Há quatro décadas que a França aguarda impacientemente pelo sucessor de Bernard Hinault. Desde 1985 que nenhum ciclista francês vestiu a Camisola Amarela em Paris, e embora nomes como Romain Bardet e Thibaut Pinot tenham alimentado a esperança, a vitória continua fora de alcance. Agora, com a ascensão meteórica de
Paul Seixas, a nação volta a sonhar, ainda que o diretor da
Volta a França,
Christian Prudhomme, prefira adiar as expectativas.
Durante a apresentação do percurso de 2026, em Paris, Prudhomme abordou o tema com a serenidade de quem conhece o peso da história e o risco da impaciência.
“Não teria nada contra o Paul Seixas se ele não participasse na Volta a França em 2026”, afirmou ao L’Équipe. “Também acho que ele é uma verdadeira joia. As pessoas que o rodeiam, os seus pais e a sua equipa, sabem muito melhor do que eu o que é melhor para ele.”
A esperança renasce com Paul Seixas
Em apenas um ano, o jovem da Decathlon AG2R La Mondiale tornou-se o símbolo da regeneração do ciclismo francês. Aos 19 anos, Seixas encerrou 2025 com uma série de prestações que o colocaram entre os melhores jovens do mundo:
- 3º lugar no Campeonato da Europa, ao lado de Pogacar e Evenepoel.
- Vitória na geral do Tour de l’Avenir, a prova que revelou gerações de campeões.
- 13º no Campeonato do Mundo em Kigali.
- 7º lugar em Il Lombardia, entre os melhores escaladores do pelotão.
Esses resultados não só confirmam o seu talento natural, como evidenciam uma rara combinação de leveza, resistência e inteligência táctica.
“O meu objetivo é um dia vencer a Volta a França contra Pogacar no auge”, disse recentemente o francês, num eco de ambição que fez vibrar o público nacional.
Mas até os maiores talentos precisam de tempo, e Prudhomme sabe-o.
Um percurso diferente e uma estratégia ponderada
O percurso de 2026, apresentado em Paris, promete ser muito diferente do de 2025, com mais quilómetros de montanha e um contrarrelógio exigente nas fases decisivas. O cenário ideal para quem domina o equilíbrio entre subida e resistência, mas talvez demasiado para um estreante.
“É um ciclieta talentoso. Será bem-vindo sempre que quiser vir, mas não ficarei desiludido se não estiver presente no próximo ano”, reforçou Prudhomme.
A Decathlon AG2R La Mondiale e o próprio Seixas já tinham sinalizado a intenção de adiar a estreia no Tour, privilegiando um processo de aprendizagem em provas de uma semana e clássicas montanhosas. A Volta à Suíça e o Critérium du Dauphiné são vistas como etapas ideais na sua progressão antes de enfrentar as três semanas mais intensas do ciclismo mundial.
A prudência de Prudhomme e o peso da história
A posição de Prudhomme é um sinal de realismo e proteção. A pressão mediática que acompanha um talento francês desta dimensão é imensa, e uma estreia precipitada poderia ser contraproducente.
O diretor da Volta a França recorda o exemplo de Jordan Jegat, que salvou a honra francesa em 2025 ao terminar no Top 10 da geral com a TotalEnergies, um feito importante, mas que não apaga a seca de vitórias.
“As pessoas querem um novo Hinault, mas isso não se cria de um dia para o outro”, comentou um jornalista presente na cerimónia.
Enquanto isso, a nação ciclística continua a projetar no jovem de Sarthe as esperanças de um país inteiro. Seixas, por sua vez, mantém os pés bem assentes no chão.
2027: o ano da consagração?
Com a maturidade física e mental ainda em desenvolvimento, 2026 deverá ser um ano de consolidação. Mas 2027 já surge no horizonte como o momento ideal para a estreia na Grand Boucle, talvez até como candidato ao pódio.
Até lá, o jovem francês continuará a afinar as suas armas e a crescer sob a orientação da equipa que o tem protegido com prudência e visão estratégica.
A França, habituada a esperar, parece disposta a fazê-lo mais um pouco. E se a história recente ensina alguma coisa, é que os grandes campeões não se apressam, constroem-se.