ENTREVISTA: "Achei que iam voltar a alcançar-me" - Lenny Martínez sobre ter batido Pogacar e Vingegaard; vitória sobre João Almeida

Ciclismo
quinta-feira, 18 dezembro 2025 a 21:29
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Lenny Martínez completou a primeira época na Bahrain - Victorious, uma campanha com saldo positivo, ainda que com alguns quase. O CiclismoAtual e o CyclingUpToDate conversaram com o jovem francês sobre o polémico sistema de pontos da montanha da Volta a França e o seu regresso; a vitória sobre João Almeida na Volta à Romandia; e o dia em que foi perseguido por Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard no Critérium du Dauphiné.
Em dezembro de 2024, o cenário era bem diferente para Martínez. Estava em Altea com a nova equipa, mas proibido de falar à imprensa generalista por ordem da sua antiga formação, a Groupama – FDJ, de onde saiu em termos pouco amistosos. Agora, com as cores da equipa do Bahrein, trouxe um sorriso aberto e um forte sotaque francês à mesa, onde abordou vários temas interessantes sobre o que enfrentou em 2025 e o que aí vem no próximo ano, incluindo todo o calendário para a primavera e o verão.
Sem surpresa, Martínez confirmou o regresso à Volta a França: “Para mim é certo que faço o Tour, e o programa será o mesmo”, adiantou. O princípio “não mexer no que está bem” aplica-se ao que fará no próximo ano, enquanto passa pelas corridas do seu plano. “Só troquei o Dauphiné pela Suíça. É a Clássica Var e a Volta aos Alpes Marítimos (em fevereiro). Depois Paris–Nice, Catalunha, Romandia, Flèche Wallonne, Volta à Suiça, Tour…”
Isto significa que em Romandia, Suiça e Tour terá de medir forças com ninguém menos que Tadej Pogacar: “Sim, mas não é um problema para mim. Tentamos seguir o mais que pudermos”.
Este ano foi de adaptação, num pelotão com muitas caras novas na equipa, e a integração num ambiente mais internacional, muito distinto do que tinha em França. “Sim, no início foi difícil com o inglês, agora está tranquilo. Estou muito contente com a decisão. Sinto-me bem na equipa, honestamente. Uma equipa super forte à minha volta e sinto que posso progredir aqui”.
Começou o ano em bom plano e depois somou o primeiro grande triunfo no Paris–Nice, batendo vários nomes sonantes na chegada em rampa da etapa 5, em La Côte-Saint-André, no dia em que Jonas Vingegaard caiu e viu a primavera terminar. As credenciais para a geral pareciam sólidas, mas no dia seguinte, com vento lateral e chuva, perdeu todas as hipóteses de um bom resultado.
Pelo seu perfil leve, este é um ponto fraco, e não é algo que possa afinar diretamente no treino. “Não, acho que isto virá naturalmente. Tento apenas ser o melhor. Quero ser melhor em termos de rendimento do que este ano. Todos os anos quero ser melhor e penso que isso me levará a bons resultados”. Em Auron, no dia seguinte, voltou a estar entre os melhores, provando maior consistência.
Na Volta à Catalunha, na semana seguinte, terminou quinto na geral, numa corrida com várias etapas duras. Seguiu-se um quarto lugar forte na Flèche Wallonne, a confirmar que pode discutir também as provas de um dia, as certas. A forma era excelente e na Volta à Romandia voltou a vencer, impondo-se na chegada ao Thyon 2000 após seguir ninguém menos do que João Almeida, vencedor de várias grandes corridas ao longo do ano.
Martínez bateu João Almeida na Volta à Romandia, sem espinhas. @Sirotti
Martínez bateu João Almeida na Volta à Romandia. @Sirotti
“Foi muito bom. Foi um dia super duro também, estava um pouco receoso. Quase ganhei a geral, mas sabia que seria complicado com o João [Almeida], porque ele é muito bom no contrarrelógio e eu não podia fazer mais”, admite. O 13º lugar no exercício final também mostrou clara evolução na especialidade, algo que no futuro pode colocá-lo taco a taco com rivais diretos e ajudar nas aspirações de Grandes Voltas. Perdeu a Romandia para Almeida, mas fechou num importante segundo lugar.
A consistência é talvez o seu maior desafio, mas aos 22 anos é algo que pode melhorar de forma significativa. “Acho que em alguns dias posso estar perto de um corredor super, mas talvez eles tenham mais experiência, não sei. São mais regulares, como o segundo lugar na Vuelta (refere-se a Almeida)”.

Perseguido por Pogacar e Vingegaard

Depois, no Critérium du Dauphiné, Martínez voltou a acertar, vencendo a etapa final no Plateau du Mont-Cenis, único sobrevivente da fuga do dia, resistindo aos ataques de Jonas Vingegaard por trás e ao camisola amarela Tadej Pogacar que o seguia. Descreve aqueles minutos de tensão sabendo quem vinha exatamente na sua roda.
“Sim, ia a fundo nessa altura. Estava um pouco assustado, mas foquei-me em mim, dei o máximo e, quando vi os últimos 500 metros, disse ‘ok, de certeza que ganho’. Honestamente, nessa etapa pensei que eles iam voltar e ganhar, mas no fim foi diferente”, sorriu. Talvez o momento alto do seu ano, mas não o último.
Lenny Martínez em lágrimas após vencer a etapa 8 do Critérium du Dauphiné 2025
Lenny Martínez resistiu a Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard para vencer a etapa 8 do Critérium du Dauphiné
E ele próprio assim o define: “Dauphiné, acho eu, porque no dia anterior estava quase doente, não esperava nada desta etapa, e ganhei, foi totalmente surpreendente para mim”.
Seguiu-se a Volta a França, a primeira fora da Groupama. Mas isso não mudou o carinho do público francês. “Acho que estando numa equipa francesa, ou noutras equipas, é igual, porque é o Tour, todas as equipas querem render. Ok, sou francês, talvez um pouco mais, mas não sinto que seja anormal haver pressão, é boa pressão, é igual em todo o lado, é o Tour, é normal”.

Sistema de pontos da Volta a França é injusto

Martínez, Pogacar e Vingegaard no final da etapa 10 deste ano no Tour. @Sirotti
Martínez, Pogacar e Vingegaard no final da etapa 10 deste ano no Tour. @Sirotti
Não conseguiu um grande resultado em etapas, mas liderou vários dias a classificação da montanha. Terminou, porém, em terceiro, atrás de Pogacar e Vingegaard, nenhum deles a disputar a camisola. O sistema de pontos no Tour favorece claramente os homens da geral, algo que desagrada a Martínez.
“Acho que não é bom, de certeza, o sistema de pontos”, diz-nos. “Agora é como: se eles quiserem ganhar a etapa, vão ganhar a etapa. Ele (Pogacar) tem uma equipa muito forte à volta, tipos super fortes, e podem controlar a corrida para ele, por isso é complicado, mas tentamos e talvez um dia eu consiga chegar até ele”.
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