Poucos ciclistas no pelotão atual podem dizer que partilharam a estrada, e o autocarro da equipa, com os três campeões que definem esta era.
Finn Fisher-Black, com apenas 23 anos, é um deles. O neozelandês já alinhou ao lado de
Jonas Vingegaard, na Jumbo-Visma, de
Tadej Pogacar, na UAE Team Emirates - XRG, e em 2026 completará o trio ao juntar-se a Remco Evenepoel na Red Bull – BORA – hansgrohe.
Refletindo sobre esta experiência rara, Fisher-Black admite que o impacto inicial de correr ao lado de tais figuras rapidamente deu lugar a uma constatação simples: por detrás de um palmarés lendário, são apenas pessoas normais.
“Corri também com o Jonas, mas isso foi antes de ele explodir, antes de vencer o Tour. Eles são tipos normais, é isso”, contou no
podcast Domestique Hotseat. “Quando jantamos com eles, percebemos que são iguais a qualquer um. Mas vindo da Nova Zelândia e dos juniores, eu só os tinha visto na televisão. Foi um choque enorme de repente estar a correr para eles.”
A vida na sombra de Pogacar
Na UAE, Fisher-Black viveu a realidade de uma equipa recheada de líderes, onde o excesso de talento gerava inevitáveis tensões internas. “Quando o Tadej está numa corrida, só há um chefe, toda a gente sabe disso. Mas é uma estrutura lotada, com vários homens capazes de ganhar uma Grande Volta. É natural que haja momentos de tensão”, explicou.
Ainda assim, o neozelandês ficou impressionado com a forma como Pogacar gere essa pressão. “No ciclismo é quase obrigatório ter uma mentalidade relaxada, porque há sempre imprevistos. O Tadej é brilhante nisso. Adapta-se a qualquer ataque, queda ou situação inesperada. Não tem muitos dias maus e isso explica a sua regularidade.”
Fisher-Black em ação durante os seus dias na Emirates
O peso do estrelato
Para Fisher-Black, Pogacar é cada vez mais do que um ciclista: “Ele está a transcender o desporto. Pessoas que nem seguem ciclismo já sabem quem ele é. No Canadá, bastava entrar num café e era impossível chegar ao balcão sem que o parassem.”
Esse peso da fama pode cansar, admite, mas garante que Pogacar mantém intacto o seu espírito competitivo: “Assim que se dá o tiro de partida, ele adora correr. Isso nunca vai desaparecer.”
Quando questionado sobre se o esloveno já pode ser considerado o melhor de sempre, Fisher-Black não hesita: “Sim, acho que sim. Com 26 anos já fez mais do que muitos conseguem imaginar. Se parasse hoje, já seria o melhor que vimos. Mas acredito que ainda tem muito mais para dar.”
O olhar para o futuro com Evenepoel
O próximo capítulo da carreira de Fisher-Black será na Red Bull – BORA – hansgrohe, onde será companheiro de equipa de Remco Evenepoel. “Não o conheço pessoalmente, mas dentro do pelotão apresenta-se muito bem. Estou entusiasmado para o ter na equipa. Entre ele e o Lipo [Florian Lipowitz], não sei o que vão fazer no próximo Tour, se vão juntos ou com objetivos diferentes. O bloco da geral está a ficar muito preenchido.”
Ainda no início da carreira, Fisher-Black já viveu aquilo que muitos ciclistas não experimentam em toda uma vida: correr ao lado dos maiores da sua geração. Para ele, a lição mais marcante é simples: “São apenas tipos normais. Mas a forma como correm e ganham, isso sim, não tem nada de normal.”