E3 Saxo Classic: o aperitivo ideal para a Volta à Flandres!

No coração da Flandres ciclística, onde os paralelos estremecem sob o peso da tradição e as subidas curtas moldam lendas, a E3 Saxo Classic é muito mais do que uma simples corrida. É um marco cultural, um teste decisivo e um prelúdio obrigatório para a Volta à Flandres.

Disputada anualmente em Harelbeke, a prova ganhou estatuto e prestígio desde a sua primeira edição, em 1958, e tornou-se uma das clássicas WorldTour mais respeitadas da primavera, sendo frequentemente apelidada de “mini Volta à Flandres” — e com razão.

De autoestrada na clássica flamenga

O nome “E3” não surgiu de um patrocinador, mas da antiga autoestrada E3, que ligava Lisboa a Estocolmo e passava perto de Harelbeke. A corrida chamava-se inicialmente Harelbeke–Antuérpia–Harelbeke, mas ganhou notoriedade ao adotar o nome da via europeia. Hoje, a estrada chama-se E17, mas o nome “E3” ficou — e tornou-se sinónimo de brilhantismo sobre paralelos.

Desde os tempos de Rik Van Looy, que venceu quatro vezes na década de 1960, a corrida rapidamente se afirmou como uma rampa de lançamento para os especialistas das clássicas. Museeuw, Raas, Tchmil, entre outros, brilharam aqui antes de triunfarem nos grandes Monumentos.

Tradição com raízes locais

Apesar das várias mudanças de nome e patrocinadores, a corrida nunca abandonou Harelbeke, e mantém-se organizada por um comité local — Hand in Hand vzw — e não pelo consórcio da Flanders Classics. Esta ligação íntima à comunidade dá-lhe um carácter caseiro único no calendário WorldTour.

Desde 2012, realiza-se à sexta-feira, permitindo um dia extra de recuperação antes da Gent-Wevelgem e consolidando o seu lugar na Semana Flamenga do Ciclismo. Para os locais, é uma celebração anual: escolas encerram, famílias saem à rua, tendas de cerveja ocupam as bermas das subidas, e as bandeiras do leão flamengo coloram aldeias inteiras.

Palco de lendas

A lista de vencedores da E3 é um verdadeiro “quem é quem” das clássicas:

• Tom Boonen venceu cinco vezes, transformando o Taaienberg no famoso “Boonenberg”.
• Fabian Cancellara brilhou com uma fuga épica de 35 km em 2013.
• Mais recentemente, nomes como Sagan, Van Avermaet, Kwiatkowski, Asgreen e Van Aert inscreveram os seus nomes no palmarés.

Em 2023, a corrida ofereceu um espetáculo sem precedentes: Van der Poel, Van Aert e Pogacar escaparam juntos a 80 km do fim, travando um duelo de gigantes. Van Aert venceu ao sprint, mas os três cruzaram a meta com quase dois minutos sobre o resto do pelotão. Foi a consagração definitiva da E3 como uma clássica de primeira linha.

Van der Poel e Van Aert estarão em ação esta sexta-feira

Mais do que um teste para a Flandres

A E3 funciona como ensaio geral da Volta à Flandres. Com 12 a 17 subidas, todas concentradas nos últimos 90 km, e um final plano após o Tiegemberg, oferece uma simulação perfeita da Volta à Flandres, num formato mais curto (200 km vs. os 270+ da Flandres).

Historicamente, quem brilha aqui está em forma para a Flandres: Boonen, Cancellara, Van der Poel e outros conseguiram a dobradinha. Para as equipas, a E3 permite afinar táticas, testar material e confirmar lideranças.

Corrida tática e imprevisível

A E3 exige potência nos paralelos, resistência nas subidas e astúcia tática. Com menos quilómetros do que a Flandres, os ataques são muitas vezes lançados mais cedo. O Taaienberg é um ponto estratégico — quem passa bem ali, entra na corrida a sério.

Vence-se de várias formas: fuga a solo (Cancellara em 2013), duelos táticos (Kwiatkowski vs. Sagan em 2016), ou sprints reduzidos. Com o vento e o posicionamento a desempenharem um papel crucial, a E3 continua a ser imprevisível e explosiva.

2024: mais um capítulo épico?

Na edição passada, Van der Poel venceu com a Camisola Arco-Íris após a queda de Van Aert. Foi o prelúdio do seu domínio na Volta à Flandres e na Paris-Roubaix. Este ano, o neerlandês chega embalado pela sua vitória na Milan-Sanremo, enquanto Van Aert procura resposta e redenção.

Com Pogacar fora da E3, o duelo volta a centrar-se nos dois principais rivais das clássicas modernas. No entanto, com nomes como Jorgenson, Asgreen, Laporte ou Pedersen em boa forma, as cartas estão longe de estar todas viradas.

Conclusão

Mais do que uma corrida de preparação, a E3 Saxo Classic é uma verdadeira joia das clássicas flamengas: com identidade própria, raízes profundas, e um percurso que testa tudo aquilo que um ciclista de primavera precisa.

Não é apenas uma “mini Volta à Flandres”. É uma corrida com alma, onde a comunidade e o ciclismo se fundem, e onde se começa a decidir quem poderá entrar na história da primavera belga.

A ação está marcada para sexta-feira. Quem levará a melhor rumo a Harelbeke? Van der Poel, Van Aert ou uma nova surpresa?

Seja qual for o desfecho, o espetáculo está garantido.

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