“Receei de que a minha carreira pudesse ter acabado”: Remco Evenepoel revela impacto psicológico da lesão

Remco Evenepoel encarou este período de pausa com um único desejo: passar o inverno sem contratempos. No ano passado, o belga viu a sua preparação comprometida por um acidente enquanto treinava, ao ter um acidente que envolveu uma carrinha dos correios, episódio que representou a terceira lesão grave da sua carreira, depois da queda traumática na Il Lombardia 2020 e da queda coletiva na Volta ao País Basco 2024. Este último acidente deixou cicatrizes profundas, com o corredor a admitir ter regressado de um “lugar escuro” durante o inverno.

“Inicialmente, tive receio de que a minha carreira pudesse ter acabado devido ao impacto físico nos músculos e nos tendões do ombro direito”, revelou no podcast Café Koers.

“Isso revelou-se infundado, mas a queda teve também impacto mental. Estava profundamente em baixo na altura. Ter de fazer reabilitação no inverno, com dias escuros e poucas horas de luz, não me deixava feliz. Estava deprimido? É difícil dizermos isso de nós próprios, mas talvez, de forma subconsciente estivesse.”

“Passei dias inteiros sentado no sofá e, sempre que alguém ligava ou enviava mensagens, sentia que me estavam a incomodar ou a intrometer-se em coisas que não lhes diziam respeito. Como resposta, comecei a isolar-me. Até responder a uma mensagem parecia pedir demais. Felizmente, quando pude voltar a sair, caminhar e fazer exercício, essa sensação desapareceu rapidamente.”

Apesar do arranque tardio, Evenepoel conseguiu reconquistar o estatuto de melhor especialista mundial em contrarrelógio. Somou vitórias dominantes tanto no Campeonato do Mundo em Kigali como, uma semana depois, no Campeonato da Europa em Ardèche. Terminou invicto em contrarrelógios puros ao longo de 2025, sustentando o seu domínio numa disciplina onde a potência e a eficiência aerodinâmica são decisivas.

Ainda assim, reconhece que as sequelas da lesão continuam presentes tanto em corrida como no quotidiano.

“Continuo a ter dificuldade em levantar coisas pesadas com a mão direita. Levantar uma mala ou tirá-la do tapete no aeroporto tem agora de ser sempre com a esquerda. Até tirar barras ou géis do bolso traseiro do jersey só é possível com a esquerda. Felizmente sou canhoto.”

Para 2026, Evenepoel tomou uma decisão significativa: abandonar a Soudal – Quick-Step e reforçar a ambiciosa Red Bull – BORA – hansgrohe. Apesar de ter ainda contrato válido por uma temporada com a estrutura belga, foi alcançado um acordo entre as partes que permitiu a sua integração imediata na nova equipa.

“No team building, tivemos de trocar um pneu de um carro o mais rápido possível e concluir com sucesso uma prova cega de sabores Red Bull. O meu alemão ainda precisa de ser trabalhado. Felizmente, a língua principal é o inglês”, afirmou em tom descontraído.

Os objetivos desportivos para a próxima época já estão claros. Evenepoel acredita que a Amstel Gold Race poderá ser a sua melhor oportunidade para bater Tadej Pogacar, com quem tem contas por ajustar depois de o esloveno o ter batido nas duas provas em linha dos Campeonatos do Mundo e da Europa, e na Il Lombardia.

“Acredito que devo ser capaz de bater o Pogacar na Liège, desde que esteja em muito boa forma”, acrescentou. “Em qualquer caso, não tenciono evitar o Pogacar em 2026. Não vou adaptar o meu calendário ao dele.”

Com 25 anos, um novo ambiente competitivo e a ambição intacta, Evenepoel entra em 2026 determinado a provar que é capaz de enfrentar os melhores, sem abdicar da identidade agressiva que o caracteriza, mas esperando, acima de tudo, que o inverno lhe permita chegar lá sem mais interrupções.