel, isso prejudicava as hipóteses de Evenepoel e aumentava a oportunidade de Tadej ganhar uma das poucas corridas que não domina.

No entanto, o resultado foi completamente imprevisível. Evenepoel não só ganhou, como DEU UM ARREPIO nos seus rivais. Enquanto ciclistas como Del Toro, Pogacar, Vine ou Armirail estavam todos muito próximos uns dos outros, Evenepoel já tinha construído uma vantagem de 45 segundos em apenas 10 km. É uma demonstração absurda de força e a diferença não parava de crescer.

Apenas Jay Vine conseguiu minimizar as perdas, terminando 1:14m atrás de Remco, o que é notável. Pogacar não conseguiu parar a hemorragia e foi perdendo segundos a cada quilómetro, até que o impensável aconteceu.

Foi ultrapassado pelo seu principal rival, apesar de ter arrancado 2:30m mais cedo. Alguém como Pogacar, que tinha anunciado ter preparado cuidadosamente o contrarrelógio e cujo percurso lhe convinha na perfeição, foi destruído. É verdade que teve "azar", no sentido em que partiu imediatamente antes de Evenepoel, mas mesmo assim, ser ultrapassado é uma humilhação enorme para alguém como ele.

E a tortura não ficou por aqui. Primeiro, tentou seguir a roda de Remco na subida final, que deveria ser o principal ponto forte de Tadej, mas não conseguiu. Mais tarde, cruzou a meta com um tempo pior do que o de Jay Vine e também do que o de Ilan van Wilder, o que fez com que nem sequer tivesse direito a uma medalha. Não sei se a derrota de Pogacar para van Wilder estava no vosso cartão de bingo para hoje, para mim não estava, nem mesmo para o próprio van Wilder.