A tradição de atletas de desportos de inverno alcançarem o sucesso no ciclismo profissional tem sido cada vez mais recorrente. Depois de um tal
Primoz Roglic ter-se tornado um saltador de esqui medalhado na categoria de júniores, bem como
Jorgen Nordhagen que dá agora os primeiros passos na Team Visma | Lease a Bike, há um outro nome que embora não tenha sido tão bem sucedido nos desportos de inverno, atingiu agora o estatuto de estrela no ciclismo:
Florian Lipowitz. E se formos falar em atletas que brilharam noutros desportos podiamos também perfeitamente estar a falar de
Remco Evenepoel como futebolista de classe mundial. O agora Campeão Olímpico foi em tempos defesa esquerdo na formação do Anderlecht e do PSV Eindhoven. Outros casos que poderiam também ter sido bem sucedido são por exemplo
Michael Woods, que podia ter sido um maratonista, ou
Cameron Wurf, que foi remador e posteriormente atleta de maratonas Ironman.
Já sobre Lipowitz, natural da Alemanha, iniciou-se no ciclismo após uma lesão num ligamento cruzado enquanto fazia kitesurf o ter obrigado a abandonar a carreira de biatleta. O seu talento no ciclismo foi rapidamente reconhecido e em 2020 assinou pela Tirol, equipa austríaca de desenvolvimento. A sua evolução chamou a atenção da BORA, que o integrou na estrutura WorldTour em 2023. Em 2024, deu os primeiros sinais de grande classe ao quase vencer a etapa rainha da Volta à Romandia e, mais tarde, ao triunfar na Volta a Sibiu.
Mas foi na Volta a Espanha que se afirmou verdadeiramente, ao lado de Roglic. Trabalhou arduamente para ajudar o esloveno a vencer a classificação geral e, simultaneamente, assegurou um notável sétimo lugar, muito perto da camisola branca. A Vuelta serviu como trampolim para a temporada de 2025, onde se consolidou como um dos mais completos ciclistas de etapas: segundo na Paris-Nice, quarto na Volta ao País Basco e, sobretudo, terceiro no Critérium du Dauphiné, atrás apenas dos dois monstros da modalidade.
Apesar de partilhar a liderança da equipa no Tour com Roglic, a estratégia da
Red Bull - BORA - Hansgrohe funcionou na perfeição. Sem assumir o peso da corrida, Lipowitz pôde crescer na sombra, gerindo forças e posicionando-se silenciosamente no Top 10. Foi nos Pirenéus que começou a verdadeira subida rumo ao pódio, com destaque para o quarto lugar na chegada a Hautacam. O abandono de Evenepoel abriu-lhe a porta para o Top 3, mas Oscar Onley ainda ameaçou essa posição na 18.ª etapa.
Nesse momento de pressão, o jovem alemão respondeu com autoridade. No dia seguinte, atacou e voltou a ganhar margem, assegurando não só o pódio mas também a honra de ser o primeiro alemão em mais de uma década a figurar entre os três melhores da
Volta a França. Mesmo em Paris, sem qualquer sinal de contenção, atacou ao entrar no circuito final, encerrando o Tour com ousadia.
"É um sonho tornado realidade estar no pódio da Volta a França. Já pensava nisto há vários anos, mas nunca imaginei que fosse acontecer tão cedo", confessou Lipowitz, visivelmente emocionado. "Com o tempo hoje, não foi propriamente agradável, mas dei o meu melhor e estou feliz com o resultado. Aprendi muito. É apenas a minha segunda Grande Volta. Tive altos e baixos, mas acreditei sempre em mim. Quando comecei a pedalar, nem sabia se algum dia iria correr o Tour, e agora estou no pódio!"
A maturidade das suas palavras contrastou com a juventude do seu percurso. Mesmo em momentos de grande tensão, como na luta pela Camisola Branca, soube gerir a corrida com inteligência. "Depois do Dauphiné, sabia que tinha boas pernas, mas três semanas são outra história. Posso estar orgulhoso de mim, mas também de toda a equipa. Trabalhamos muito bem juntos e lutamos até ao fim. É algo muito especial", concluiu.
Com Roglic na reta final da carreira, a Red Bull parece ter em Lipowitz o seu sucessor natural para as Grandes Voltas. De biatleta promissor a nome incontornável no pódio dos Campos Elísios. Florian Lipowitz não é apenas uma aposta de futuro, é já uma certeza do presente.