Depois de encerrar a carreira com chave de ouro na Volta a França 2024, onde conquistou a tão sonhada 35ª vitória em etapas e bateu finalmente o recorde histórico de Eddy Merckx,
Mark Cavendish vive agora uma nova etapa da sua vida — mais tranquila, mais familiar e, pela primeira vez em duas décadas, longe da pressão do pelotão.
Numa entrevista ao Het Nieuwsblad, o sprinter britânico falou sobre as mudanças na sua rotina desde que deixou as competições. "Já tenho muito mais tempo para a minha família", admitiu. "Nos últimos vinte anos estive a correr. Ou, talvez, num campo de treinos algures. Mas agora posso aproveitar para celebrar o aniversário do Cas. Ele fez sete anos na quinta-feira."
Cavendish, que também completou 40 anos recentemente, partilha que só começou a dar atenção ao seu próprio aniversário depois de se tornar pai. "Na vida de um ciclista, não há tempo para isso, claro", explica.
Nova vida, novas prioridades
Apesar do alívio de deixar para trás o calendário implacável das corridas, há aspetos da vida no pelotão de que sente falta. "Especialmente de estar na estrada com os rapazes. Afinal de contas, foi a minha vida durante mais de vinte anos", confessa com nostalgia. No entanto, não esconde o sorriso quando comenta as mudanças planeadas para o final da Volta a França em 2025, agora com a adição da subida de Montmartre, numa tentativa da organização de quebrar a tradição processional da última etapa.
"Quando ouço dizer que também estão a mudar o circuito dos Campos Elísios com aquela subida de Montmartre, também fico contente por já não ser ciclista", brinca.
Um novo papel como embaixador
Sem ainda ter assumido funções formais dentro do ciclismo, Cavendish já encontrou uma nova via profissional. Tornou-se recentemente o rosto de um acordo de patrocínio entre a ASO (organizadora da Volta a França) e a Airbnb, com o objetivo de promover estadias locais e autênticas ao longo do percurso da prova.
"Não associo apenas o meu nome a elas", garantiu. "Como ciclista, é frequente dormirmos em hotéis impessoais, onde não estabelecemos contacto com ninguém. Não há nada melhor do que acabar numa casa."
A paixão pelo conceito vai ainda mais longe. Cavendish revelou que ele e a esposa Peta Todd estão a ponderar abrir o seu próprio negócio como anfitriões da plataforma:
“A Peta e eu estamos a pensar em abrir o nosso próprio negócio um dia.”
Legado e horizonte
Cavendish deixa o ciclismo com um legado absolutamente singular. Além de ser o maior vencedor de etapas da história da Volta a França, também brilhou em Mundiais, Monumentos, clássicas e pistas — um currículo raramente igualado. Mas agora, a prioridade é outra: viver, respirar, e finalmente estar presente.
Ao contrário de outros colegas que rapidamente se envolveram em funções de direção ou comentário desportivo, Cavendish opta por uma transição mais livre, menos formal, mais humana. E é aí que talvez esteja a sua vitória mais importante: o regresso à normalidade.