“Já é difícil atrair espectadores” - Organizador italiano teme que o “pay-to-watch” seja fim do ciclismo

Ciclismo
terça-feira, 25 novembro 2025 a 5:00
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O ciclismo é um desporto com circulação limitada de recursos, sobretudo financeiros. Neste momento, o futuro de qualquer equipa depende em exclusivo dos seus patrocinadores, que garantem a esmagadora maioria do orçamento. Uma forma de alterar este equilíbrio frágil passa por encontrar novas fontes de receita. Em particular, discute-se tornar as maiores corridas de acesso pago, canalizando verbas de volta para as equipas, cujo futuro poderia assim ser assegurado mesmo sem um super patrocinador, cada vez mais difícil de encontrar.
“Sou contra”, diz o diretor-promotor da ExtraGiro, Marco Selleri, numa entrevista ao SpazioCiclismo. “Já é difícil atrair público fora do Giro d’Italia, Milan-Sanremo e da região da Lombardia. Emília salva-se um pouco graças a este final belíssimo em San Luca, que ajuda a trazer espectadores.”
Na Veneto Classic, foi montada uma zona VIP na subida da Tisa com ecrã gigante, DJ set e uma banca de comida a custar 10 €, com Filippo Pozzato a explicar ao SpazioCiclismo como poderia funcionar a colocação de um preço nos bilhetes. E não é raro que corridas como a Volta à Flandres ou a Volta a França instalem fanzones semelhantes. No entanto, atrair público pagante pode revelar-se difícil para muitas provas mais pequenas.
“Para as outras, torna-se difícil”, nota Selleri, em contraponto ao compatriota Paolo Bettini. “Não creio que seja a cura para o problema. Se lermos a história do nosso desporto, percebemos que, inicialmente, todas as corridas, exceto as voltas mais importantes, nasceram da paixão e não do trabalho. É evidente que os tempos mudaram, há muitos mais custos do que há vários anos, e, consequentemente, o organizador tem de lutar um pouco mais.”

Contra‑proposta

“Se tiver de repensar a ergonomia do ciclismo”, continua o experiente organizador, “colocaria equipas e corredores em primeiro lugar, juntamente com os organizadores. Todos têm de encontrar financiamento. É um tema intrínseco: como a chuva, debaixo do guarda‑chuva dos organizadores temos de angariar dinheiro para a UCI, FCI e impostos. E depois as equipas têm de pagar salários.”
“Exceto a RCS, que tem visibilidade global com o Giro, Sanremo e Lombardia, não temos um grande público. Para mim, o público deve vir por paixão, tal como o organizador deve organizar por paixão, sem perder dinheiro. Qualquer dinheiro extra que entre deve servir para poupar quando a visibilidade e os patrocínios diminuírem.”
Segundo Marco Selleri, a receita de bilhetes dos adeptos poderia ser usada para ajudar a desenvolver o ciclismo italiano: “Este ano tivemos a sorte de contar com uma Liga de Ciclismo Profissional liderada por Roberto Pella, com iniciativas importantes. Os recursos devem ser gastos para o bem do ciclismo.”
“Mas, se temos de cobrar bilhetes, então mais vale que o público obtenha um cartão de sócio da Federação de Ciclismo. O nosso ciclismo de formação está em crise, por muitas razões. Somos um país industrializado, a rede viária mudou, os pais preferem pôr os filhos no ténis ou no futebol. Os nossos adeptos são apaixonados: não é justo tirar dinheiro dos bolsos de quem poderia pagar instrutores.”
O modelo da ‘Volta à Flandres’ não é, portanto, viável: “Sou fortemente contra fazer os adeptos pagar bilhete. Vi as últimas cinco Voltas à Flandres: se quiseres pagar, vais para as áreas de hospitalidade por 400 euros, caso contrário sentas‑te nos muros de graça.”

Solução temporária

“Na minha opinião, cobrar só pode ser uma cura temporária. Pode tentar‑se e ver o que acontece, mas não resolverá o problema atual, em que angariar fundos é crítico para todos. Não estou contra os outros organizadores; o interessante é poder comparar ideias e explorá‑las o mais a fundo possível. Temos uma liga pronta para apoiar os profissionais.”
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