Jens Voigt compreende a decisão da INEOS em não querer a continuidade de Tom Pidcock: "Uma maçã podre estragar todo o cesto"

Ciclismo
sexta-feira, 06 dezembro 2024 a 00:36
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A relação entre a INEOS Grenadiers e Tom Pidcock chegou ao fim. Depois de quatro épocas juntos, o duplo campeão olímpico decidiu abandonar a equipa por mútuo acordo.

"Muita coisa correu mal na relação entre a INEOS Grenadiers e Tom Pidcock", analisa o especialista da Eurosport Jens Voigt, após a confirmação da saída do britânico. "Na INEOS tive a impressão de que eles queriam tentar colocar o Pidcock na luta pela classificação geral da Volta à França deste ano. Apesar de toda a classe que tem como duplo campeão olímpico, uma CG não é para ele. É demasiado agressivo e espetacular para se esconder e só acelerar quando os outros favoritos estão a ganhar vantagem. Poderá certamente ganhar dez etapas da Volta a França e algumas clássicas nos próximos anos, mas não se enquadra no seu perfil de ciclista para terminar uma Grande Volta no pódio".

"O Tom continua a querer competir em corridas de BTT e de ciclocrosse enquanto faz estrada. Mas não é isso que a INEOS quer, pois eles são uma equipa de estrada. É por isso que penso que as duas partes não chegaram a acordo sobre algo fundamental", continua o experiente alemão. "Além disso, o diretor desportivo Steve Cummings foi embora antes da Volta a Espanha, porque aparentemente tinha diferenças de opinião com Pidcock. Já estava claro que não teriam um final feliz. Porque se é um ciclista que pode decidir quem trabalha numa equipa, então algo está muito mal."

Dado o facto de Pidcock ter contrato com a INEOS até 2027, foi um bocado surpreendente que a equipa tenha permitido que a sua estrela saísse tão facilmente. No entanto na opinião de Voigt, a escolha faz todo o sentido para um bem maior. "Ainda é raro no ciclismo vermos rescisões de contratos no ciclismo. Mas se um ciclista quer sair, não faz sentido obrigá-lo a ficar. Uma maçã podre estraga o cesto", considera Voigt. "Talvez se possa chegar a um acordo onde ele pague a sua rescisão do contrato, ou a nova equipa assuma parte do mesmo. Ou talvez a INEOS tenha dito: 'Tom, a toalha de mesa está cortada, vamos rasgar o contrato e podemos seguir caminhos diferentes'".

"A INEOS já não é uma das equipas de topo do World Tour. Há anos que não ganham uma Grande Volta e estão agora a lutar para se reorganizarem", acrescenta Voigt. "A maioria dos dirigentes desportivos deixou a equipa e mudou-se para o clube de futebol Manchester United depois de Jim Ratcliffe ter comprado a equipa. Neste momento, a INEOS Grenadiers parece ser um pouco como um enteado entre os investidores, sentado num canto, num sitio onde ninguém quer negociar com ela."

A maior vitória de Pidcock na estrada para a INEOS é, sem dúvida, a sua vitória numa etapa da Volta a França
A maior vitória de Pidcock na estrada para a INEOS é, sem dúvida, a sua vitória numa etapa da Volta a França

Quanto a Pidcock, Voigt acredita que, se gerida corretamente, esta mudança poderá fazer com que o britânico renasça O "Tom Pidcock tem de encontrar uma equipa onde ele seja o único rei - como Mathieu van der Poel na Alpecin-Deceuninck. Ele precisa de uma equipa que o deixe decidir o seu calendário. Isso é diferente com uma grande equipa de corridas. Eles dizem: nós pagamos-te e dizemos-te quando vais correr. Provavelmente, ele terá de se mudar para uma equipa mais pequena, mas que seja financeiramente forte o suficiente para lhe pagar", afirma. "Está fortemente ligado à Q36.5, onde Vincenzo Nibali trabalha como conselheiro. Aí, ele teria certamente a liberdade de decidir o que quer. Mas a escolha que ele tem é pequena. Não há muitas equipas que tenham espaço no plantel e os meios para o acolher."

"Ele tem uma auto-confiança saudável sem ser arrogante. Ele sabe que é muito bom. Disse-nos que quer ser o primeiro ciclista a ser campeão do mundo em BTT, cross e estrada num ano. E isso não é idiotice, ele tem mesmo uma hipótese realista de o conseguir. Ele pode nem sempre ser fácil, mas o génio e a loucura andam muitas vezes de mãos dadas. É sempre um ato de equilíbrio quando se traz um atleta tão forte", conclui Voigt. "Pidcock também anda com o capacete da Red Bull, por isso é lógico pensar nesta ligação. Mas na Red Bull - BORA - hansgrohe ele não teria a liberdade de que precisa para fazer o ciclocrosse e o XCO, para além da estrada."

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