A terceira etapa da
Volta a França 2025 ficou marcada por um verdadeiro caos no pelotão, com quedas múltiplas, incluindo a que obrigou Jasper Philipsen a abandonar a corrida com fraturas na clavícula e nas costelas. O incidente voltou a colocar o tema da segurança dos ciclistas no centro das atenções, e um dos que não ficou indiferente foi
Michael Woods, da
Israel - Premier Tech, que expôs duras críticas à organização, ASO, na sua mais recente coluna para a Velo.
O canadiano recordou o briefing pré-Tour, organizado pela ASO na Ópera de Lille, e apontou o que considera ser uma incongruência gritante entre o discurso e a prática da organização.
"Na apresentação da nossa equipa, mesmo antes da grand départ, a ASO levou todos os ciclistas para a Ópera de Lille para o seu briefing anual. Como sempre, começaram com um vídeo dos melhores momentos do ano anterior: as vitórias na etapa, os cenários épicos e, claro, as quedas foram as principais caraterísticas do filme. Não importa o que a ASO diga, eles adoram acidentes. Apesar das suas alegadas "tentativas" de tornar o desporto mais seguro, fica-se com a sensação - ao ver qualquer filme de destaque que criam - que o que adoram vender é sangue, bicicletas partidas e um pobre coitado a ir parar a uma ambulância".
Segundo Woods, essa glorificação implícita dos momentos mais dramáticos revela uma clara desconexão com as preocupações reais dos ciclistas. Mas o mais preocupante, para o veterano corredor, veio no final da apresentação, quando um dos responsáveis da ASO apontou o dedo ao próprio pelotão.
"Um dos responsáveis falou dos esforços recentes para tornar o desporto mais seguro, mas no final atribuiu muitas culpas aos ciclistas. Algo como: ‘Os ciclistas também têm de tomar mais medidas para reduzir os riscos e, se não o fizerem, poderão ter de usar equipamento de proteção no futuro’".
Woods ficou chocado com a forma como o uso de proteção foi apresentado, não como salvaguarda, mas como punição.
"Foi como se o equipamento de proteção fosse uma ameaça. Isto mostra uma incompreensão total de como o desporto funciona".
Numa analogia com a NBA, Woods tentou simplificar o raciocínio:
"Dizer-nos que temos de correr menos riscos é como dizer ao Steph Curry que tem de fazer menos triplos. Se a NBA quisesse menos lançamentos de três pontos, mudava a linha. Se a ASO e a UCI querem tornar o ciclismo mais seguro, têm de fazer o mesmo: mudar as ‘linhas’".
Woods defende que a estrutura do desporto tem de ser alterada, e embora reconheça algum esforço da UCI e da ASO, nomeadamente através do grupo SafeR, criado para estudar e implementar medidas de segurança, considera que nada de suficientemente radical foi feito até agora.
"Estou otimista com o trabalho da SafeR, mas ainda nada foi feito que diminua drasticamente os riscos e as quedas. E ameaçar-nos com o uso de equipamento de segurança? Isso é absurdo".
"Basta olhar para os cotovelos, joelhos, ancas e mãos de qualquer ciclista neste pelotão. Qualquer pessoa de fora pensaria: ‘Por que raio não estou a usar equipamento de hóquei neste momento?’"
Para Woods, a resistência cultural ao uso de proteções no ciclismo de estrada é incompreensível e contraproducente. E acredita que há quatro áreas chave que devem ser revistas com urgência: "Reduzir a velocidade, diminuir o tamanho do pelotão, reduzir a distração e repensar o sistema de despromoção".