Após 15 anos de presença no pelotão profissional, a Wagner Bazin WB deixará de existir em 2026. A histórica equipa continental belga, que começou como Wallonie-Bruxelles e atravessou várias identidades ao longo da última década, chega ao fim entre desentendimentos internos, frustração desportiva e um colapso na relação com o patrocinador principal, Philippe Wagner.
Um projeto que se desfez de dentro para fora
A notícia foi confirmada por Christophe Brandt, gestor da equipa, ao La Dernière Heure. Brandt, que entrou na estrutura em 2014, acompanhou a sua evolução através de múltiplas designações — Veranclassic Aqua Protect, Bingoal Pauwels Sauzen WB e, finalmente, Wagner Bazin WB.
“Não foi uma escolha própria. Mas depois de tanta insatisfação e atritos com o patrocinador Wagner, já não vejo possibilidade de continuar”,
disse ao La Dernière Heure.
O ano de 2025 foi particularmente difícil. A equipa terminou apenas na 33ª posição do ranking UCI das equipas ProTeam, à frente de estruturas modestas como a Flanders-Baloise e a Novo Nordisk, e em 69º lugar no ranking geral de pontos UCI.
“Tínhamos bons ciclistas, com potencial para se tornarem profissionais sólidos, mas foi difícil obter resultados imediatos. A alguns não se deram todos os meios necessários para atingir o seu melhor nível”, lamentou Brandt.
“O ego do Sr. Wagner ficou ferido”
Segundo Brandt, a tensão com o patrocinador Philippe Wagner, proprietário da marca de charcutaria que deu nome à equipa, agravou-se à medida que os resultados não apareciam.
“Acho que o ego dele ficou ferido”, disse Brandt. “Para voltar a vencer, quis obrigar-nos a participar em corridas menores, mas já tínhamos compromissos assumidos noutros eventos que garantiam visibilidade aos nossos parceiros. Isso gerou conflitos de agenda e de prioridades.”
Apesar das dificuldades, o projeto de Brandt tinha conseguido formar ciclistas que hoje integram o World Tour, como
Laurenz Rex, Alex Kirsch, Lionel Taminiaux, Stan Aniolkowski, Matteo Malucelli e Matthijs Paasschens.A ruptura: “Wagner construiu uma equipa nas minhas costas”
O ponto de ruptura surgiu quando Brandt descobriu que Philippe Wagner estava a negociar diretamente com ciclistas e colaboradores da equipa, preparando a criação de uma nova estrutura.
“Houve cada vez menos comunicação entre nós... até que, em junho, soube que o Wagner estava a construir uma equipa nas minhas costas”, revelou Brandt. “Chegou mesmo a contactar ciclistas que tinham contrato connosco para se juntarem ao seu novo projeto.”
Para Brandt, o comportamento do patrocinador ultrapassou o limite da ética desportiva e empresarial. “Tenho a impressão de que o Philippe Wagner queria aproveitar-se de tudo o que construímos em dez anos para se apropriar disso. O nosso know-how, os nossos colaboradores, a nossa rede. Mas então teria sido melhor que tivesse comprado a equipa. Teria sido mais claro do que fingir que estavam a construir um novo projeto.”
O fim de uma era para o ciclismo valão
Com o fim oficial da estrutura e a não renovação da licença UCI para 2026, desaparece também uma das equipas mais emblemáticas do ciclismo belga fora do World Tour.
A Wallonie-Bruxelles e os seus sucessores nunca foram uma potência financeira, mas desempenharam um papel essencial no desenvolvimento de jovens talentos da região da Valónia e serviram como plataforma de ascensão para inúmeros profissionais.
“É triste ver terminar algo que foi construído com tanta dedicação. A nossa ambição sempre foi formar e lançar ciclistas, e nisso tivemos sucesso”, concluiu Brandt.
Assim, fecha-se um capítulo importante do ciclismo belga, deixando um vazio e uma sensação agridoce entre os que viram na WB um símbolo de perseverança, regionalismo e paixão genuína pelo ciclismo.