Entrevista a Luka Mezgec: "Os sprints agora são muito perigosos. Muitas vezes andamos seis tipos a 80km/h lado a lado"

Ciclismo
sexta-feira, 04 julho 2025 a 20:21
lukamezgec
Na véspera da 111.ª edição da Volta a França, a equipa Team Jayco AlUla recebeu os meios de comunicação social em Lille, onde as suas principais figuras partilharam expectativas e reflexões. Entre elas esteve Luka Mezgec, chefe de fila de Dylan Groenewegen, que deverá deixar a equipa no final da temporada. O esloveno falou com o CiclismoAtual sobre a sua preparação, a evolução dos sprints no ciclismo moderno e a importância de aproveitar ao máximo esta última campanha com o sprinter holandês.
Pergunta: Esta será já a sua sexta Volta a França consecutiva. Nota alguma diferença em relação às anteriores?
Resposta: Na verdade, não. Talvez um pouco menos de stress. A apresentação ontem foi bastante simples, por isso, sim, nada de particularmente diferente desta vez.
P: O ambiente é especial, até porque começamos em território francês este ano.
R: Sim, penso que é a primeira vez que começo uma Volta a França em França. Já começámos em Itália, no País Basco, na Dinamarca... Já não me lembrava da última vez em que fizemos só estradas francesas. Isso é novo.
P: Como correu a sua preparação para esta edição?
R: Foi diferente. Nos últimos cinco anos fiz sempre um estágio de altitude de um mês, depois uma ou duas corridas e seguia para o Tour. Este ano estive sempre a competir, por isso não houve tempo para uma preparação específica. Será a minha primeira Volta sem estágio em altitude — estou curioso para ver o impacto nas próximas três semanas.
P: Considera que a preparação através da corrida, sobretudo ao lado do Dylan, pode compensar a ausência de altitude?
R: Não sei. Sempre respondi muito bem aos estágios de altitude, por isso estou algo cético quanto a esta abordagem ser melhor. Mas os primeiros dez dias não exigem tanto em termos de resistência acumulada. O importante será estar forte, ágil, e nesse sentido talvez esta preparação sem altitude seja vantajosa.
P: Como treina a sua função de chefe de fila, algo em que é hoje reconhecidamente um dos melhores do pelotão?
R: Tudo começa com a velocidade, temos de ser suficientemente rápidos. Mas mais do que isso, é a experiência: ler o final de corrida, interpretar o posicionamento do pelotão, conhecer o traçado. Em cada prova recolhemos dados e adaptamo-nos. Ao fim de tantos anos no WorldTour, os movimentos tornam-se naturais. Já não preciso de tanta preparação específica, mas sim de saber quando e onde agir. Hoje em dia os sprints mudaram muito. Já não se constrói um comboio longo como antes, agora é uma batalha pela posição entre cinco ou seis ciclistas, todos a dois metros uns dos outros.
Hoje, quem lança de forma perfeita já não tem garantias de vencer, porque a velocidade é tão alta que sair em segundo pode ser demasiado desgastante. Quem vem de trás, com o slipstream certo, pode ganhar mais velocidade e triunfar. Muitas vezes termino o meu trabalho a 500, 600 ou até 700 metros do fim, quando antes era a 200. Tudo depende do tipo de chegada. Se for em estrada larga, basta abrir espaço ao nosso sprinter e esperar que ele finalize.
P: Considera os sprints mais perigosos hoje do que quando começou?
R: Sim, as velocidades são muito mais altas. Hoje toda a gente usa pratos de 56 ou 55 dentes, o que significa que os sprints finais são muito mais rápidos. Há 10 anos, a velocidade máxima era de 63–65 km/h. Agora, raramente baixamos dos 70 e, muitas vezes, estamos mais perto dos 80. Isso muda tudo, do posicionamento ao grau de risco.
P: Circulam rumores sobre a saída do Dylan Groenewegen. Essa realidade afecta a vossa relação em corrida?
R: Não, de todo. Especialmente com a ligação que eu e o Dylan criámos. Até brincámos que, se no próximo ano não tivermos um sprinter, talvez ele continue a vir às corridas comigo. Mas não, quero fazer ainda mais por ele agora, porque sei que os nossos dias em conjunto estão contados. Quero que esta seja a nossa melhor Volta.
P: E o sábado pode ser logo o dia mais importante do ano...
R: Sim, é a primeira vez, desde que estamos juntos nesta equipa, que temos uma verdadeira hipótese de vestir a Camisola Amarela na primeira etapa. Nos anos anteriores, a etapa inaugural era sempre demasiado difícil para ele. Esta é diferente, ele está motivadíssimo. Esperamos que tudo corra como planeado.
P: Como esloveno, qual é a sua opinião sobre a esperada batalha entre Pogacar e Vingegaard?
R: Pelo que vimos este ano e no ano passado, acho que se o Pogi não tiver um dia mau ou não adoecer, é praticamente imbatível. O Jonas pode ganhar uma etapa, mas honestamente vejo o Tadej como o grande favorito, claramente.
P: Qual seria o seu cenário de sonho para esta Volta?
R: Ganhar uma etapa com o Dylan e conseguir a Camisola Amarela. Isso seria o melhor que poderia viver nesta Volta a França.
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