Ele conseguiu de novo!
Tadej Pogacar garantiu sua segunda Camisola Arco-Íris consecutiva com um ataque surpreendente de mais de 100km na competição de estrada para homens da elite no Campeonato Mundial de 2025 em Kigali. O melhor dos restantes?
Remco Evenepoel ficou com a prata e
Ben Healy ficou com o bronze.
A maior corrida de um dia da temporada arrancou no domingo de manhã sob o sol ruandês, com uma multidão expectante aguardando o confronto pela Camisola Arco-Íris. Desde a partida, a corrida foi animada, com tentativas repetidas de fuga até que uma fuga finalmente se formou.
Depois de uma série de ataques, seis corredores conseguiram estabelecer a fuga do dia: Anders Foldager, Ivo Oliveira, Marius Mayrhofer, Julien Bernard, Fabio Christen e Menno Huising. Mais tarde, foram acompanhados por Raúl García Pierna, que fez a ponte após um início de perseguição. Durante grande parte da primeira parte da corrida, a vantagem deles manteve-se na casa dos três minutos, com a Eslovênia e a Bélgica a vigiar de perto do pelotão. Até o México deu uma mão na definição do ritmo para garantir que os escapados nunca ganhassem muita vantagem.
Quedas e abandonos rapidamente tornaram-se um tema do dia. Uma escorregadela numa descida curta levou ao chão Marc Soler, Ilan van Wilder e outros, com Soler a ser o mais afetado. Ambos acabaram por abandonar a corrida, juntando-se a uma lista crescente de nomes que desistiram, incluindo Julian Alaphilippe, que surpreendentemente abandonou cedo depois de perder o contacto quando o pelotão acelerou. Louis Barré, Felix Engelhardt e Will Barta também abandonaram a corrida, enquanto Iván Romeo, de Espanha, abandonou por doença depois de trabalhar desde cedo para a sua equipa. A meio da corrida, mais de 50 corredores já tinham abandonado.
Na frente, a fuga começou a desintegrar-se à medida que o ritmo aumentava. Oliveira, Foldager e Bernard seguiam na frente enquanto o pelotão reduzia a distância para menos de dois minutos, enquanto Mayrhofer, Huising e Christen foram alcançados. García Pierna resistiu inicialmente mas foi também logo apanhado. Lá atrás, a zona decisiva do percurso aproximava-se: Mont Kigali, uma subida de 5,9 km com uma média de 6,7%. Seria subido apenas uma vez, mas o seu impacto prometia espetáculo.
Quando o pelotão chegou às encostas do Mont Kigali, Bélgica e Eslovénia assumiram novamente a perseguição, impondo um ritmo poderoso que imediatamente pôs em sentido o pelotão. Biniam Girmay estava entre os corredores que perderam contacto, assim como vários gregários que já tinham dado tudo mais cedo na corrida. Sobrero e Fortunato também ficaram distantes da fuga, deixando Bernard sozinho na frente com uma pequena vantagem de aproximadamente um minuto.
Então, com 100km por decorrer, a corrida explodiu. Domen Novak impôso ritmo para a Eslovênia antes de Tadej Pogacar lançar um ataque voraz na subida. Só o seu colega de equipa da UAE Team Emirates - XRG, Juan Ayuso, conseguiu responder, enquanto Isaac del Toro, do México, rapidamente fez a ponte para formar um trio poderoso. Ayuso, no entanto, começou logo a sentir dificuldades, incapaz de acompanhar as acelerações brutais dos seus colegas.
Del Toro e Pogacar prosseguiram juntos, abrindo espaço na estrada atrás deles. Um grupo perseguidor de cerca de 20 ciclistas, incluindo Primoz Roglic, Mattias Skjelmose,
Afonso Eulálio, Paul Seixas, Ayuso e Richard Carapaz, mantinha-se a 40 segundos, com um segundo grupo incluindo Remco Evenepoel já a uma boa distância. A estrela belga, que perseguia uma segunda Camisola Arco-Íris em estrada, estava visivelmente em dificuldades e incapaz de responder às mudanças súbitas de ritmo.
Com 95km para a meta, Pogacar e del Toro continuavam na frente, mas a perseguição prosseguia. O pelotão principal ficou reduzido para cerca de 30 corredores, incluindo seleções como Itália e Austrália que ainda possuíam força em números, embora a falta de coesão dificultasse a perseguição. Jay Vine deu tudo pela Austrália antes de perder o contato, enquanto Egan Bernal juntou-se à longa lista de abandonos.
Logo depois, del Toro cedeu ao cansaço, deixando Pogacar sozinho na liderança. O esloveno inicialmente diminuiu o ritmo, parecendo relutante em seguir sozinho tão distante do final, e até olhou para trás para encorajar o mexicano a aguentar-se. Mas o mexicano estava claramente esgotado, e Pogacar finalmente dedicou-se ao seu esforço solo. Com 62km para a meta, ele liderava por aproximadamente 50 segundos sobre os perseguidores, com o pelotão a mais 15 segundos de distância. Del Toro estava a cair para trás rapidamente, as suas hipóteses de uma medalha começavam a desvanecer-se.
Lá atrás, a falta de organização continuava a atrapalhar as perseguições. Ataques dispararam do pelotão, com Mikkel Honoré, Pavel Sivakov e Ben Healy a formar um grupo de perseguição perigoso que começou a aproximar-se baixando a diferença para cerca de 35 segundos. Enquanto isso, Evenepoel sofreu mais percalços. Depois de parar frustrado para pedir a troca da bicicleta, a sua raiva para com a ausência do carro da equipa era bem visível. Finalmente trocou de bicicletas mas acabou por ficar ainda mais atrasado, acabando por ficar a 1:30 do grupo perseguidor antes de conseguir reagrupar.
O belga em seguida, tomou a situação em suas próprias mãos. Com 60km ainda por correr, Evenepoel lançou uma aceleração forte, alcançando del Toro e varrendo os perseguidores anteriores. O seu esforço dividiu imediatamente o que restava dos pelotão, com apenas Healy, Skjelmose, Tom Pidcock e Jai Hindley ã conseguir seguir. Juntos, reduziram a vantagem para Pogacar para cerca de um minuto, enquanto Ayuso e Seixas ficavam para trás.
Com 50km para a meta, a situação na corrida era clara: Pogacar seguia sozinho, Evenepoel liderada um pequeno grupo de elite um minuto atrás, e o pelotão ficava ainda mais para trás. Contudo, a situação de Evenepoel era evidente, apesar de estar a fechar a distância, ele estava a fazer todo o trabalho sozinho, de cabeça baixa, sem colegas de equipa e com pouco apoio dos que o seguiam. Pogacar, por outro lado, parecia ter total controlo enquanto a corrida entrava na sua fase decisiva.
Aos 40 km para o final, o esforço do ritmo de Evenepoel começava a mostrar-se. Tanto Pidcock como Hindley foram deixados para trás, ficando a cerca de 30 segundos do trio liderado pelo belga. Ayuso e Seixas também não conseguiam reagir, deixando-se descair para um pelotão que agora se encontrava quase três minutos atrás de Pogacar. Estava cada vez mais claro que as medalhas seriam disputadas entre o esloveno na frente e os perseguidores atrás.
A 30 km do final, Pogacar ainda mantinha uma liderança de 1:10 sobre Evenepoel, Healy e Skjelmose, com Pidcock a 2:50 e o pelotão a uns distantes 3:30. A dinâmica entre os perseguidores até proporcionou um raro momento de descontração: Healy e Skjelmose foram vistos a partilhar bidões, um pequeno gesto de camaradagem reminiscente dos Jogos Olímpicos do ano anterior, quando Healy recebeu um bidon de Toms Skujins. Desta vez, foi o dinamarquês a dar uma ajuda ao irlandês, mesmo enquanto lutavam desesperadamente para manter viva a esperança do pódio.
A 25 km do final, a vantagem de Pogacar aumentou ainda mais, o esloveno já com mais de 1:20 de distância. Pidcock encontrava-se quase quatro minutos atrás, enquanto os restantes membros do pelotão estavam a cinco minutos. O poder de Evenepoel começava a oprimir os seus companheiros, e era só uma questão de tempo até ele seguir sozinho, deixando para trás Skjelmose e Healy para confirmar a medalha de prata.
A 20 km do final, o panorama estava firmemente estabelecido: Pogacar caminhava rumo ao ouro, Evenepoel sozinho na perseguição mais de um minuto atrás, e a disputa pelo bronze reduzida a Healy e um Skjelmose que tentava desesperadamente se aguentar. Enquanto Pogacar cruzava com aparente facilidade os paralelos do Cote de Kimihurura, o belga alcançou as mesmas encostas cerca de um minuto depois.
Apesar de Evenepoel ser indiscutivelmente o melhor contrarrelogista do mundo, o belga não conseguiu reduzir a distância contra um Pogacar em fúria. Quando chegou a 10 km do final, Pogacar tinha aumentado a sua liderança para 1:24 sobre o seu perseguidor mais direto.
Com os dois primeiros lugares do pódio decididos, a última coisa a decidir era a medalha de bronze. Dentro dos 5 km, Healy lançou um ataque decisivo e Skjelmose simplesmente não conseguiu responder, o irlandês conseguiu garantir o seu lugar ao lado de Pogacar e Evenepoel nas celebrações pós-corrida.
Já bem longíncuos, os perseguidores foram cruzando a meta um a um com destaque para Afonso Eulálio que terminou em 9º lugar garantindo o primeiro Top 10 em campeonatos do mundo desde Rui Costa em 2019. Um novo marco na carreira do ciclista da Figueira da Foz que cumpre a sua primeira época ao nível do World Tour.