A implosão de
Juan Ayuso na 6ª etapa da
Volta a Espanha 2025 continua a gerar reações fortes, mas poucas foram tão duras como as de
Thijs Zonneveld. Enquanto alguns comentadores mostraram compreensão pelo jovem espanhol, que já tinha admitido não estar devidamente preparado, o jornalista e ex-ciclista não poupou críticas no podcast neerlandês In De Waaier. Para Zonneveld, as justificações de Ayuso escondem problemas mais profundos, de ordem mental e profissional.
Ayuso só entrou no alinhamento da
UAE Team Emirates - XRG depois da desistência de Tadej Pogacar, mudança que serviu como argumento após a derrocada em Andorra, onde perdeu mais de 12 minutos e caiu irremediavelmente da luta pela classificação geral. "Ele próprio diz que só soube que estava autorizado a correr pouco antes da Vuelta e que não estava devidamente preparado", recordou Zonneveld.
De facto, a equipa esperava a presença de Pogacar até ao último momento, mas, para o analista, isso não desculpa o sucedido. "Sim, provavelmente ele não sabia com tanta antecedência. Mas vá lá. Ele esteve a correr nas últimas semanas que antecederam a Vuelta. Isso não foi mau de todo. O que se viu foi que ele pode ter ficado um pouco aquém quando as coisas estavam a correr muito depressa durante muito tempo".
A atitude em causa
Segundo Zonneveld, o problema vai muito além do calendário competitivo. "É de esperar que um profissional tente ser bom na última parte da época. Nós também sabíamos que ele iria provavelmente participar. Por isso, acho estranho que ele esteja agora a dizer que já sabia que não ia dar certo para a classificação geral. O que é que andou a fazer exatamente nestes últimos dias?"
O neerlandês sublinhou ainda a contradição entre o discurso e o desempenho de Ayuso. Um dia antes, no contrarrelógio por equipas ganho pela UAE, o espanhol mostrara força. "Penso que foi o ciclista mais forte dos Emirates nesse contrarrelógio por equipas", notou.
Esse contraste tornou o colapso em Andorra ainda mais difícil de justificar: "Também esteve bem num curto contrarrelógio de equipa, mas ainda havia sessenta ciclistas no pelotão quando descolou ontem".
A mentalidade sob fogo
Para Zonneveld, a chave está na forma como Ayuso lida com as dificuldades. "Há uma enorme componente mental nisso. Saber: não estou no meu melhor, e só posso atuar quando estou no meu melhor. Muitos atletas são culpados disso".
O analista classificou essa postura como uma mentalidade defeituosa: "Não é possível em muitos desportos, porque as vezes em que se começa e tudo está perfeito não acontecem muitas vezes. Se isso acontecer uma ou duas vezes por ano, é de tirar o chapéu. Todas as outras vezes, há qualquer coisa".
Em resumo, para Zonneveld, esperar pela perfeição não é opção. "O argumento de não ter uma preparação perfeita não é válido. Há sabe-se lá quantos que também não o têm. Provavelmente, Vingegaard não é tão bom nesta Vuelta como foi no Tour".
Rumo à Lidl-Trek?
As críticas do neerlandês não ficaram por aqui. Zonneveld sugeriu que a postura incerta de Ayuso pode estar ligada ao seu futuro fora da equipa da Emirates, com rumores de transferência para a
Lidl-Trek a ganharem força. "Acho que isso tem muito a ver com isso. Compreendo que, por um lado, sintas muita pena de ti próprio e penses: gostava que tivesses começado no próximo ano. Acho que é isso que ele está a sentir. Por outro lado, podemos pensar: 'Vou mostrar a todos aquilo de que sou capaz'. Isso é muito difícil".
Para Zonneveld, a dependência de desculpas revela um problema mais profundo: a dificuldade de Ayuso em adaptar-se quando as condições não são ideais. A quebra em Andorra representa, assim, mais do que um mau dia, é um teste de mentalidade e até de relação com a própria equipa.
A tensão entre Ayuso e a Emirates não é nova, tendo já ficado evidente durante a Volta a França do ano passado, no confronto com João Almeida no Galibier. Agora, com a implosão na Vuelta, a pergunta volta a ganhar força: estará a caminho a separação definitiva? Vote na nossa sondagem abaixo e deixe a sua opinião nos comentários.