A Volta a Espanha de 2025 foi fértil em dramas, reviravoltas e exibições memoráveis, mas dois ciclistas saem particularmente valorizados pela forma como transformaram o rumo das suas carreiras: Tom Pidcock e Matthew Riccitello.
No mais recente episódio do podcast The Move, os analistas Spencer Martin e Johan Bruyneel dissecaram as implicações dos resultados dos dois jovens, sublinhando que os seus desempenhos podem ter mudado a forma como são vistos no pelotão internacional.
Tom Pidcock: de incógnita a pódio numa grande volta
Entre todas as histórias da Vuelta, nenhuma terá sido tão surpreendente como a de Tom Pidcock. O britânico terminou em terceiro lugar da classificação geral, 30 segundos à frente de Jai Hindley, garantindo o primeiro pódio da sua carreira numa Grande Volta.
O feito é ainda mais notável tendo em conta que o corredor da Q36.5 não preparou a corrida especificamente para a geral. O seu calendário estava mais direcionado para as clássicas e para vitórias pontuais no Giro, sempre intercalado com compromissos no BTT, disciplina onde é campeão do mundo.
"Se ele tivesse dito antes da Vuelta que o objetivo era o pódio, teríamos rido. Talvez um top 10", comentou Spencer Martin. "Mas ele aguentou Hindley. Foi inacreditável".
Bruyneel reforçou a ideia: "É um dos ciclistas mais talentosos do mundo. Por vezes é difícil perceber a linha de objetivos dele - clássicas, Giro, BTT - mas o motor é gigantesco. E quando se faz um pódio numa Grande Volta, a perceção muda. Esse resultado vale mais do que muitas vitórias em etapas".
O impacto é direto não só para Pidcock, mas também para a sua equipa. Graças aos pontos UCI acumulados pelo britânico, a Q36.5 está praticamente garantida nos convites automáticos para as grandes voltas de 2026, evitando a pressão das escolhas discricionárias dos organizadores.
Matthew Riccitello: a revelação americana
Se Pidcock monopolizou atenções na luta pelo pódio, Matthew Riccitello foi a grande revelação no capítulo da juventude. O norte-americano de 23 anos terminou em quinto lugar na geral e levou para casa a camisola branca, símbolo do melhor jovem da corrida.
A performance não surgiu do nada, mas surpreendeu pela forma como o ciclista da Israel - Premier Tech se destacou. "O ritmo alto da UAE fez com que Pellizzari perdesse terreno e Riccitello aproveitou", explicou Martin. "Foi uma declaração enorme de alguém que a própria equipa inicialmente nem sequer queria trazer".
Bruyneel concordou: "Foi uma grande corrida de Riccitello. É o tipo de resultado que muda uma carreira".
Para um corredor que entrou no alinhamento quase como alternativa de última hora, sair da Vuelta com um top 5 é um passo gigantesco. O americano mostrou resiliência, consistência e capacidade de estar lado a lado com os melhores trepadores do mundo.
Sepp Kuss e Jay Vine: fiéis escudeiros que brilharam
Embora menos mediáticos, Sepp Kuss e Jay Vine tiveram também momentos de protagonismo. O norte-americano da Visma, normalmente dedicado a apoiar Vingegaard, terminou em segundo lugar na etapa da Bola del Mundo e fechou a Vuelta em sétimo, lembrando que mesmo os maiores gregários podem, quando libertos, aspirar a grandes feitos.
"Sepp é feliz no papel de apoio", comentou Bruyneel. "Mas quando tem liberdade, continua a ser capaz de desempenhos de topo".
Jay Vine, peça-chave na UAE, também mostrou o seu valor. INa derradeira etapa de montanha fez um grande trabalho em prol de João Almeida e ainda terminou em sétimo. "Ele tem motor para provas de uma semana e talvez mais", disse Martin. "Mas ser líder é diferente, a pressão e a responsabilidade fazem a diferença. É isso que separa os campeões como Jonas".
O futuro: duas carreiras em ascensão
O saldo desta Vuelta é inequívoco: Pidcock e Riccitello confirmaram-se como ciclistas capazes de lutar ao mais alto nível numa Grande Volta. Para o britânico, o pódio muda radicalmente a perceção externa e pode redefinir a sua agenda de objetivos. Para o americano, a camisola branca e o quinto lugar projetam-no como uma das grandes esperanças da próxima geração.
No fecho da análise, Martin resumiu: "O ciclismo ganhou dois protagonistas novos na luta pelas Grandes Voltas. Isso vai tornar as próximas edições ainda mais imprevisíveis".