Pauline Ferrand-Prévot conquistou de forma brilhante a
Volta a França Feminina, coroada pela exibição dominante na subida ao Col de la Madeleine. No entanto, em vez de o foco recair exclusivamente na grandeza do feito, as atenções desviaram-se para um tema recorrente mas delicado: o peso corporal das ciclistas.
Nas redes sociais, e até no seio do pelotão, o triunfo da francesa foi acompanhado por comentários sobre a sua silhueta, com Ferrand-Prévot a ser acusada de estar “demasiado magra”. Um debate que não poupou também Demi Vollering, segunda classificada, cujo físico se tornou igualmente alvo de especulação.
Wout Poels considera que “foi escandaloso”
A reação não tardou. No podcast In Koers,
Wout Poels, ciclista da
XDS Astana Team, criticou fortemente a abordagem mediática e os comentários dentro do pelotão.
“Achei lamentável todo o alarido em torno do peso da Pauline. Foi escandaloso ouvir pessoas a questionarem se ela era saudável ou não. Em vez de celebrarem a sua vitória, ela acabou a ter de se defender. Absolutamente inaceitável”, disse.
Poels, vizinho de Ferrand-Prévot em Mónaco, recordou ainda a sua própria experiência: “Ainda bem que isto não acontece com os homens da mesma forma, mas na Team Sky diziam-me muitas vezes que eu tinha anorexia. Estamos a competir ao mais alto nível e, se queremos subir rápido, temos de equilibrar peso e potência. Mas insinuar que alguém pedala com anorexia é um mau serviço.”
Reações dentro do pelotão
O tema dividiu opiniões. Marlen Reusser, vice-campeã do Giro Feminino, comentou de forma mordaz: “Esperávamos secretamente que ela não fosse bem-sucedida, porque isso iria estabelecer um novo padrão no ciclismo feminino.”
Já Demi Vollering, visivelmente afetada, abordou a pressão que sentiu: “Não fui feita para ser a ciclista mais leve do pelotão. Não quero forçar o meu corpo a ser algo que não é.”
Entre a performance e a polémica
Mesmo fora do ciclismo feminino, a discussão continuou. Chris Horner, antigo ciclista profissional, reconheceu o peso como fator inevitável: “Se não tivermos melhor watts por quilo que o adversário, precisamos de encontrar outra tática. Caso contrário, não ganhamos.”
Mas para Poels, a forma como o tema foi tratado deturpou completamente o valor da vitória da francesa: “Foi fantástico ver a Pauline alcançar o seu objetivo e vencer da forma como venceu. Ela mostrou um compromisso incrível, estudou o percurso com o Dylan (van Baarle, seu companheiro) e demonstrou que tinha preparado tudo ao detalhe. Isso devia ter sido celebrado, em vez de se falar do peso.”
Uma vitória com duas leituras
No final, Ferrand-Prévot respondeu em pista, vencendo de forma categórica e assumindo o estatuto de referência no ciclismo feminino. Mas o debate em torno do seu corpo deixou uma marca amarga no pós-Tour.
Como concluiu Poels: “Ela lidou bem, mas é triste que tenha tido de comentar o assunto. O que devíamos era aplaudir o que fez: foi simplesmente extraordinário.”