A Volta a Espanha 2025 arranca hoje em Turim com Jonas Vingegaard no papel de principal candidato à vitória na geral. Mas o dinamarquês da Team Visma | Lease a Bike terá de enfrentar a poderosa formação da UAE Team Emirates - XRG, que apresenta em simultâneo Juan Ayuso e João Almeida como líderes protegidos. A grande incógnita será perceber se a dupla portuguesa e espanhola se concentrará apenas em travar Vingegaard ou se cada um correrá para as suas próprias ambições.
Bruyneel: “A frescura é o mais importante”
“O que é muito importante na Vuelta é a frescura. Nunca sabemos como é que alguém recupera do Tour, porque o intervalo é curto”, destacou Johan Bruyneel no podcast Outcomes. Para o belga, Vingegaard continua a ser o homem a bater, mas Almeida e Ayuso podem rivalizar de perto.
“É a recuperação física e mental que conta. O Almeida estava em grande forma antes da queda. Depende de quão cedo voltou a treinar, mas suspeito que tenha sido bastante rápido. Ele está fresco, física e mentalmente, e isso pode ser uma vantagem enorme.”
Bruyneel recorda que a Vuelta, sendo a terceira Grande Volta da temporada, costuma ser o palco da desforra. “Normalmente é uma segunda oportunidade para quem falhou antes. Não podemos dizer que o Jonas falhou no Tour, foi segundo e era o segundo mais forte. Mas aqui terá de ganhar. São 11 chegadas em alto, muita montanha, e a Visma trouxe uma equipa fortíssima.”
Uma Visma à prova de bala
A comparação com o Tour é inevitável: em julho, a Visma atacou sem descanso a Emirates, mas não conseguiu derrubar Pogacar. Ainda assim, Schotte considera que a profundidade do bloco dinamarquês continua a ser a maior vantagem.
“Enviaram Sepp Kuss, Jorgenson, Campenaerts, Kelderman, Van Baarle… é um arsenal. Acredito que o Jonas ganha. Só me preocupa o facto de ter lido que esteve doente na última semana antes da Vuelta. Nunca é bom sinal, mas também pode ser uma cortina de fumo”, notou Bruyneel.
Na mesma linha, Spencer Martin destacou: “A equipa é incrivelmente forte, como no Tour. Para além do Jonas, têm Axel Zingle, Victor Campenaerts, Matteo Jorgenson, Wilco Kelderman, Sepp Kuss, Ben Tulett e Dylan Van Baarle. É um bloco de luxo.”
Pressão dupla na Emirates
Se na Visma a hierarquia é clara, na UAE o dilema está na liderança partilhada. Ayuso não brilhou em San Sebastián e levantou dúvidas, enquanto Almeida regressa após o abandono forçado na Volta a França.
“Eles estão numa equipa onde já há Pogacar e Del Toro. A margem para conquistar estatuto é muito curta”, comentou Martin. “Perder para Vingegaard é aceitável. Mas entre eles, não se podem dar ao luxo de perder. Ambos estão motivados ao máximo para provar que merecem ser líderes de uma Grande Volta.”
Bruyneel partilha essa visão: “Ambos são ciclistas que seriam líderes indiscutíveis em 90% das equipas do WorldTour, mas aqui têm de lutar pelo lugar. Isso pode condicionar a estratégia global.”
Almeida com estatuto histórico em jogo
Apesar de considerar Vingegaard como favorito, Martin arrisca numa previsão ousada: “Quanto mais penso, mais me convenço que podemos ter uma surpresa. Vejo o João Almeida como potencial vencedor. Fiquei muito impressionado com a sua época até ao Tour, antes da queda. Vou escolher o Almeida em detrimento do Ayuso, cuja preparação deixou dúvidas.”
Se tal se confirmar, Almeida tornar-se-ia no primeiro português da história a vencer uma Grande Volta, um feito que mudaria definitivamente o panorama do ciclismo nacional.