Esposa de Van Aert fala do sofrimento dos familiares dos ciclistas e desencadeia outros desabafos: "Perguntamo-nos se vale a pena"

Ciclismo
quinta-feira, 22 maio 2025 a 3:30
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A imagem de Sarah De Bie, emocionada na Piazza del Campo, marcou tanto quanto o triunfo de Wout van Aert. As lágrimas da esposa do ciclista belga deram voz a um sofrimento muitas vezes invisível no mundo do ciclismo profissional: o peso das quedas, das recuperações, da pressão constante - e da dúvida se tudo isso vale mesmo a pena.
"Não é nada bom ter de estar sempre a remendar as coisas. Nesses momentos, perguntamo-nos se vale a pena. Mas isso torna tudo ainda mais bonito", disse Sarah, em declarações ao Sporza, depois de Van Aert regressar às vitórias com um desempenho magistral em Siena.
O depoimento de Sarah inspirou Friedel Guldemont, companheira do ciclista belga Alex Colman, a partilhar publicamente o seu próprio testemunho. Através de uma carta aberta, Guldemont ofereceu não uma reação, mas um eco solidário e pungente da realidade vivida por tantas famílias ligadas ao ciclismo de elite - sobretudo aquelas que não brilham sob os holofotes.
"A boa vontade para com Wout e a sua família é, com razão, muito grande. O quadro que a Sarah pintou da ‘manta de retalhos de todas as vezes’, a pressão elevadíssima, a luta para voltar sempre... tocou-me. Porque é a realidade de muitos neste desporto, incluindo nós", escreveu.
Guldemont recordou como o seu companheiro, ciclista de equipas mais modestas, também enfrentou duras quedas no último ano, incluindo uma em Kanarieberg, enquanto ela estava grávida do filho de ambos, Phil. "A grande diferença entre o Wout e o Alex? O Wout tem o seu lugar, a sua carreira, a sua segurança. O Alex, como tantos outros, tem de lutar todos os dias para manter o seu sonho vivo".
Na sua reflexão, Friedel Guldemont expõe uma face esquecida do ciclismo: a de todos aqueles que competem nos escalões inferiores, que vivem na sombra, mas que arriscam tanto como os campeões. "São julgados como se tivessem de ganhar um monumento todas as semanas. Um erro, uma queda, um dia mau... e pode ser o fim. Não de uma corrida, mas de uma carreira, de uma vida construída em torno de um sonho".
A carta conclui com uma nota de empatia universal: "Tivemos de engolir muita coisa juntos. Mas também aprendemos muito: sobre a resiliência, sobre o amor, sobre a luta invisível. E sobre a vida na sombra do pelotão, onde as apostas e os riscos são igualmente grandes".
No final, a vitória de Van Aert foi mais do que um triunfo desportivo. Foi um símbolo de resistência, de renascimento - e de um sofrimento partilhado por tantos. Guldemont fala por muitas quando diz: "A vitória do Wout tocou-nos a todas. E foi um pouco nossa também".
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