Durante décadas, poucos acreditaram que o legado de
Eddy Merckx pudesse ser verdadeiramente ameaçado no mundo do ciclismo. No entanto, nos últimos anos,
Tadej Pogacar tem vindo a afirmar-se com prestações tão impressionantes que já começa a ser colocado na conversa dos maiores de sempre.
A mais recente dessas demonstrações de classe aconteceu, no momento em que escrevemos, na La Flèche Wallonne, onde Pogacar demoliu a concorrência no temido Mur de Huy, lançando um ataque fulminante e vencendo com 10 segundos de vantagem - uma margem quase inédita numa chegada tão disputada. "Parecia que todos os outros estavam parados", recordou o próprio Merckx, três vezes vencedor desta clássica,
em citações recolhidas pela HLN.
"Foi verdadeiramente impressionante. Ele é, sem dúvida, o melhor ciclista da atualidade e também o mais completo", elogia o belga de 79 anos. "Nas clássicas, ainda enfrenta alguma resistência, mas nas corridas por etapas, quase ninguém lhe faz frente. Talvez apenas Jonas Vingegaard ou
Remco Evenepoel. Ele está a operar num nível completamente diferente".
As comparações entre Pogacar e Merckx têm sido inevitáveis, e o "Canibal" não as rejeita. "Sim, ele é o que mais me faz lembrar de mim próprio. Mas comparar gerações é sempre complicado", reflete o cinco vezes vencedor da Volta a França. "O ciclismo mudou muito, seja em termos de equipamentos, preparação ou abordagem. E, atualmente, há uma diferença enorme entre Pogacar e Evenepoel, por um lado, e o resto do pelotão, por outro".
Merckx também não esconde a sua admiração por Remco Evenepoel, elogiando o seu impressionante regresso após a longa paragem provocada por um acidente durante um treino no final do ano passado. "Não esperava que ele estivesse já em tão boa forma", confessa Merckx. "Ele surpreendeu-me na Brabantse Pijl, mas ainda mais na Amstel Gold Race, uma prova com 250 quilómetros. Tem feito um trabalho fantástico até agora".
No plano pessoal, o antigo campeão também atravessa uma fase mais positiva, depois de sérios problemas de saúde e de um acidente preocupante em 2023. "Passei por três meses e doze dias de verdadeiro sofrimento, mas agora sinto-me muito melhor", partilha. "No mês passado, não podia fazer nada. Nas últimas duas semanas, tive de permanecer completamente deitado por causa de problemas de circulação. Agora, já voltei a andar de bicicleta. Continuo a gostar de pedalar, à minha maneira. Não diria que estou nervoso, mas estou ansioso por voltar a sair quando o tempo melhorar".