Principais ausências da Volta a França 2024!

Ciclismo
sexta-feira, 28 junho 2024 a 9:00
chrisfroome
A Volta a França de 2024 será uma edição especial, com a Grande Partida em Florença e Emilia-Romagna, em Itália, e, pela primeira vez em muitos anos, uma final longe de Paris, com os ciclistas a rumarem a Nice para o final da corrida. A prova terá lugar de 29 de junho a 21 de julho e vamos ter os maiores nomes do ciclismo frente a frente. No entanto, também há a registar várias ausências importantes de grandes nomes do ciclismo internacional.

Chris Froome

O primeiro grande destaque vai para Chris Froome. Um dos ciclistas mais conceituados dos últimos 10 anos, o britânico é o corredor em atividade com o maior número de Camisolas Amarelas na sua vitrine de troféus. Foi o grande vencedor das edições de 2013, 2015, 2016 e 2017 tendo vencido também a Volta a Espanha em 2011 e 2017 bem como a Volta a Itália em 2018 e marcou toda uma geração de domínio da Team Sky (atualmente INEOS Grenadiers) em que a equipa dominava as corridas a seu bel-prazer e controlava o pelotão como nem nos dias de hoje se vê, um comboio que trabalhasse ao serviço de Froome sufocava o pelotão de tal forma que desencorajava qualquer tentativa de ataques que os seus adversários tencionassem fazer e Froome muitas vezes só tinha que dar a estocada final para garantir a Camisola Amarela. Se isso não resultasse tinha uma segunda arma ao seu serviço que era o facto de além de ser um trepador de excelência, era também um excelente contrarrelogista.
Froome, agora com 39 anos, começou a sua decadência com uma queda no reconhecimento de uma etapa do Criterium do Dauphine de 2019 que segundo o mesmo "podia ter acabado a carreira de muita gente" e o fez perder o resto da época. Entretanto em 2020 entrou no seu último ano de contrato com a INEOS Grenadiers mas nunca conseguiu voltar a atingir o mesmo nível competitivo de outrora e a formação britânica acabou por não lhe renovar o contrato tendo numa altura em que apostava em novos lideres como Egan Bernal ou Geraint Thomas.
Último pódio de Chris Froome no Tour 2018, vencido por Geraint Thomas
Último pódio de Chris Froome no Tour 2018, vencido por Geraint Thomas
Em 2022 Froome decidiu abraçar um novo projeto e vestiu as cores da Israel - Premier Tech mas novamente não conseguiu obter nenhum resultado digno de menção, diria que o ponto alto do ano dele foi um 3º lugar numa etapa da Volta à França com chegada ao Alpe D'Huez que vocês provavelmente recordarão mais pela vitória de Tom Pidcock onde se mostrou ao mundo do ciclismo como um excelente trepador mas ainda mais do que isso, um descedor a um nível muito acima do restante pelotão (ainda hoje se vê muitas vezes na televisão imagens da icónica descida de Tom Pidcock no Col du Galibier).
Em 2023, Froome ficou fora do alinhamento da Israel para a Volta a França por opção e a sua esperança era que em 2024 as coisas fossem diferentes tal como noticiamos recentemente. Chegou-se a falar que haveria um conflito interno entre Froome e Michael Woods e que por esse motivo o britânico não foi selecionado para a Grand Boucle em 2023, algo que ele desmentiu imediatamente. Aos 39 anos esta poderá muito bem ter sido a última oportunidade de Froome fazer a sua despedida do Tour mesmo tendo ainda mais um ano de contrato com a formação israelita.

Tao Geoghegan Hart

Mais um ciclista britânico na lista de principais ausências, e mais um ciclista que tem sido assombrado por lesões.
Mesmo não sendo um dos trepadores de maior renome dentro do pelotão internacional, é um facto que estamos perante o último britânico vencedor de uma Grande Volta depois de ter arrebatado a Camisola Rosa no Giro de 2020 (sim no Giro em que João Almeida foi líder durante 15 etapas).
Depois de algumas épocas menos conseguidas o britânico deu sinais muito fortes na Volta a Itália de 2023 onde partilhava a co-liderança com Geraint Thomas, que terminou a apenas 14 segundos do vencedor Primoz Roglic. Geoghegan Hart durante o tempo que competiu deu ar de estar mais forte que Thomas nas subidas e fez também um soberbo contrarrelógio de 35km onde perdeu apenas 2 segundos para o vencedor do dia Remco Evenepoel. Se tivesse mantido a boa forma era um sério candidato à vitória final mas infelizmente para ele terminou a corrida antes da hora na etapa 11 por via de uma queda feia onde fraturou a anca numa altura em que era 3º classificado na geral a 5 segundos precisamente do seu companheiro Geraint Thomas.
Em 2024, o trepador britânico de 29 anos teve dificuldade em voltar a ser competitivo na estrada e quando se pensava que estava a dar sinais de melhoria foi vítima da recente queda coletiva no Criterium du Dauphine que obrigou à neutralização da etapa e também testou positivo ao Covid-19 posteriormente, o que deitou abaixo por completo todo o planeamento que estava feito para a sua época.

Nairo Quintana

Mais um nome histórico do ciclismo. Se se recorda de Chris Froome certamente tambem se recordará de Nairo Quintana e da rivalidade que ambos tiveram durante anos na Volta a França. Talvez por ambos terem saltado para a ribalta em alturas semelhantes. Chris Froome venceu o seu primeiro Tour em 2013, ano em que Quintana se estreou no Tour e logo com um 2º lugar na geral e vitória nas classificações da montanha e da juventude.
O trepador colombiano, agora de 34 anos, rapidamente deu o salto para o topo do mundo do ciclismo e em 2014 ganhou a sua primeira Grande Volta num controverso Giro onde houve uma polémica neutralização na descida do Passo dello Stelvio. Polémica porquê? Porque aparentemente nem todos os ciclistas foram devidamente informados da ocorrência e Nairo Quintana acabou beneficiado em 3 minutos porque não fez a descida do Stelvio atrás dos carros da organização e acabou por tirar a liderança ao seu compatriota Rigoberto Uran.
Na Volta a França, Quintana tentou por várias vezes bater Chris Froome mas bater-se contra um Froome sempre sólido nas montanhas apoiado por uma super-equipa e tendo também a vantagem no contrarrelógio acabou por nunca dar resultado tendo o colombiano terminado no pódio final mais duas vezes (2015 e 2016). Quintana eventualmente obteve a sua desforra mas em terras espanholas com a vitória sobre Chris Froome na geral da Vuelta de 2016, este foi provavelmente o maior marco da sua carreira numa altura em que Froome tentou fazer a dobradinha Tour-Vuelta (algo que viria a conseguir no ano seguinte).
Nairo Quintana terminou a etapa 15 do Giro a 29 segundos do vencedor Tadej Pogacar. Todos os restantes adversários terminaram a mais de 2m30s
Nairo Quintana terminou a etapa 15 do Giro a 29 segundos do vencedor Tadej Pogacar. Todos os restantes adversários terminaram a mais de 2m30s
Os melhores anos de Quintana já estão para trás. Teve pelo meio um periodo de 3 anos fora da sua Movistar Team quando se juntou aos franceses da Team Arkea Samsic entre 2020 e 2022. Em 2022, Quintana conseguiu levar as cores da modesta equipa francesa ao Top 10 do Tour terminando a corrida em 6º lugar mas sendo posteriormente desclassificado por ter violado as regras da UCI relativas ao consumo de Tramadol, algo que o colombiano nega até aos dias de hoje. Quintana acabou suspenso e a imprensa colombiana falou que seria o fim da carreira do colombiano mas Nairo queria mais e após um ano completo sem corridas regressou à estrada em 2024 com o intuito de limpar a sua imagem.
Quintana tinha planeado como grande objetivo do ano a Volta a Itália mas a má preparação por motivos de saúde durante o mês de março viu o colombiano chegar ao Giro com uma paragem de quase 2 meses de competição e a sua forma viu-se logo desde o início que não era a ideal. O seu foco virou-se rapidamente para tentar uma vitória de etapa na última semana da corrida e esteve bem perto de o conseguir logo na etapa raínha com chegada a Livigno mas um brilhante Tadej Pogacar decidiu atacar a corrida e dar um duro golpe a toda a concorrência da classificação geral num dia em que tira praticamente 3 minutos a todos os seus principais adversários diretos.
Depois de acabada a Volta a Itália chegou a considerar-se a hipótese do Tour mas tal não vai acontecer porque Quintana sofreu uma fratura na mão enquanto disputava a Volta à Suiça numa altura tão próxima da Grand Boucle simplesmente já não havia tempo suficiente para uma recuperação física total.

Sepp Kuss

O primeiro dos ciclistas que não seria em teoria um líder dentro da sua equipa mas ainda assim seria um ciclista com uma importância fundamental dentro da Team Visma | Lease a Bike. Sepp Kuss foi uma peça chave para as duas vitórias de Jonas Vingegaard na Volta a França de 2022 e 2023 bem como as quatro vitórias do então companheiro de equipa Primoz Roglic, 3 na Volta a Espanha (2019, 2020 e 2021) e uma na Volta a Itália (2023). Alem disso Sepp Kuss fez história ele próprio quando se sagrou vencedor da Volta a Espanha em 2023 numa edição em que a equipa da Visma conseguiu ocupar os três lugares do pódio final e com isto assegurou a conquista de todas as Grandes Voltas de 2023, feito nunca antes alcançado por uma equipa num só ano.
Ainda no meio de todas as dúvidas que há em torno da forma de Jonas Vingegaard à partida desta Volta a França, Sepp Kuss (bem como o seu compatriota Matteo Jorgenson) era visto como um plano B da Team Visma | Lease a Bike para a classificação geral mas tal plano vai ter de esperar pois à semelhança de Tao Geoghegan Hart o americano também foi vítima de uma infeção de Covid-19. Um duro golpe para a Visma que realmente tem tido um ano para esquecer no que diz respeito à condição física dos seus atletas com vários ciclistas a falharem os seus principais objetivos da época.

Julian Alaphilippe

O super-combativo da Volta a Itália deste ano. O ex-campeão do mundo por duas ocasiões está no seu último ano de contrato com a Soudal - Quickstep mas parece que Julian está de volta ao seu melhor. Haviam muitas dúvidas em relação à capacidade do francês ainda ser aquele ciclista explosivo que batia toda a concorrência em etapas mais acidentadas e com perfil de clássicas de um dia mas todas as dúvidas foram dissipadas neste Giro onde ele foi sem dúvida um dos principais protagonistas e levou até o próprio chefe de equipa Patrick Lefevere a engolir as suas próprias palavras quando criticava publicamente a postura de Alaphilippe.
O histórico de Alaphilippe é inegável e sendo ele uma das principais referências do ciclismo francês havia bastante pressão para que depois de uma incrível Volta a Itália o francês fosse chamado. A pressão veio de todos os lados, inclusive do próprio ciclista em torno de quem a Soudal - Quickstep está a construir a sua equipa para o Tour - Remco Evenepoel.
Julian Alaphilippe venceu a solo a emocionante etapa 12 da Volta a Itália após 136km em fuga
Julian Alaphilippe venceu a solo a emocionante etapa 12 da Volta a Itália após 136km em fuga
Segundo Lefevere, a opção da equipa com a não seleção de Julian Alaphilippe prende-se com o facto de o foco dele estar nos próximos Jogos Olímpicos no início de agosto. Se isto é verdade ou não nunca saberemos mas o que sabemos é que a relação entre Lefevere e Alaphilippe nunca foi pacífica foi o chefe de equipa a ter vindo a público várias vezes criticar o estilo de vida de Lefevere e alegando que desde que o francês renovou contrato em 2022 nunca justificou o elevado ordenado de que auferia. Entre outros casos polémicos tambem houveram acusações à mulher de Alaphilippe por alegadamente o estar a levar por maus caminhos e o primo Franck Alaphilippe que abandonou a equipa no final de 2023 depois de não ter visto o seu contrato ser renovado.
Além destes mediáticos ciclistas teremos também de fora outras estrelas tais como os vencedores de etapas no ano passado Jordi Meeus, Kasper Asgreen e Michael Woods bem como o protagonista do momento mais caricato do Tour 2023 Benoît Cosnefroy quando parou a meio de uma etapa para festejar com um grupo de adeptos que o rodearam e acabou a partilhar uma cerveja com eles e também o antigo Camisola Rosa no Giro de 2023 Andreas Leknessund ou então dois ciclistas que venceram etapas ao sprint no Giro deste ano mas tinham esperança de serem chamados ao Tour como são Tim Merlier e Olav Kooij.
Dentro do lote dos lesionados temos um Dylan van Baarle, um Steven Kruisjwijk ou um Lennard Kämna que seriam todos úteis aos seus líderes de equipa mas os homens da Visma foram vítimas de uma brutal queda coletiva no Criterium du Dauphine e o homem da Red Bull - BORA está lesionado desde o mês de abril após um acidente num treino.
Só para terminar, deixo uma menção especial também a Brandon McNulty que é um dos trepadores da Emirates que acompanha Tadej Pogacar há mais tempo tendo sido peça chave na sua vitória no Tour de 2021 e não fosse a tremenda qualidade da UAE Team Emirates, teria mais do que condições para ser chamado ao serviço.
Mas como diz o velho ditado "Só contam os que cá estão", e temos um verdadeiro elenco de luxo para o arranque da Grand Boucle no próximo sábado. Que comece o espetáculo!

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