O corredor da Intermarché - Circus -Wanty Rui Costa fala acerca do apelido que o pelotão do World Tour lhe colocou "Quando era mais novo levava mais a peito. Ninguém gosta de ouvir isso."

Ciclismo
quarta-feira, 27 setembro 2023 a 12:44
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O Português Rui Costa mudou-se esta época da UAE Team Emirates para a Intermarché- Circus - Wanty e renasceu para o ciclismo, somando 4 vitórias, alguns lugares honrosos em provas importantes e culminou a época com uma vitória na Volta a Espanha. Neste momento encontra-se a treinar em altitude para fechar o ano numa série de Clássicas Italianas que culminarão com a Lombardia, mas entre treinos e descanso, concedeu uma extensa entrevista ao jornal desportivo português "O Jogo".
" Sabes, quando me mudei para a Intermarché senti-me motivado. Era uma nova equipa, bicicletas diferentes, material diferente... é como quando somos crianças, quando nos dão algo novo a motivação é superior. E está a ser maravilhoso, porque me reencontrei como ciclista."
A época já vai longa e Rui Costa faz uma análise ao seu ano desportivo, representando as suas novas cores " Ter aberto a época a ganhar no primeiro dia foi importante para tudo sair bem. A primeira fase da temporada foi excelente, até à Strade Bianchi, que fechei com um quarto lugar. A segunda fase, bem, a segunda fase não foi a melhor. Quando preparava as clássicas e durante o estágio em altitude fiquei doente duas vezes seguidas. Quando recomecei os treinos, estava a descer a Sierra Nevada e a roda da frente resvalou, caí e magoei-me a sério. Fui ao País Basco em má forma física. Nas Clássicas, só me senti melhor na Liége - Bastogne - Liége, mas depois fui à Romandia e tive um azar à partida do prólogo ( avaria mecânica ) que me deixou com um problema num joelho, que bateu na bicicleta."
A prova que se seguiu no calendário de Rui Costa foi a Volta à Suiça e ele recorda " Eu parecia estar outra vez melhor... mas ter perdido o Gino Mader foi um momento muito doloroso, deitou-me muito abaixo." recorda com muita tristeza.
"Fui ao Tour, mas não estava nas minhas melhores condições e talvez por isso só depois senti a forma a crescer. Já em San Sebastian fechei no Top 10, algo que nunca tinha conseguido e isso deixou-me a pensar na Vuelta. Falei com a direção da equipa e deram-me luz verde. Consegui vencer uma etapa e uma vitória numa Grande Volta é sempre importante, para mim e para a equipa."
Venceu a 15ª etapa da Vuelta, prova onde nunca tinha conseguido ganhar e ficou no ar a possibilidade de tentar entrar no lote restrito de atletas que conseguiram vencer etapas nas 3 Grandes Voltas " Apontar a uma etapa no Giro? Já estive perto de conseguir ganhar lá ,mas não sei... era agradável entrar no pequeno lote de ciclistas que ganharam nas três Grandes Voltas, mas, se puder, no próximo ano não irei ao Giro."
Com um palmarés notável, o que é que anseia ganhar até ao final da tua carreira é uma pergunta imperativa "Eu tenho um sonho. Os Jogos Olímpicos. Regressar aos Jogos Olímpicos e fazer a melhor preparação possível, que será a Volta a França. O meu objectivo passa por aí. E a Vuelta 2024 que parte de Portugal. Para mim será outro sonho, estar numa equipa World Tour e sair do meu país é juntar as três peças fundamentais." E o sonho de um Monumento? " Tenho que ser realista. Esse é um objectivo muito díficil. Face aos corredores que temos hoje nas clássicas, como a Liège - Bastogne - Liège e a Lombardia, onde se luta com um Pogacar ou um Evenepoel, não é fácil. Com este tipo de corredores o jogo táctico não funciona. Eles levam equipas que fazem um grande trabalho e lhes permite atacar no momento certo, sendo impossível responder. Para mim, que já estive tão perto nos Monumentos que referi, era um sonho, mas sei que agora é muito díficil." conclui.
Instado a falar sobre a sua equipa, abalada pelo corte no orçamento em 50% por parte da Circus, e um dos seus principais patrocinadores, Costa mostra-se sensibilizado pelos esforços da mesma em tentar renovar-lhe o contrato para 2024 " É uma equipa que gosto muito. É pequena, honesta, onde gostas de trabalhar por estares rodeado de pessoas boas. Sabem ouvir e eu também os sei ouvir. Mesmo com esta idade continuo a aprender e posso dizer que nesta equipa já aprendi muito. Têm um orçamento baixo, mas é uma equipa muito bem conseguida." Mesmo tendo convites de outras equipas na mão, é peremptório nos seus desejos " Gostava de continuar e sei que estão a fazer tudo para que eu me mantenha na equipa."
A conversa ia longa e Rui Costa aborda um tema que o incomodou durante anos, nomeadamente o apelido que no pelotão lhe colocaram. Chupa Rodas. Costa não se esconde à pergunta " Não ligo a isso. É uma expressão muito dura e já reagi pior. Agora entra por um ouvido e sai pelo outro e se vem de pessoas frustradas, nem levo a mal. Quando era mais novo levava mais a peito. Ninguém gosta de ouvir isso. Quando se entra numa fuga e se disputa uma etapa, cada um faz o seu jogo. Se tens de puxar para não ser alcançado, aí deves fazê-lo. Com tudo o que ganhei até hoje, não foi certamente por ir atrás da roda."
Nos recentes Campeonatos da Europa não vimos Rui Costa vestir as cores da Seleção Nacional, mas ele explica " Estou sempre disponível para a Seleção e tenho como objectivo os Jogos Olímpicos. Sei que me têm convocado e não tenho ido, mas porque os percursos não têm sido adequados para mim. Fui chamado para os Campeonatos da Europa, mas naquele percurso não adiantava nada."
Costa fala dos ciclistas portugueses que correm fora do seu país, fazendo uma análise sucinta " Cada vez mais reconhecem os Portugueses no World Tour. Não sou só eu e o João ( Almeida). Também temos os irmãos Oliveira ( Rui e Ivo) o Ruben Guerreiro, o Nelson, todos desempenham um bom papel. O João faz grandes resultados em provas de três semanas e vai continuar a dar-nos alegrias. O António Morgado será diferente, um corredor muito forte, será um corredor de Clássicas certamente."
"Nos últimos anos muito mudou. Eu, com a idade do Morgado, não tinha um preparador físico, nutricionista... treinava e fazia o que as pernas respondiam. Agora, eles são acompanhados desde os 15 anos, por isso a evolução até aos 20 anos é muita, o dobro ou o triplo do que acontecia comigo, por isso emergem muito cedo para a ribalta."
Rui Costa com 36 anos conta com 36 triunfos na carreira, 33 em provas internacionais e com um titulo de Campeão do Mundo bem no topo. Em Grandes Voltas têm agora 4 vitórias em etapas, 3 no Tour e 1 na Vuelta, fazendo dele o segundo Português mais vitorioso, só atrás do eterno Joaquim Agostinho que mantêm o recorde de 4 vitórias no Tour e 3 na Vuelta.

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