Vicente Belda, uma das figuras mais conhecidas do ciclismo espanhol, está de volta à ribalta após a publicação da sua autobiografia, onde aborda o caso de Miguel Ángel López e o escândalo de
doping da Kelme. Um antigo membro da equipa espanhola confidenciou, sob anonimato, ao
CiclismoAtual a utilização generalizada de métodos ilegais e não só.
Na autobriografia, para além de passar em revista toda a sua carreira, aborda os temas mais polémicos do seu passado: Jesus Manzano, Operação Puerto, Nairo Quintana ou o último caso em que esteve envolvido, o de Miguel Angel Lopez e a
Operação Ilex.
Belda afirma que não é culpado de nada daquilo de que tem sido acusado ao longo dos anos e, entre outras coisas, volta a ridicularizar o ex-ciclista Jesús Manzano, que numa série de artigos publicados no
AS em março de 2004 denunciou o doping generalizado no pelotão, algum tempo depois de ter sido despedido da Kelme.
O CiclismoAtual falou com um ex-mecânico da Kelme desses anos quis dar a sua versão, sob anonimato, e que é completamente oposta aos factos, a começar pelas acusações a Manzano de ter "muita droga" na sua posse:
"Quando se ouve o Vicente dizer que o Manzano tinha uma caixa de drogas, isso é mentira, o miúdo não era como ele o pinta". Explica que a versão de Manzano sobre as práticas de doping, alegadamente dirigidas por Vicente Belda e pelo Dr. Eufemiano Fuentes, é totalmente verdadeira: "Posso atestar que o Jesús Manzano não disse nenhuma mentira. Na Kelme estavam todos a dopar-se".
Diz que viu a atividade dos médicos desde o início: "A pré-época estava a ser preparada em Santa Pola, em Alicante, em meados de janeiro, e eu já falava com vários médicos, entre eles Eufemiano [Fuentes], a sua irmã e Walter Virú".
O antigo mecânico da Kelme garante que os ciclistas pagavam os tratamentos anuais de Eufemiano Fuentes: "Antes da Volta a Mallorca, foi movimentado muito dinheiro... cerca de 30.000 euros para a preparação especial anual, se bem me lembro. E note-se, estes tratamentos não eram apenas para os ciclistas da Kelme, mas também para os ciclistas de outras equipas."
Viajar pelos Pirinéus
Para além de mecânico, o nosso entrevistado afirma ter tido outras funções na equipa Kelme: "Meses antes do início da Volta, tive de ir a um aeroporto, alugar um carro sem publicidade e fazer o percurso dos Pirinéus catalães sem entrar em França, com uma geladeira. Sempre em hotéis virados para Espanha. Disseram-me que o importante era não ficar sem gelo na geladeira. O carro não tinha a publicidade da equipa".
Explica que viu o conteúdo dessas alegadas geladeiras: "Vi os sacos de sangue com as iniciais gravadas e uns frascos muito gordos". E aponta para aquele que acredita ser o culpado do que estava a acontecer: "O Vicente (Belda) sempre deixou clara a mesma ideia: não quero ver ninguém na parte de trás do pelotão. Ele foi o arquiteto disso porque coagiu os ciclistas: Não vos vou obrigar a aceitar, mas não quero ver-vos na parte de trás do pelotão. Ele coagiu-os porque, se não o fizessem, no final do ano ficariam sem equipa".
Quanto às alegadas transfusões, afirma tê-las visto num hotel, quando abriu uma porta por engano: "Não me chamaram na Operação Puerto: não chamaram os mecânicos, os massagistas... O Eufemiano não ia para as corridas, eram os massagistas que tinham de fazer esse trabalho".
Conclui falando de algo que costumava acontecer antes de muitas provas de contrarrelógio em que a equipa participava. Afirma que não conhece a substância, mas sabe como se chamava, algo de que Jesús Manzano falava no seu tempo: "Quando havia um contrarrelógio, todos os ciclistas passavam pelo autocarro e injectavam-se com gás bus. Não sei qual era o produto, sei que a alcunha era gas bus".
Estas declarações do antigo assistente mecânico de Kelme surgem em resposta
à entrevista de Vicente Belda ao jornal a Marca, por ocasião da publicação da sua autobiografia.