Remco Evenepoel foi, durante anos, o grande desejo da
INEOS Grenadiers. Os rumores sobre uma possível tentativa de contratação do belga pela equipa britânica circularam insistentemente, mas nunca se confirmaram oficialmente. Agora,
Mark Cavendish revela que a história era real e que tudo aconteceu no mesmo período em que ele próprio tentava encontrar uma nova equipa no final de 2022.
Na sua autobiografia 'Believe: Achieving the Impossible', o britânico partilha partes dos bastidores que nunca foram revelados sobre essa fase conturbada da sua carreira. Depois de deixar a
Soudal - Quick-Step, Cavendish tinha tudo acertado com a B&B Hotels, mas o projeto francês colapsou abruptamente em novembro de 2022, deixando-o sem equipa e sem perspectivas concretas de regressar ao WorldTour. Era o pior cenário possível para o experiente sprinter, que precisava apenas de mais uma vitória na Volta a França para bater o recorde absoluto de triunfos em etapas da competição..
Foi então que surgiu um contacto inesperado. “Com o navio B&B já afundado, recebi um telefonema do Rod [Ellingworth, então dirigente da INEOS ed.]. Estavam a trabalhar numa coisa. Algo que rebentaria com o orçamento e um pouco mais. Mas podia não se concretizar. E se não se concretiza-se, talvez houvesse um lugar para mim na INEOS. Não precisei que o Rod me dissesse que o ‘algo em grande’ era a contratação de Remco Evenepoel”, conta Cavendish.
Segundo o britânico, a INEOS tentou efetivamente comprar Evenepoel à Soudal - Quick-Step, algo extremamente raro no ciclismo moderno devido à complexidade e aos custos envolvidos. “Este tipo de negócio era raro no ciclismo porque era complexo e caro. Conhecendo o meu futuro patrão da Quick-Step,
Patrick Lefevere, que teria de dar a sua bênção, parecia um tiro no escuro... mas no ciclismo, como em todo o lado, o dinheiro fala mais alto.”
Cavendish é um dos ciclistas mais bem sucedidos do ciclismo moderno.
Rejeitado por Brailsford
A aproximação de Cavendish à INEOS acabou por não passar disso mesmo - uma tentativa. O britânico, campeão mundial em 2011, acabou por não ser aceite de volta à estrutura que ajudou a colocar no topo do ciclismo mundial. A INEOS, carente de líderes capazes de lutar pela vitória na Volta a França, optou por não reabrir as portas ao sprinter.
“O Rod tinha dito que saberia ‘dentro de alguns dias’, mas eu estava a ficar ansioso, por isso sugeri acelerar as coisas: e se eu enviasse uma apresentação ou um deck a ele e ao Dave Brailsford? O Rod confirmou que seria o Dave a ter a última palavra, por isso devia enviar-lha”, recorda Cavendish.
O britânico chegou mesmo a preparar uma proposta detalhada, mas a resposta não foi a que esperava. “Demorei quase uma semana a preparar a apresentação. O Brailsford demorou o mesmo tempo a responder, embora o tivesse feito através do Rod. A resposta, em resumo, foi ‘não, obrigado, Cav’.”
Assim terminou a curta tentativa de Cavendish voltar à INEOS Grenadiers. A equipa britânica não contratou o sprinter, nem conseguiu garantir a transferência de Remco Evenepoel. O destino quis que ambos seguissem caminhos distintos: Cavendish acabou por assinar pela Astana Qazaqstan Team, onde em 2024 conseguiu a 35ª vitória da sua carreira na Volta a França, enquanto Evenepoel se prepara agora para iniciar um novo capítulo na Red Bull - BORA - hansgrohe.