À medida que nos aproximamos da edição de 2025 da
Paris-Roubaix, não há melhor momento para recordar algumas das páginas mais épicas da história desta que é, fora das Grandes Voltas, a corrida mais aguardada pelos adeptos de ciclismo.
Talvez porque... eles não tenham de pedalar nos paralelos.
Conhecida como “O Inferno do Norte”, a Paris-Roubaix é a mais brutal das clássicas. Uma prova onde o sofrimento se entranha nos ossos e as glórias se cravam na eternidade. Das quedas violentas aos finais dramáticos, aqui ficam seis das edições mais memoráveis – e lições que talvez possamos levar para o duelo que se aproxima.
1968 – Eddy Merckx mostra-se ao mundo
Com apenas 22 anos, Merckx enfrentou Herman Van Springel e venceu uma edição marcada por condições terríveis. Ao serviço da Faema, o belga brilhou não apenas pela técnica nos pavês, mas sobretudo pela resistência sobre-humana. No final, derrotou Van Springel ao sprint no velódromo e iniciou aqui o percurso que o levaria a três vitórias nesta clássica – e à conquista do seu primeiro Giro nesse mesmo ano.
1985 – Madiot na lama, no caos e na glória
A edição de 1985 foi uma das mais infernais de sempre. A chuva e o vento transformaram a corrida numa autêntica batalha de sobrevivência.
Marc Madiot, no meio do caos, lançou um ataque decisivo a menos de 30 km da meta e resistiu até ao fim. Com lama a cobrir ciclistas e bicicletas, e os adeptos em delírio na berma da estrada, o francês escreveu o seu nome na história de forma indelével.
1994 – Tchmil e a arte da imprevisibilidade
Poucos contavam com Andrei Tchmil, mas o moldavo surpreendeu tudo e todos com um ataque a 60 km do final. Os favoritos hesitaram, o grupo perseguidor desorganizou-se e Tchmil foi construindo a sua epopeia, sozinho, até entrar vitorioso no velódromo de Roubaix. Uma lição de coragem e tenacidade – e uma das vitórias mais improváveis da história moderna da prova.
2001 – Knaven e a obra-prima da Domo-Farm Frites
Se 1994 foi a vitória do improvável, 2001 foi a vitória da perfeição colectiva. A Domo-Farm Frites colocou quatro ciclistas nos cinco primeiros lugares, com Knaven a concluir um solo brilhante iniciado cedo, apoiado por um bloqueio tático irrepreensível dos colegas Museeuw e Vainšteins. Um verdadeiro manual de como dominar uma clássica com estratégia e trabalho de equipa.
2016 – Hayman, o herói improvável
A história de Mathew Hayman é das mais emocionantes do ciclismo moderno. A recuperar de uma fratura, treinou no Zwift, regressou in extremis e venceu a corrida da sua vida com um sprint inesquecível frente a Tom Boonen. O australiano, então com 37 anos, transformou-se num símbolo da resiliência e do espírito Roubaix. “Isto é um sonho”, disse ele, banhado em lágrimas e lama.
2021 – Colbrelli e a chuva da redenção
Depois de um interregno de 903 dias por causa da pandemia, Roubaix regressou com chuva torrencial.
Sonny Colbrelli, estreante na corrida, adaptou-se como se fosse um veterano e bateu Vermeersch e Van der Poel no sprint do velódromo. Coberto de lama, caiu no chão emocionado. Meses depois, a sua carreira seria interrompida por problemas cardíacos, tornando esta vitória ainda mais marcante.
Em 2025,
Tadej Pogacar estreia-se em Roubaix. Do outro lado estará
Mathieu van der Poel, bicampeão em título. Ao lado deles, nomes como Pedersen, Van Aert, Ganna, Philipsen ou Kung prometem elevar a fasquia.
Cada edição de Roubaix tem a sua história – de Merckx a Hayman, de Tchmil a Colbrelli. Domingo, saberemos quem será o próximo nome a eternizar-se no Velódromo de Roubaix.