Primoz Roglic começou a Volta a França 2025 com um pequeno revés desportivo, ao perder 39 segundos para Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard na primeira etapa. No entanto, foi fora da bicicleta que o líder da Red Bull – BORA – hansgrohe provocou maior agitação, graças a uma declaração surpreendente numa
entrevista à ITV Sport, antes mesmo da partida inaugural.
Questionado sobre se este poderia finalmente ser o ano em que conquistaria a tão desejada Camisola Amarela, o esloveno respondeu com uma atitude que não passou despercebida: "Se for honesto, não me interessa, sabe. Imaginar isto ou aquilo... como já disse, quer tenha dez Tours de França, ou uma, ou nenhuma, isso não vai mudar a minha carreira. Ganhei algumas corridas. Estou muito orgulhoso disso. E vamos tentar divertir-nos aqui.”
As palavras de Roglic, proferidas de forma serena e sem dramatismo, foram recebidas com surpresa e até indignação por alguns analistas, nomeadamente o antigo campeão britânico
Adam Blythe. Em
análise para a TNT Sports, Blythe não escondeu a sua perplexidade: “Foi uma declaração e peras. Perguntaram-lhe se achava que podia vencer o Tour e ele disse que não se importava. Para mim, isso é uma bofetada na cara dos seus colegas de equipa. Se ele ontem ficou mal colocado, seja por falta de posição ou o que for, e depois diz ‘
não quero saber’, quase sem tentar, é chocante.”
Blythe foi ainda mais longe na sua crítica, apontando desrespeito pelos esforços coletivos da estrutura da Red Bull – BORA – hansgrohe: “É uma coisa horrível de se dizer. Desrespeita toda a sua equipa, o pessoal que o rodeia. Não quero ser duro com o Primoz, mas foi uma coisa completamente errada de se dizer. Estamos numa corrida para ganhar.”
Por outro lado, vozes dentro do pelotão mostraram maior compreensão para com a atitude de Roglic. Michael Matthews, experiente sprinter australiano com quatro vitórias em etapas no Tour, saiu em defesa do esloveno: “Penso que é uma forma de aliviar a pressão sobre si próprio. Ao dizer que não se importa, talvez esteja só a tentar afastar os holofotes, a dizer: ‘Entrevistem outra pessoa e deixem-me em paz. Vou continuar a fazer a minha cena.’”
Matthews relembrou ainda o historial recente de Roglic na Volta a França, onde não conclui uma edição desde 2020: “Ele é muito calculista. Sabe o que tem de fazer. Mas a verdade é que a sua relação com o Tour não tem sido positiva nos últimos anos. Isso pesa. E depois, no primeiro dia, volta a perder tempo por causa de uma divisão, mais um golpe. Nós só vimos o excerto da entrevista. Talvez tenha sido mais longa e com mais contexto.”
Com uma atitude aparentemente indiferente às expetativas externas, Roglic tenta agora reencontrar o foco e limitar os danos após o arranque complicado. A resposta nas próximas etapas será decisiva, tanto para as suas ambições na geral como para dissipar dúvidas sobre o seu real compromisso com o objetivo máximo: conquistar, finalmente, a Volta a França.