Neste artigo vamos analisar os 10 maiores escândalos da história do ciclismo até ao final da primeira década do século XXI. A forma que encontramos para os classificar é por ordem cronológica, para evitar comparações entre casos. Num próximo artigo iremos aprofundar casos como a "Operação Ilex", falar de Marcos Maynard, entre muitos outros, que em nada ajudam e só denigrem a modalidade.
Quando Tom Simpson morreu em plena Volta à França de 1967, já o ciclismo estava dominado pelo doping, nomeadamente pelos estimulantes, como atestam as duas desclassificações de Joaquim Agostinho na Volta a Portugal. A indústria farmacêutica evoluiu e as técnicas de dopagem também. O escândalo Festina, em 1998, deu novo alerta e foi decisivo para que o mundo desportivo parasse de fingir que nada se passava. Eufemiano Fuentes causou um tremor de terra no ciclismo, mas seria Lance Armstrong o auge do período negro da modalidade.
Lance foi um ciclista que venceu sete vezes consecutivas a Volta a França, gerava empatias, arrastava multidões, era um ídolo. Tudo porque ele gostava do culto da imagem. Tanto quis ser o maior de todos os tempos que conseguiu: em 2012 o americano ganharia o troféu atribuído pela revista Sports Illustrated, atribuido aos atletas mais anti desportivos ( batoteiros ed.) do ano.
A Volta a França registou o seu primeiro momento negro relacionado com doping em 1967, quando o britânico Tom Simpson morreu no Mont Ventoux, uma das montanhas mais míticas da corrida, porque as anfetaminas que tinha tomado impediram-no de ter a percepção que o seu corpo não aguentava o esforço e calor excessivos.
Três anos depois da morte de Simpson morria o dinamarquês Knut Jensen, em plenos Jogos Olímpicos de Roma, devido a uma mistura de anfetaminas, vasodilatadores e cafeína.
O ciclista do Sporting foi o português que melhores resultados obteve na Volta a França durante os anos que disputou a prova gaulesa. No entanto foi em Portugal que conseguiu os seus principais títulos, destacando-se as três vitórias consecutivas na Volta a Portugal, entre 1970 e 1972. E só não conta com cinco vitórias consecutivas no seu palmarés porque foi desclassificado em 1969 e 1973, por doping, registos que actualmente o levariam a ser banido do ciclismo.
A Volta a França de 1998 estava prestes a começar quando a polícia francesa deteve, na fronteira franco belga, o massagista da equipa Festina, Willy Voet, na posse de 40 embalagens de produtos dopantes. Os interrogatórios realizados a Willy Voet, aos dirigentes e ciclistas da Festina permitiram perceber que a dopagem era prática generalizada na equipa. A investigação judicial atingiu outras equipas do pelotão e levou a França a adoptar uma legislação pioneira no combate ao doping.
As memoráveis vitórias do “Pirata” no Tour e no Giro de 1998 logo foram esquecidas quando o ciclista italiano entrou numa espiral de auto destruição. Expulso da Volta a Itália de 1999 por ter apresentado valores sanguíneos irregulares, Pantani viu-se envolvido noutras acusações de doping e processos judiciais. Viciou-se em estupefacientes e morreria em 2004, vítima de uma paragem cardíaca causada por uma mistura de cocaína e antidepressivos.
Vestia as cores da Phonak quando na Volta à Espanha de 2004, um controlo anti doping detectou vestígios de uma transfusão sanguínea. Resultado idêntico ao registado um mês antes, nos Jogos Olímpicos de Atenas, altura em que Hamilton, que ganhou a medalha de ouro no contrarrelógio, não fora desclassificado porque um erro no laboratório inviabilizou uma contra análise. O ciclista norte-americano seria posteriormente referenciado como sendo um dos clientes do esquema de doping do médico espanhol Eufemiano Fuentes.
Na penúltima etapa da Volta à Espanha 2004, um contrarrelógio individual, Heras teve um desempenho extraordinário, ao nível dos maiores especialistas da disciplina. O espanhol parecia assim assegurar a sua quarta vitória na prova, mas o controlo antidoping efectuado no final da etapa detectou eritropoietina e o ciclista seria desclassificado. Foi também cliente da rede de doping montada por Fuentes e desmantelada pela “Operação Puerto”.
Com a colaboração de Jesus Manzano, ciclista arrependido, a Guarda Civil espanhola desmantelou no início desta época uma rede de dopagem de larga escala comandada pelo médico espanhol Eufemiano Fuentes cujos “tratamentos” terão sido administrados a 58 ciclistas profissionais, entre os quais alguns dos nomes mais importantes da modalidade até à data, como Jan Ullrich ou Ivan Basso, dois dos nove ciclistas que depois foram impedidos de participar na Volta a França desse ano.
Depois da Operación Puerto, o pelotão do World Tour parecia finalmente limpo e pronto para reconquistar a credibilidade, principalmente na Volta a França. Floyd Landis parecia fora da corrida pela vitória à Geral depois de ter feito uma etapa sofrível nos Alpes, mas no dia seguinte ele “renasceu” e voltava a entrar na luta pelo triunfo na corrida, confirmado dois dias depois quando efectua num bom contrarrelógio. Um esforço épico que afinal terá tido uma ajuda externa: testosterona sintética.
Chamam-lhe "o pai do doping". Lance Armstrong foi tema de conversa durante anos, não só pelo uso de substancias ilícitas, como por doping mecânico. Após anos a desmentir acusações após uma investigação do jornal francês L'Equipe, Lance foi tramado pelos ex colegas de equipa, que o denunciaram e contaram detalhadamente como e quando o americano se dopava em todas as Volta a França que ganhou. Armstrong acabaria por confessar o uso de doping no programa de Oprah Winfrey e teve de devolver os sete títulos que conquistara. Em 2021 um ex chefe da AFA acusaria Lance de ter usado desde 1999 um motor na bicicleta que corria, após analisar e perceber que durante as subidas, sempre que ele metia a mão atrás do selim aumentava de velocidade. Um jornalista francês disse que de acordo com investigações que tinha feito, Armstrong teria pago 2 milhões de dólares a um engenheiro húngaro pela invenção do motor.