À medida que a Volta a Itália entra na 13.ª etapa, todas as atenções estão viradas não só para quem poderá vencer, mas também para a forma como a
UAE Team Emirates - XRG irá ultrapassar um delicado dilema interno. A equipa, indiscutivelmente a mais forte da corrida, encontra-se numa posição privilegiada, mas também cada vez mais delicada.
Esperava-se que
Juan Ayuso assumisse o papel de líder rumo à camisola rosa, mas é a revelação mexicana de 22 anos,
Isaac Del Toro, quem veste atualmente a maglia rosa, com Ayuso a apenas pouco mais de 30 segundos. No papel, parece uma situação fácil de gerir. Na prática, trata-se de um potencial barril de pólvora estratégico.
Del Toro tem demonstrado maturidade, força e instinto ofensivo, especialmente com o ataque em Siena, precisamente quando Ayuso enfrentava dificuldades após uma queda que exigiu pontos no joelho. Embora Del Toro tenha explicado que confundiu a camisola branca de
Egan Bernal com a de Ayuso, a perceção gerada deixou marcas no ambiente interno da equipa e nos comentários do público.
Na sua coluna para o WielerFlits, o jornalista belga Hugo Coorevits captou o ambiente de tensão: "A batalha desenrola-se desta vez sem [Tadej] Pogacar... e, no entanto, foi uma publicação no Instagram do próprio Pogacar que me chamou a atenção". A publicação em questão mostra Pogacar a beber café e a observar Del Toro, acompanhada da legenda: “Olhando para o futuro, aproveita a viagem cor-de-rosa.” Uma mensagem lida por muitos como um apoio público ao mexicano - com Ayuso ausente da equação.
Se Pogacar estivesse presente, não haveria dúvidas quanto à liderança
Além disso, a conta anónima “mou”, conhecida no X por apoiar Pogacar, tem contribuído para o ruído. Para essa conta, "Del Toro é o sucessor natural", enquanto Ayuso é frequentemente alvo de críticas ácidas. "Ayuso, o rato", é uma frase recorrente, em total dissonância com o retrato que Coorevits traça do espanhol: "Um jovem educado, calmo e tudo menos arrogante, como o conheci na Vuelta de 2023".
Mas o verdadeiro problema pode não residir nas personalidades, e sim na estrutura institucional. Ayuso assinou com a UAE até 2028, sem recorrer a um agente, confiando inteiramente no seu pai. O que começou como uma decisão ousada, hoje assemelha-se mais a uma prisão dourada. “Comprometeu-se com um projeto que, agora, parece menos confortável”, escreve Coorevits.
O cenário traz à memória a Volta a Espanha de 2023, onde a Jumbo-Visma geriu com dificuldade uma tríade de líderes. A vitória acabou por sorrir a Sepp Kuss, mas não sem fricção interna. Primoz Roglic sairia da equipa pouco depois. Agora, na UAE, um enredo semelhante parece estar a ganhar forma.
Além de Del Toro e Ayuso, a equipa tem ainda Adam Yates e Brandon McNulty dentro do top 10. É um luxo tático, mas também um quebra-cabeças de gestão. Ayuso, outrora apontado como o herdeiro de Pogacar, encontra-se agora na sombra do colega mexicano. “Já caiu duas vezes… voltou a abrir o joelho e levou três pontos”, recorda Coorevits. Ainda assim, continua a lutar com firmeza, recusando resignar-se ao papel de gregário.
Del Toro, por sua vez, não parece disposto a abdicar do seu momento. A sua serenidade e natureza combativa apontam para um ciclista preparado para se impor. A camisola rosa e o eventual estatuto de líder da equipa estão em jogo.
No meio desta tensão, está o diretor desportivo Joxean Fernández Matxin. Próximo de ambos os corredores, Matxin parece estar a adiar uma decisão, esperando que as etapas decisivas nas montanhas resolvam naturalmente a questão da liderança. “Está a soprar quente e frio ao mesmo tempo”, escreve Coorevits.
Mas se os dois ciclistas continuarem com tempos semelhantes, será inevitável uma escolha. Del Toro parece ter a forma para levar a maglia rosa até Roma. Mas conseguirá Ayuso virar o jogo?