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Volta a França é o maior palco do ciclismo mundial, onde todos os candidatos à geral surgem rodeados de mediatismo e expetativa. No entanto, nem todos carregam o mesmo peso dos holofotes.
Mattias Skjelmose, líder da
Lidl-Trek, encontra-se claramente no extremo mais discreto desse espetro algo que pode, afinal, jogar totalmente a seu favor.
Quinto classificado na Volta a Espanha de 2024, o dinamarquês já demonstrou capacidade para aguentar o ritmo das Grandes Voltas e disputar os lugares cimeiros da classificação geral. Com um perfil versátil, combina uma capacidade sólida no contrarrelógio com acelerações explosivas em montanha e uma consistência invejável. Apoiado por uma estrutura coesa, Skjelmose tem argumentos mais do que suficientes para ambicionar um lugar no top-10 da Volta a França, desde que evite infortúnios.
Ainda assim, a sua abordagem ao Tour foi condicionada por problemas físicos. Um distúrbio gástrico obrigou-o a falhar tanto o Critérium du Dauphiné como a Volta à Suíça, etapas normalmente cruciais na preparação para a Grande Volta francesa. Apesar disso, o regresso à competição no passado domingo não podia ter sido mais animador: vitória na
Andorra MoraBanc Clàssica e sinais claros de que a forma está a emergir no momento certo.
Mattias Skjelmose bateu Tadej Pogacar e Remco Evenepoel na Amstel Gold Race 2025
“Não foi divertido para ele, mas acho que os danos acabarão por ser limitados. Talvez seja uma oportunidade para ele se preparar um pouco na sombra”, comentou o colega de equipa Otto Vergaerde ao
In de Leiderstrui. “Como não teve de correr a toda a velocidade na Volta à Suíça, por exemplo, talvez ainda lhe reste alguma coisa na terceira semana.”
A Lidl-Trek parte para a Volta com ambições repartidas. Jonathan Milan será o principal nome para os sprints e tentará conquistar a camisola verde, enquanto Thibau Nys poderá ter liberdade nos dias de média montanha e nas primeiras etapas acidentadas. Este equilíbrio poderá beneficiar Skjelmose, que, afastado das pressões mediáticas, poderá gerir a sua corrida sem o peso que recai sobre os nomes mais badalados.
A conjugação entre uma preparação atípica e a ausência de grande atenção mediática poderá ser, paradoxalmente, a chave do sucesso. “O Mattias é uma pessoa muito profissional e sabe o que tem de fazer pelo seu trabalho. Ele também teve a sua quota-parte de azar este ano, mas mesmo assim foi um ano muito bom”, concluiu Vergaerde, referindo-se ao vencedor da Amstel Gold Race.
Sem alarido, mas com armas sólidas, Mattias Skjelmose chega à Volta a França como um dos nomes mais perigosos fora do radar. E nas Grandes Voltas, é muitas vezes nesses silêncios que nascem as maiores surpresas.