Entre a glória e o desgaste: Marlen Reusser e o preço da perfeição

Ciclismo
terça-feira, 28 outubro 2025 a 20:15
Marlen Reusser
A vencedora do Campeonato do Mundo de contrarrelógio de 2025, Marlen Reusser, ainda está a digerir o impacto da sua conquista em Kigali. Aos 34 anos, a suíça descreve o esforço que lhe valeu a camisola arco-íris como “um dos mais duros da vida”, num ano em que também venceu a Volta à Suíça, subiu ao pódio na Volta a Itália e na Volta a Espanha, e consolidou o seu estatuto como uma das melhores especialistas do mundo.
Em entrevista ao jornal Blick, Reusser admitiu que o caminho até ao topo foi tudo menos linear.
“Foi uma época super fixe”, afirmou, “mas também muito difícil. Tive vários contratempos e, por vezes, leram-se coisas injustas. Diziam que eu estava sempre doente ou que tinha problemas crónicos, o que não é verdade. No Giro tive uma infeção estomacal, antes da Volta a França comi algo estragado e mais tarde apanhei uma gripe. São coisas normais, mas deram a entender que havia algo mais grave.”

“Um bom contrarrelógio é uma batalha contra nós próprias”

Reusser, uma das ciclistas mais meticulosas e consistentes da sua geração, descreveu o Campeonato do Mundo em Kigali como o ponto culminante de uma época extenuante.
“Um bom contrarrelógio significa levarmo-nos ao limite”, explicou. “É uma batalha contra nós próprias, é isso que o torna especial, mas não é necessariamente agradável. O contrarrelógio do Mundial deste ano custou-me sete vidas.”
Mesmo habituada ao sofrimento controlado da disciplina, Reusser reconhece que o triunfo no Mundial a esgotou física e emocionalmente. A pressão, a altitude e o calor de Kigali tornaram a corrida particularmente dura, e o sabor da vitória, ainda mais intenso.
Reusser também competiu na estafeta mista da Suíça
Reusser também competiu na estafeta mista da Suíça

Uma campeã em reflexão

Depois de um ano praticamente perfeito, a suíça pondera agora reduzir o calendário e ser mais seletiva nas provas que escolhe.
“Consigo imaginar-me a falhar um contrarrelógio a dada altura. Gosto do desafio, mas não quero fazê-lo mais 25 vezes na minha vida”, confessou.
A ambição continua viva, mas o horizonte já inclui o tema da longevidade. Reusser admite que não sabe se continuará em atividade até aos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028, onde terá 37 anos.
“Claro que não me sai da cabeça”, admitiu. “Mas, sinceramente, não sei se ainda estarei a correr nessa altura. Seria um desafio incrível, mas ainda tenho de decidir se o quero aceitar.”

Descanso merecido, futuro em aberto

Por agora, a campeã mundial planeia um merecido período de descanso, antes de regressar aos treinos em novembro.
“Gosto de me manter ativa, mas também consigo desligar-me facilmente. Não tiro férias no sentido tradicional, mas alguns dias fora da bicicleta fazem-me bem. Estou motivada, mas também sei que não vou fazer isto para sempre.”
Reusser, que também ajudou a Suíça na estafeta mista durante o Mundial, termina a época como uma das figuras incontornáveis do ciclismo feminino moderno, uma atleta cuja força e honestidade a tornaram admirada dentro e fora do pelotão.
Se o seu contrarrelógio em Kigali lhe “custou sete vidas”, foi também o esforço que a eternizou como uma das grandes da modalidade.
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