Jonas Vingegaard pode ter concluído a
Volta a Espanha de 2025 com a camisola vermelha, mas as imagens que permanecem não são ataques na montanha nem momentos decisivos na luta pela geral. São as cenas caóticas que, de forma sucessiva, perturbaram a corrida.
Em declarações à TV2, após regressar à Dinamarca e gozar alguns dias de descanso, o vencedor da Vuelta refletiu sobre uma edição marcada por interrupções, manifestações e até uma cerimónia de pódio improvisada.
Aos 28 anos, o dinamarquês não hesitou em caracterizar a dimensão do problema. “Não pode ficar pior do que foi”, afirmou à TV2, destacando que a organização desempenhou “um trabalho muito bom” perante circunstâncias altamente adversas, sobretudo na forma como evitou que os incidentes tivessem consequências mais graves.
Uma Grande Volta levada ao limite
A edição de 2025 converteu-se numa das Grandes Voltas mais afetadas por protestos da era moderna. Diversas etapas sofreram alterações de última hora, barreiras foram derrubadas e faixas foram estendidas à frente do pelotão. A cerimónia prevista em Madrid acabou mesmo cancelada e substituída por uma homenagem à porta fechada.
Vingegaard reconheceu a tensão sentida ao longo das três semanas, embora sublinhasse que nunca temeu pela própria segurança.
“A dada altura alguém tinha serrado uma árvore para que caísse sobre a estrada”, relatou. “Isso não me fez sentir inseguro, porque havia muitos carros e motas a circular à nossa frente. Seria estranho se não a tivessem visto.”
Os protestos variaram entre ações pacíficas e confrontos com a polícia, intensificando-se sobretudo na última etapa, na capital espanhola. O dinamarquês considera que o alvo dos manifestantes era a corrida, não os ciclistas.
“Não senti que tentassem fazer-nos algo perigoso, mas sim parar a corrida”, explicou. “Em Madrid ficou claro que algumas pessoas queriam simplesmente arranjar confusão. Tornaram aquilo perigoso e foi correto que a prova fosse interrompida.”
Uma das preocupações expressas por Vingegaard está relacionada com a repercussão mediática destas ações. “Também depende do tempo de antena que recebem”, alertou. “Quanto mais exposição, mais incentivo têm. Só espero que nos deixem correr como sempre. Tirando a Vuelta.”
A posição coincide com as palavras do diretor da corrida, Javier Guillén, que classificou os episódios como “completamente inaceitáveis” e insistiu que não podem servir de precedente.
Olhar para Espanha, desta vez em julho
Apesar dos distúrbios, Vingegaard garantiu a vitória final com 1 minuto e 16 segundos de vantagem sobre João Almeida, encerrando uma edição turbulenta que acabou por lhe sorrir desportivamente. Com a Volta a França 2026 a começar em Barcelona e a passar por Espanha nas etapas iniciais, o foco desloca-se para a capacidade de aprender com o que se passou na Vuelta.
O bicampeão da Volta a França mantém um otimismo cauteloso. A edição de 2025 levou ao limite o que uma Grande Volta pode suportar e o dinamarquês espera que o ciclismo retome a normalidade no próximo verão.
“Só espero que possamos correr como sempre o fizemos”, resumiu Vingegaard.