A Jayco AlUla, um dos nomes mais históricos do pelotão australiano, encontra-se numa situação delicada. A equipa não apresentou a tempo a documentação necessária para renovar a licença WorldTour masculina para a temporada de 2026, nem a versão feminina, Liv AlUla Jayco, cumpriu o mesmo requisito no primeiro prazo oficial de registo.
A ausência de ambas da lista preliminar da UCI, divulgada no final de outubro, causou surpresa e preocupação entre adeptos e patrocinadores. Contudo, a entidade máxima do ciclismo mundial deixou claro que o atraso não implica automaticamente a perda da licença, e que as formações ainda podem regularizar a situação antes do fecho do processo.
“Ainda têm a possibilidade de retificar a sua situação antes do final do processo de registo, o que lhes permitiria serem registadas para a época de 2026”, indicou a UCI no comunicado oficial de 20 de outubro.
A origem do problema: a garantia bancária
Segundo o
Escape Collective, o entrave está relacionado com a ausência da garantia bancária obrigatória, equivalente a 25% dos salários anuais de ciclistas e staff, num montante estimado entre 3 e 4 milhões de euros.
Essa garantia é uma exigência contratual da UCI para assegurar a estabilidade financeira das equipas de topo e garantir o pagamento de vencimentos em caso de dificuldades financeiras.
Uma fonte interna da Jayco AlUla, citada pelo
Cyclingnews, minimizou o caso: “É apenas uma questão de papelada e esperamos que seja resolvida em breve.”
A mesma fonte não confirmou, porém, se o atraso está diretamente ligado à falta da garantia bancária.
Risco temporário para os ciclistas sob contrato
Enquanto a situação não for regularizada, há implicações diretas para os ciclistas atualmente sob contrato com a Jayco AlUla e a Liv AlUla Jayco.
De acordo com os regulamentos da UCI, os corredores de equipas que não cumpram o prazo de registo podem rescindir os seus contratos antecipadamente sem penalizações, podendo assinar livremente por outras formações. “Os ciclistas destas equipas podem rescindir os seus contratos antecipadamente, mas este direito caducará se a equipa for posteriormente registada”, esclareceu a UCI.
O precedente mais recente ocorreu no final de 2024, quando Cédrine Kerbaol deixou a CERATIZIT-WNT após a equipa alemã falhar o primeiro prazo de inscrição, assinando pouco depois pela EF Education-Oatly.
A corrida contra o tempo
O prazo final para o fecho das inscrições termina a 10 de dezembro de 2025, data em que a UCI divulgará a lista definitiva de equipas World Tour para 2026.
Caso a Jayco AlUla e a Liv AlUla Jayco consigam apresentar toda a documentação exigida, as suas licenças serão automaticamente renovadas, uma vez que ambas garantiram o direito desportivo através das suas posições no ranking UCI 2023–2025.
Mas se o impasse persistir, as consequências poderão ser sérias: a Cofidis, atualmente 19.ª classificada, poderá manter-se no WorldTour como equipa de reserva, ocupando a vaga deixada pelos australianos.
Um sinal de alerta no projeto australiano
Fundada em 2012 sob a licença GreenEdge, a estrutura Jayco tem sido uma das mais estáveis do pelotão internacional. A parceria com a AlUla, estabelecida em 2023, reforçou a vertente internacional da equipa, enquanto o programa feminino Liv AlUla Jayco se consolidou como um dos projetos mais fortes do circuito do World Tour feminino
A situação atual, embora aparentemente administrativa, lança uma sombra de incerteza sobre um projeto que tem em ciclistas como Simon Yates, Michael Matthews e Mauro Schmid algumas das suas figuras centrais.
Nos próximos dias, a equipa australiana terá de provar que a burocracia é apenas um contratempo, e não o prenúncio de uma mudança estrutural mais profunda.