O que há meses parecia apenas um rumor nos bastidores do pelotão está prestes a tornar-se realidade: a
Lotto e a
Intermarché - Wanty vão fundir-se este inverno, formando uma nova equipa belga com licença World Tour. A estrutura resultante funcionará sob a licença atual da Lotto, através da organização Captains of Cycling, e marca o regresso da Bélgica à elite do ciclismo mundial em 2026.
Trata-se de uma fusão que vinha sendo trabalhada discretamente desde o início da época de 2025, mas que enfrentou diversos obstáculos financeiros e administrativos, sobretudo do lado da Intermarché, cuja sustentabilidade estava em risco devido a um défice de vários milhões de euros. Apesar das dificuldades, a parceria entre as duas formações que partilham filosofia, ambições e identidade nacional foi consolidando terreno até chegar ao pedido formal junto da UCI.
“A Captains of Cycling, detentora da licença da Lotto Cycling Team, confirma que apresentou oficialmente o seu dossier à UCI para o projeto conjunto Lotto-Intermarché, com o objetivo de voltar a participar no World Tour em 2026”, lê-se no comunicado oficial. “O pedido de licença tinha de ser entregue à UCI até 15 de outubro e esse prazo foi cumprido.”
A decisão final da federação internacional deverá ser anunciada ainda esta semana, o que permitirá à nova estrutura começar já a preparar a temporada de 2026, cerca de um mês e meio antes do primeiro estágio de pré-época.
Um acordo de salvação e de ambição
A fusão surge como uma solução estratégica para ambas as partes. A Lotto, com estabilidade estrutural e visão de longo prazo, oferece à Intermarché uma base sólida e acesso à licença World Tour. Por sua vez, a Intermarché contribui com ciclistas experientes, know-how técnico e visibilidade internacional.
Nos bastidores, o processo foi descrito como “complexo mas inevitável”. A crise financeira da Intermarché tornava inviável a sua continuidade isolada, e a Lotto via na parceria uma oportunidade para reforçar a presença belga ao mais alto nível, num cenário dominado por equipas internacionais.
Ciclistas entre a incerteza e o alívio
Até ao anúncio oficial, o ambiente dentro das equipas foi de incerteza generalizada, mesmo entre ciclistas com estatuto consolidado. Um dos exemplos foi Toon Aerts, que admitiu viver dias de ansiedade quanto ao futuro.
“A intenção é que eu vá para a equipa resultante da fusão. Mas ainda não é certo. Isso é um pouco frustrante para mim neste momento”, afirmou ao
Sporza, após a vitória no Kermiscross Ardooie. “Estou a receber bons sinais de quem está mais acima. Tudo está a ser feito para levar a fusão a bom porto e dar certezas aos pilotos como eu. Espero ter boas notícias nos próximos dias ou semanas.”
Essas boas notícias chegaram agora. Segundo o Het Laatste Nieuws, a nova equipa contará com 31 ciclistas: 17 oriundos da Lotto e 14 provenientes da Intermarché, uma divisão equilibrada que reflete o caráter conjunto do projeto.
Estrutura e incógnitas
Embora o núcleo de corredores esteja praticamente definido, há nomes que dificilmente farão parte da nova formação. O mais emblemático é Biniam Girmay, estrela eritreia da Intermarché, que tem sido fortemente associado à Israel - Premier Tech.
O seu agente, Alex Carera, confirmou nas redes sociais que o acordo com a equipa israelita foi fechado há mais de um mês, quando a fusão ainda não estava garantida. Com isso, Girmay deverá seguir outro caminho, já que o calendário e os objetivos da nova estrutura belga não se ajustam ao perfil do corredor.
Um novo capítulo para o ciclismo belga
Com a fusão Lotto-Intermarché, a Bélgica volta a posicionar-se no centro do ciclismo mundial, com uma equipa competitiva e ambiciosa no World Tour. A união combina a tradição e a base sólida da Lotto com a mentalidade ofensiva e internacional da Intermarché, criando uma estrutura capaz de disputar vitórias em todas as frentes, desde as Clássicas flamengas até aos Grandes Voltas.
Se a UCI confirmar o pedido nos próximos dias, a nova equipa poderá começar a preparar a sua estreia já neste inverno. Depois de anos de fragmentação entre formações belgas, esta fusão representa mais do que um acordo administrativo: é o renascimento de um projeto nacional com vocação internacional, e um sinal de que o ciclismo belga volta a pensar em grande.